Em plena época de campanha eleitoral, e decorridos mais de três meses desde os eventos extremos iniciados em abril de 2024, e instigado pela publicação de um amigo na semana passada, passo a tecer algumas considerações sobre a falta de debates municipais sobre os eventos extremos, nossa falta de governança, infraestrutura e capacitação. Ao ter afetado mais de 470 municípios gaúchos, expondo de forma contundente a necessidade urgente de fortalecer os sistemas de proteção e defesa civil, os eventos extremos ratificam ainda mais que a falta deste tipo de debate revela um cenário preocupante, demandando ações coordenadas e participativas. A relevância disso reside em diversos aspectos:
– Fortalecimento da governança local: a participação ativa da sociedade civil, de especialistas e de diversos setores da administração pública permitiria a construção de políticas públicas mais eficazes e adequadas às realidades locais. A troca de experiências e a identificação de lacunas nas ações governamentais são fundamentais para a elaboração de planos de contingência. E que a maioria dos municípios não tem.
– Conscientização da população: é crucial a conscientização da população sobre os riscos climáticos, o que incentivaria a adoção de medidas PREVENTIVAS e a participação ativa na gestão de riscos. Uma população informada e engajada é fundamental para a redução da vulnerabilidade social e a minimização dos impactos de eventos extremos. Que tendem a ser maiores.
– Mobilização de recursos: poderiam servir como um espaço para a mobilização de recursos financeiros e técnicos, tanto ao nível local como estadual e federal. A identificação das necessidades específicas de cada município facilitaria a busca por parcerias e a alocação de recursos para infraestrutura, equipamentos e capacitação de pessoal. Como saber de quanto recurso o município precisa se ele não tem um DIAGNÓSTICO da realidade da sua situação, em termos de governança e vulnerabilidade?
– Adaptação às mudanças climáticas: com eventos climáticos extremos recorrentes, os debates são essenciais para a discussão de medidas de adaptação às mudanças climáticas. Planos de ação que contemplem a gestão de riscos, a infraestrutura resiliente e a educação climática e ambiental são cruciais para garantir a segurança e o bem-estar da população. PREVENÇÃO é essencial.
É fundamental garantir a inclusão de todos os segmentos da população, especialmente os mais vulneráveis. E sim, a maioria dos municípios enfrenta dificuldades financeiras para investir em proteção e defesa civil, mas a busca por fontes de financiamento e a otimização dos recursos existentes são desafios a serem superados. No fundo, não faltam recursos, e sim PROJETOS BEM ESTRUTURADOS.
Ao promover a participação da sociedade civil, fortalecer a governança local e investir em medidas de adaptação às mudanças climáticas, os municípios podem reduzir significativamente os impactos de eventos extremos e garantir a qualidade de vida de sua população. Mas isso precisa ser amplamente debatido e construído mediante uma ARTICULAÇÃO. Dentro e fora do município.
Marcos Leandro Kazmierczak é Engenheiro Florestal (UFSM). Mestre em Sensoriamento Remoto (INPE). Doutor em Eventos Extremos (UNESP/CEMADEN). Especialista em modelagem espacial e simulação de cenários climáticos futuros. Especialista Sênior no Projeto de Concepção do Arranjo Institucional e Operacional para Gestão de Risco de Desastres no Estado do Rio de Janeiro (Contrato Banco Mundial/SEPLAG-RJ). Coordenador do GT6 - Ordenamento Territorial, da Rede de Emergência Climática e Ambiental do Rio Grande do Sul, criado pela UFRGS.
Foto da Capa: Gustavo Mansur / Palácio Piratini
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