A expansão urbana desordenada, com destaque para a ocupação de áreas de encosta e a proximidade a cursos d’água, revela um cenário alarmante à luz dos eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes e intensos. Os dados apresentados em 21 de agosto, pela Coleção 9 do MapBiomas, evidenciam uma clara violação da legislação ambiental, omissão e desprezo pelos riscos associados a essa ocupação, com implicações diretas para a sociedade. Faço aqui um resumo da leitura que fiz neste lançamento.
A ocupação de áreas de encosta acima do limite legal de 30% de declividade (17.500 ha, em 1985, e 41.000 ha, em 2023) configura um risco iminente de movimentos de massa, especialmente em eventos de chuvas intensas. A perda de cobertura vegetal, a impermeabilização do solo e a construção em áreas instáveis aumentam a vulnerabilidade dessas regiões, expondo a população.
A concentração de áreas urbanizadas com menos de 3 metros de distância vertical em relação a rios atingiu 1,1 milhões de hectares (27% do total das áreas urbanizadas), também é um fator agravante, intensificando os riscos de inundações. A impermeabilização do solo reduz a capacidade de infiltração da água, aumentando o escoamento superficial e sobrecarregando os sistemas de drenagem. Além disso, a ocupação de áreas de várzea e margens de rios teve um crescimento de 97,8 mil hectares entre 1985 e 2023, comprometendo a segurança da população, a integridade dos ecossistemas aquáticos e aumentando a vulnerabilidade a processos erosivos.
A relação entre a expansão urbana desordenada e os eventos climáticos extremos é indiscutível. As mudanças climáticas estão intensificando a ocorrência de eventos extremos, como chuvas torrenciais, secas prolongadas e ondas de calor, que exacerbam os impactos da ocupação irregular do solo. Áreas urbanas densamente construídas e com pouca vegetação tendem a apresentar temperaturas mais elevadas, o que agrava os efeitos das ilhas de calor e aumenta o consumo de energia.
É crucial serem adotadas medidas urgentes para reverter esse cenário. A implementação de políticas públicas eficazes, com foco no ordenamento territorial, no planejamento urbano e na gestão de riscos, é essencial para garantir a segurança da população. Entre as sugestões, cito ações prioritárias que incluam uma fiscalização efetiva, a aplicação das leis ambientais, o planejamento urbano participativo, investimentos em infraestrutura verde e educação climática e ambiental.
Em suma, os dados apresentados pelo MapBiomas revelam um quadro alarmante e exigem uma ação rápida e coordenada de todos os setores da sociedade. A expansão urbana desordenada, em especial a ocupação de áreas de encosta e a proximidade a cursos d’água, aumenta a vulnerabilidade das cidades aos eventos climáticos extremos e impacta negativamente a qualidade de vida da população. É preciso agir AGORA para construir um futuro mais resiliente, seguro e sustentável.
Marcos Leandro Kazmierczak é engenheiro florestal (UFSM). Mestre em Sensoriamento Remoto (INPE). Doutor em Eventos Extremos (UNESP/CEMADEN). Especialista em modelagem espacial e simulação de cenários climáticos futuros. Especialista Sênior no Projeto de Concepção do Arranjo Institucional e Operacional para Gestão de Risco de Desastres no Estado do Rio de Janeiro (Contrato Banco Mundial/SEPLAG-RJ).
Foto da Capa: Agencia Brasil
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