Ouvi Leila Pinheiro declamar um poema de Rubem Alves falando do que ele nominou de “escutatória”.
Achei maravilhoso porque fala da importância que há na escuta compassiva. No ouvir sem retrucar. Na atenção ao que o outro diz ou tenta dizer, que muitas vezes não é traduzido em sons, e sim em partículas de sentimentos abafados.
Isso me fez refletir sobre o quanto queremos dizer e não conseguimos ou, se dizemos da forma equivocada, não comunicamos ao outro o que de fato é a nossa ideia.
Em uma conversa, quantas vezes tentamos falar sobre nós, não somos ouvidos, e daí perdemos o interesse, aborrecemo-nos, discutimos e partimos para uma escuta desatenta, sem propósito?
Não é incomum que, em determinados contextos, atuemos como presença figurativa, negando, a nós mesmos e ao outro, a possibilidade de um diálogo verdadeiro.
Ou, por outro lado, quantas vezes apenas falamos de nós – e apenas de nós – sem estarmos atentos à necessidade do outro em também ser ouvido, visto e entendido?
Quantas vezes já passamos e passaremos por isso?
As minhas lembranças de situações vivenciadas dessa forma são várias.
E sei que ainda virão outras ocasiões em que isso se repetirá.
Mas, por que não aproveitamos os momentos certos para nos comunicarmos de modo eficaz?
O que nos impede?
Será que queremos mesmo ser escutados ou queremos apenas falar sem escutar, tanto aos outros quanto a nós mesmos?
Queremos escuta compassiva ou apenas monólogo?
Quanto nos incomoda ter retorno sobre o que falamos?
Acho que entre a necessidade de escuta e a vontade de dialogar há um fosso.
Para preenchê-lo, há necessidade de escuta, sim. Mas também de reciprocidade.
Ambos escutando resulta em diálogo, conversa, bate-papo, relação entre sujeitos.
Mas será mesmo que queremos ter esse trabalho de sermos escutados, algumas vezes confrontados com perguntas, com total liberdade para fazer o mesmo?
Será que não estamos escolhendo simplesmente nos manifestarmos ao mundo sem querermos ser confrontados?
Em tempos de redes sociais, creio que vivenciamos muito isso.
Enquanto a palavra está conosco, a dominamos e ela é, se não Perfeita, pelo menos a mais abalizada.
Já se é o outro, cujas ideias confrontam as minhas, quem fala, logo penso: o que ele sabe de fato para contrapor ao que é o meu certo?!
Não é fácil mesmo ser criticado, nem confrontado, mas creio que precisamos saber fazer uso do nosso órgão auditivo, na forma que é e na quantidade que tem.
Formato aberto. Em dupla quantidade.
Temos 2 ouvidos e uma boca.
Não precisamos calar. Mas certamente precisamos aprender a escutar.
Mildred Lima Pitman - sou Mulher, Mãe, Advogada. E agora, na maturidade, venho buscando, por meio da escrita, uma melhor versão de mim mesma.
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