Como num seriado de pouca categoria, desses bem repetitivos, voltamos a acompanhar, nos últimos dias, cenas que, volta e meia, transformam grande parte da população do Brasil em protagonistas de dramas com final previsível e deixam outros em estado de permanente suspense.
Quantas vezes você já viu dezenas de mortos e de famílias desabrigadas porque o deslizamento da encosta de um morro, ou a água do rio que transborda em bairros sem saneamento derrubam casas, arrastam automóveis, ônibus e gente? O capítulo deste ano acabou como sempre: governos correndo a executar programas de emergência para garantir, pelo menos, abrigo e assistência provisória para as vítimas. Na próxima temporada de chuvas tem mais…do mesmo. Você duvida?
Quantas vezes você já viu, leu, ou ouviu notícias de duelos das forças de segurança com a bandidagem do crime organizado (e nem tanto) nas cidades Brasil afora? No capítulo mais recente desse enredo, tivemos dois roteiros distintos. Em um deles, num cenário mais sofisticado – com locações em chácaras, apartamentos e carros de luxo – os mocinhos derrotaram os bandidos que pretendiam sequestrar e matar autoridades.
No outro, mais popular e próximo da realidade nacional, os fora da lei infernizaram, durante duas semanas, cidades inteiras atacando prédios públicos e privados, incendiando carros e ônibus, impedindo o povo até de ir trabalhar por falta de transporte. Quase 200 foram presos. Parece que deram uma trégua. Nesse duelo, a repetição é imprevisível. Mas, já, já tem mais, também…
Mas por que não escapamos desse chato e triste repeteco? Porque, no Estúdio Brasil, falta o setor que pense Politicamente (assim mesmo com P) o roteiro para a produção de uma Nação grande, forte, desenvolvida, onde todos nós, espectadores, nos sintamos um pouco protagonistas e não meros figurantes, um dia aplaudindo, na maioria vaiando e sempre pagando para ver essa triste repetição de tragédias.
Veja só: o Brasil tem 33 partidos políticos registrados no TSE. Na Câmara dos Deputados, 21 deles tem representação. No Senado, temos outras 15 bancadas. Você acha exagerado esse número de legendas? Outro dado: no Congresso Nacional funcionam mais de 300 frentes parlamentares. Tem para todos os gostos, desde a Frente em Apoio ao Bambu (deve ter muito brasileiro precisando de flecha…), a Frente Parlamentar do Alho, passando pela Frente Parlamentar Mista da Beleza e do Bem-Estar, até a Frente Parlamentar pela Causa da Psoríase e Artrite Psoriásica…
Com tantos interesses representados no Congresso Nacional e com essa quantidade de legendas, é quase impossível fazer uma agenda de Estado, de Nação, prevalecer sobre essa agenda identitária, setorial e regional que empurra para baixo do tapete os grandes problemas nacionais e gasta tempo, inteligência e dinheiro com questões que interessam só a determinados grupos.
Enquanto nossos partidos não deixarem se ser agrupamentos de gente em defesa de interesses privados para serem organizações criadoras de rumo para a Nação, vamos seguir nos repetindo.
E olha! Não se surpreenda se, em 2026, assistirmos, outra vez, a disputa polarizada pela Presidência da República que vimos em 2018 e em 2022. Afinal, que outra facção política, além do PT e da extrema direita se mostra capaz de criar um projeto de Nação e apresentar um nome para gerir tal projeto? E olha que 57% dos brasileiros querem uma terceira via, mas não reconheceram competência em nenhum dos nove candidatos que disputaram com Lula e Bolsonaro.