Neste momento, o Rio Grande do Sul (RS) vive a maior catástrofe climática da sua história, atingindo 332 municípios e Porto Alegre talvez enfrente a maior tragédia de uma Região Metropolitana da América do Sul. O Lago Guaíba, que é formado por quatro rios, nesta semana bateu o recorde histórico da enchente de 1941, subindo a mais de 5m30cm. Os números vão sendo atualizados a todo momento e os óbitos devem superar os dados já conhecidos. Cidades como Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, com 41 mil habitantes, está 90% coberta pelas águas.
Porto Alegre está com 85% da população sem água e boa parte dela sem energia elétrica, e o pior, sem perspectivas de quando voltará a ter água e energia. O centro da cidade, shopping centers, aeroporto, estádios de futebol, escolas, hospitais etc., são milhares de prédios tomados pelas águas e as pessoas sendo evacuadas destas regiões.
Eu poderia continuar descrevendo com dados, por várias páginas, o tamanho desta tragédia na capital gaúcha e no RS. No entanto, o meu intuito nesta crônica é mostrar algo que me chamou muito a atenção nas atividades que participei, e que considero ser uma novidade em relação a outras tragédias: a forma de engajamento de todos os setores da população. Solidariedade sempre existiu, mas agora é diferente!
Me chamou atenção vários aspectos, entre eles, a grande participação de jovens e a energia que existia no ambiente. Eram cerca de 1.000 pessoas trabalhando em dois galpões, com poucos coordenadores da Defesa Civil, todos se ajudando e, de vez em quando aparecia alguém oferecendo algum lanche feito pela própria pessoa. Caminhões eram carregados em poucos minutos num sistema de corrente, onde cada um passava um saco de roupa para o outro até chegar dentro do caminhão.
Em outras áreas, onde foi necessário o resgate de pessoas, ocorreram atos emocionantes e se viu gente encostando um “camionetão” e colocando na água um barco ou um jet-ski e entrando na água para resgatar pessoas. As torcidas organizadas dos clubes de futebol, que costumam serem vistas como baderneiras, estão engajados na arrecadação e distribuição de donativos. Jogadores de futebol, influencers, artistas, celebridades em geral, estão engajados e fazendo lives, rifas e contribuindo com doações.
Tem pessoas de todas as idades, ricos e pobres, de direita e de esquerda, de todas as igrejas, todos trabalhando para resgatar pessoas, para ajudar os desabrigados. Os poucos haters e os que procuram gerar polêmicas não conseguiram os likes desejados. Pela primeira vez, vejo uma ação que supera a “grenalização”, onde rivais – torcedores do Inter e do Grêmio – conseguem atuar juntos pela mesma causa.
Ontem, conversando com o motorista do aplicativo, ele me disse que tirou dois dias de folga, alugou um reboque e usou o seu carro para transportar alimentos para os desabrigados e que estava hospedando 15 pessoas na sua casa, das quais ele só conhecia três. Certamente vamos tomar conhecimento de muitos relatos como este.
Eu já li bastante sobre as gerações Z e os millenials, eles são chamados de Nem-Nem (nem trabalham, nem estudam), não são engajados etc. Vi agora um quadro muito diferente e que me deu muita esperança. Talvez estejamos nos descobrindo e que esta tragédia está nos aproximando de uma nova forma. Sonho que este momento de dificuldade seja superado e que a união conseguida seja amarrada de tal forma que possamos enfrentar juntos outras batalhas. Os efeitos das mudanças climática irão continuar e somente com uma comunhão como esta seremos capazes de enfrentá-los.
Foto da Capa: Secom/RS
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