Muitos me perguntam se a partir do que escrevo já tive algum retorno do poder público em relação a questões que envolvem acessibilidade e inclusão. Nenhum retorno! Mas escrever sobre os silêncios do cotidiano é resistir. Apontar os clichês, repetidos exaustivamente para justificar o injustificável, é enfrentar a hipocrisia social para não sucumbir. O preconceito carrega um não avassalador. Afronta nossa sensibilidade, inteligência e desejo de acolhimento. Estamos no lugar errado? Somos inferiores? Nossas vidas são indesejadas, tortas, erradas? De um modo geral, os espaços só abrem se a pessoa com deficiência assume um protagonismo e vira exemplo de superação, como se sua existência só tivesse sentido assim. Nada mais.
Quase ninguém vê a singularidade de uma pessoa com deficiência, que transpõe infinitas barreiras físicas e sociais diariamente. Em especial, quando é vista como ser inferior por uma sociedade despreparada, que ergue barreiras quando deveria derrubá-las. O que fazem esses olhares, a não ser nos depreciar? O que entendem por inclusão e acessibilidade? Quem está preocupado com estas questões?
Fora do institucional, muitas organizações refletem sobre isso, mas as frestas do cotidiano, segundo a filósofa Djamila Ribeiro, autora do livro “O que é Lugar de Fala?”, são violentas. Precisamos estar atentos ao que escapa por elas. Qual é o nosso lugar hoje no Brasil quando a Lei de Acessibilidade e Inclusão é questionada? Querem indivíduos perfeitos, eficientes e servis? Não somos regidos pela excelência, pela produção em massa até o esgotamento físico e mental. Não estamos em competição. Reconhecemos nossos limites e vivemos a singularidade que nos constitui.
O cenário não é promissor. A invisibilidade e a discriminação se alastram. Mas não desistiremos de fazer o mundo avançar, ampliando horizontes na convivência com as diferenças. É na diversidade que libertamos o olhar e fazemos ecoar outras vozes. É na diversidade que está a riqueza humana. Não queremos compensação. Não há o que superar. Está tudo certo com os meus 1m10cm, minhas pernas curtas, meus braços pequenos e meus dedos gordinhos. Não subestimem as diferenças com risos debochados, dedos apontando, toques desrespeitosos, perguntas infames, imitações ridículas. Queremos que nos deixem passar!