O espaço de disputa na arena das políticas climáticas não é para amadores. Talvez esteja nesse ponto um dos inúmeros desafios. Mesmo como profissional, o desafio é gigantesco.
Esta semana e a próxima, entre 15 e 31 de maio de 2023, acontecerão mais sete oficinas temáticas do processo de construção do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) de Porto Alegre.
Entre as inúmeras questões e desafios da construção de um plano diretor dessa espessura, que está longe de ser trivial, a deliberação e a diversidade de pessoas nos processos de decisão estão entre os pontos críticos.
Não é fácil participar (imagine fazer parte efetiva dos processos de deliberação) ativamente dos espaços políticos nos quais as disputas pela definição sobre o modo de habitar um território passam necessariamente pelos grupos de poder econômico. E mais, também passam por ilusões de progresso urbano, uma série de imaginários coletivos e pelo próprio ranço histórico economicista.
Além de complexo é difícil. Disputar os espaços é: estar presente nessas arenas e decidir sobre as pautas críticas que impactam nosso cotidiano.
Já questionei aqui sobre a banalidade do mal climático que se impõe sobre a maioria das pessoas e coletivos de uma metrópole. Talvez seja uma questão geográfica, pois a cidade é extensa demais para um único individuo conhecer a realidade local de cada canto de uma cidade. Quiçá seja uma questão ideológica, pois o poder de manipulação da massa (leia aqui) é mais eficiente do que a capacidade de salvar algumas almas da Matrix. A maioria das pessoas não sabe ou não deseja participar desses espaços políticos.
Em janeiro desde ano, Barcelos explicou as razões de ser contra os arranha-céus em Porto Alegre (leia aqui). Após a primeira rodada dessa etapa do PDDUA, em especial no âmbito da discussão sobre o eixo ambiental, estou convicto que como cidadão sou contra os projetos de arranha-águas que estão invadindo o Guaíba. De projetos imobiliários gigantes às margens dele até megaprojetos offshore, já em discussão, sobre parques eólicos nas áreas aquáticas municipais, como no Guaíba, e em toda a extensão da costa marítima do Rio Grande do Sul.
Além dos arranha-céus, atualmente está em emergência os arranha-águas: parques eólicos e outras infraestruturas aquáticas. É necessário ter um olhar multinível, ou seja, monitorar e interferir nas três esferas: municipal, estadual e federal. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) existem vários complexos eólicos previstos para serem licenciados não só na costa do Rio Grande do Sul como avanços dessas megainfraestruturas sobre lagos e rios “vazios”, como o Guaíba em Porto Alegre. Pergunta: como nos posicionarmos como cidadãos?
Post scriptum: Em 15 de maio de 2023, participei da primeira reunião de mais uma etapa do PDDUA-POA. Início da reunião: 18:30h. Número de inscritos fisicamente: 6 (seis). Número de palestrantes no painel de especialistas: 1 (um). Me questiono se esse é processo democrático ou, ao anverso, um processo de precarização do pensamento crítico.
Leitura para pegar o bonde em Porto Alegre:
Na esfera municipal: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA). Veja aqui.
Na esfera estadual: “Porto do Rio Grande e a Lagoa dos Patos seriam alternativas viáveis para novos empreendimentos”, segundo o atual Governo do RS. Veja aqui.
Na esfera federal: “Mapas de projetos em licenciamento – Complexos Eólicos Offshore”. Veja aqui.
Foto da Capa: Pixabay