Falar sobre as enganações praticadas pelas indústrias do setor de alimentos e sobre a importância de comermos alimentos de verdade já é coisa batida, mas eu me achava esclarecido e quando pesquisei sobre o assunto, descobri minha ignorância em muitos aspectos. Estamos vivendo uma epidemia de doenças crônicas que estão diretamente relacionadas com os alimentos ultraprocessados, que hoje já são considerados tão nocivos quanto o tabaco.
Qualquer pessoa minimamente esclarecida sabe que estes alimentos provocam obesidade, hipertensão, doenças cardiovasculares, gastrointestinais, câncer e a morte prematura. E por que continuamos comendo? Porque é muito fácil, rápido e barato jogar água quente num macarrão e ele ficar pronto na hora. Quem nunca usou um tablete de caldo de galinha, um sachê de massa de tomate, uma lata de milho, provou um salgadinho, uma bolachinha de pacote, sorvete, iogurtes, barra de cereais, pizza pré-pronta, sobremesas instantâneas, congelados etc., tudo isto está presente nas nossas cozinhas e faz parte do que comemos fora de casa. E os refrigerantes, sucos e chás que tomamos? Cerca de um terço do açúcar está nos alimentos líquidos, mesmo os que parecem saudáveis. Suco orgânico também tem açúcar!
Nos acostumamos com a ideia de que temos pouco tempo para nos alimentarmos e que precisamos fazer isto de forma prática e barata. O que não percebemos que isto é uma forma eficiente de provocar danos imediatos ou a médio prazo para a nossa saúde. A economia de tempo e dinheiro se transformará em breve em altos custos com medicamentos e perda de qualidade de vida por doenças e sintomas que reduzem também a nossa produtividade. Então, faz sentido esta economia?
Não estou falando de alimentos orgânicos, de dietas vegetarianas, veganas ou outras formas de se alimentar. Quero apenas diferenciar alimentos de verdade (naturais), dos processados e ultraprocessados. Como diferenciar? É simples, uma espiga de milho é um alimento in natura, se vier numa lata, será processado, e se for consumido como salgadinho de milho, será ultraprocessado.
Os alimentos ultraprocessados são aqueles que possuem saborizantes, realçadores de sabor, corantes, emulsificantes, sais de fusão, adoçantes, espessantes, antiespumantes, carbonatantes, gelificantes etc. Eles são ricos em açúcar, gordura não saudáveis e sal, e pobres em fibras dietéticas, proteínas, vitaminas e minerais. Eles são produzidos usando aditivos cosméticos para tornar os produtos “hiperpalatáveis”, o que significa fazer a gente comer e se viciar em algo que não fosse esta maquiagem, não comeríamos. Importante lembrar que a natureza não mistura açúcar com gordura, a gordura está no abacate e o açúcar em outras frutas. Nós que gostamos de fazer esta mistura danosa.
O setor de alimentos é dominado por dez corporações transnacionais que são responsáveis pela maioria dos produtos que compramos. Estima-se que, só no Brasil, elas faturam mais de 700 bilhões por ano. Não é à toa que estas corporações influenciam as políticas públicas e os hábitos de consumo de todos nós. O mais repugnante é ver que elas focam nas crianças, suas vítimas mais fáceis de serem capturadas. Elas enganam as pessoas, vendem produtos que causam enormes danos para a sua saúde e dizem estar preocupadas com a saúde dos seus consumidores. As Big Foods, como são conhecidas, financiam pesquisas, não para tornar seus produtos mais saudáveis, mas para tirar o foco dos ultraprocessados. Tentam mostrar que o problema da obesidade é a falta de atividade física. Fazem lobbies com os profissionais da saúde, junto ao legislativo e executivo. Além disto, ainda são beneficiados com subsídios fiscais.
O que podemos fazer? Em primeiro lugar este mercado precisa ser mais bem regulado, não podemos continuar aceitando que venda de produtos que matam sejam apresentados como saudáveis. No nosso dia a dia, podemos usar a versão gratuita de aplicativos como o Desrotulando e o Open Food Facts que permitem que o consumidor aponte a câmera do seu celular para o rótulo do produto e saiba, numa escala, o nível de açúcar, sal, gorduras, aditivos, fibras e se é ultraprocessado. Além disto, deixo aqui o link do “Guia Alimentar para a População Brasileira”, que é considerado um dos melhores do mundo. Ele é livro bem completo que pode ser usado para consulta sobre a combinação de alimentos, quantidades ingeridas e a forma de prepará-los para que contribuam para uma boa saúde e o bem-estar. Fica a dica: se você não conhece algum ingrediente que consta no rótulo, não coma! Ou pelo menos evite comer com frequência.
Fontes:
– Big Food: o poder das indústrias de ultraprocessados
– Documentário BBC: Com o que estamos alimentando nossos filhos?