Se você leu a crônica da semana passada, já deve saber do que se trata. Se não leu não tem problema, em breves palavras eu te explico. Vou falar sobre bichos, mais especificamente sobre os bichinhos que já passaram por nossa vida. Então, mergulha comigo neste aquário que começamos a série pelo Brigão, o peixinho betta azul.
Nunca imaginei que ter um peixe em um pequeno aquário no inverno gaúcho fosse me demandar tanto. Coisa que também nunca imaginei foi que uma bolsa de água quente salvaria nosso peixinho.
Um dia, depois da escola, ao entrarmos em casa ouço meu filho gritar: mãe o Brigão não se mexe! O peixinho, que era azul com raias vermelhas, estava pálido. Pálido não, ele parecia uma pedra de gelo. Esbranquiçado e transparente, o pobrezinho estava praticamente boiando de lado, mas ainda tinha algum movimento. A criança começou a chorar e eu corri para a cozinha. A única coisa que me ocorreu foi esquentar água.
Naqueles poucos minutos enquanto esperava as primeiras borbulhas surgirem na chaleira lembrei-me da bolsa de água que tínhamos no armário do banheiro e me apressei em apanhá-la. Pensei que seria uma opção melhor do que despejar a água quente diretamente no aquário do Brigão e correr o risco de acabar de vez com a vida do bichinho. Por um instante imaginei a cena dele passando de pedra de gelo à peixinho cozido caso eu provocasse uma mudanças brusca na temperatura da água. Sim, a boa e velha bolsa de água quente seria a melhor opção. Dito e feito. Enchi a bolsa, coloquei a capa de tecido e encostei ela no vidro. Eu e meu filho de olhos postos no pequeno aquário. Pouco a pouco, Brigão começou a se mexer novamente e retomou a posição vertical que um peixe tem que estar. A coloração azul foi voltando devagarinho e por último os tons avermelhados da cauda. O menino parou de chorar e a mãe respirou aliviada. Só estávamos com ele há uma semana. Muito cedo para passar para a constelação dos bichinhos que morrem e viram estrelinha.
A partir deste dia, a minha rotina da casa incluía manter a bolsa com água quente encostada no vidro. O dia da troca da água do aquário envolvia uma operação complexa. Água morna pra cá, peixinho na peneira pra lá, mescla daqui, mistura acolá, lava as pedrinhas, limpa o vidro, coloca o peixinho e mantém a bolsinha quentinha. Inverno seguia e o peixinho vivia feliz na sua minipiscina aquecida. Era seu paraíso particular.
Um dia toca a campainha. Chega o avô do meu filho com um saquinho na mão. Dentro dele havia uns dez peixes mínimos de cores variadas. Não consegui impedir que ele virasse o saquinho pra dentro do aquário. Foi tudo muito rápido.
Bastou os peixinhos começaram a nadar e Brigão partiu pro ataque. De saída matou dois. Menino começou a chorar. O avô não sabia o que fazer. Eu fui para a cozinha colocar a chaleira no fogo. Um pouco da água foi pra bolsa de água quente, o restante para a térmica. Enquanto tomava o chimarrão decidi falar sobre o futuro que nos aguardava. Os betta são animais territoriais e se tornam agressivos com outros peixes, por isso ele vivia sozinho.
Muito provavelmente ao acordar na manhã seguinte Brigão teria recuperado seu território. Aproveitei para relembrar o porquê tínhamos escolhido aquele nome. Neste episódio descobrimos que os betta também podem mudar de cor quando estão com raiva. Ele ficou tão branco, ou mais, do que esteve na sua própria pré-morte.
Os peixinhos coloridos pequeninos morreram, uma a um. Limpei o aquário, lavei a pedrinhas e tudo voltou ao normal.
Com o fim do inverno a bolsa de água voltou para o armário. Brigão durou mais algum tempo, mas não chegou à estação fria do ano seguinte.
Foi então que chegou Pintado, o passarinho que miava, mas essa história fica para a semana que vem.
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