Quem nunca se comparou a alguém e se achou pior com isso, que atire a primeira mentira.
Quando uma amiga perguntou se eu queria escrever, pensei na hora: vou ser a próxima Martha Medeiros, ou talvez o Carpinejar! Mas depois da empolgação dos primeiros 5 minutos a ficha caiu, e comecei a pensar que tinha que escrever de verdade. Pronto, começou o sofrimento da antecipação e da comparação.
Eu sempre quis ser jornalista, assim como sempre quis ser atriz, figurinista, arquiteta, e cantora. Chef, neurologista e psiquiatra também eram uma opção, mas nenhuma foi minha carreira. Algumas por achar que não seria capaz, outras por achar que era tarde demais.
Guardo bem fresca na memória a primeira rejeição pré-profissional, de uma professora da faculdade, e que provavelmente estava de saco cheio de ler uma pilha de trabalhos entediantes de alunos da disciplina de Introdução ao Jornalismo. Esta senhora disse, provavelmente com alguma razão mas também sem nenhuma delicadeza, que meu texto era um lixo, acrescentando um grande X vermelho feito com canetinha hidrocor em cima do textão cheio de clichês que escrevi achando que estava arrasando. Tristeza, vergonha e um pouquinho de raiva ficaram comigo todo esse tempo.
Anos depois e já formada em outro curso, acabei eu sendo a professora numa universidade, e quando fui contar a novidade pra um parente, ouvi aquela brincadeira meio sem graça, meio diminutiva : “Tá tão ruim assim essa universidade pra te contratar?” Pimba!!! Lá se foi a autoestima pro saco de novo.
Na mesma época, um amigo do meu então marido disse, antes de assoprar as velinhas de 30 anos na sua festa de aniversário, que depois dos 30 a gente desiste dos sonhos porque já está velho demais. Mesmo na época soou muito estranho, tétrico quase. 30 anos é tarde, jura?
Agora pensa comigo, quantas vezes eu, você, a gente, deixou pra lá alguma coisa que queria fazer porque achava que não era capaz, não era tão bom quanto outra pessoa, ou porque era tarde demais. Quantas vezes a gente pega uma critica ou um desdém e aceita ela como uma verdade absoluta e não tenta melhorar, ou simplesmente ignorar e seguir em frente, do nosso jeito?
A idade me deu um pouco mais de segurança, cara de pau e língua solta. Parei de me preocupar com a professora e o parente, sacudi o amigo velho de 30 anos da minha mente e parei de ter vergonha do que quero fazer, escrever ou dizer. Fiz outras coisas, mudei de carreira, marido, cidade, gosto e vida, e vou mudar quantas vezes mais eu quiser, por quanto tempo mais eu quiser.
Atualmente sou uma consagrada escritora de convites de aniversário e boletins médicos divertidos da minha família, e a partir de hoje também escrevo para o portal Sler, com muito orgulho. E quer saber, estou feliz por ser a Anna Tscherdantzew e não ter a pressão de querer ser a Martha Medeiros.
<< O que achou do texto? Avalie e comente aqui embaixo >>
Foto da Capa: Freepik