Qual foi a última vez que você ouviu propostas de políticas públicas que colaboram para o desenvolvimento dos profissionais 50+? Com certeza não foi nessa eleição. Nos últimos debates, tanto para o presidente quanto para o governador do Rio Grande do Sul, não foi citado sobre o envelhecimento do país e sobre a necessidade urgente de trabalharmos para a profissionalização e qualificação da mão de obra dos profissionais.
Claramente os profissionais mais experientes não são relevantes para os nossos candidatos ao governo federal e estadual. O que evidencia o retrato alarmante em que vivemos na sociedade atual: a maioria das vagas de emprego é preenchida por pessoas com menos de 29 anos. O que, consequentemente, deixa a maioria dos que estão em busca de uma oportunidade e têm idade superior a essa, por um longo período, desempregados, alguns nunca conseguindo retornar. Este cenário em um país como o Brasil, que é o quinto país com a maior população sênior do mundo, é extremamente preocupante.
Além disso, o Brasil está se preparando para uma mudança significativa da pirâmide etária, com o estreitamento da base – a diminuição da população jovem – e um grande aumento no topo da pirâmide – o significativo crescimento da população 50+. Atualmente cerca de 25% da população, o que representa mais de 54 milhões de brasileiros, possui mais de 50 anos.
Podemos visualizar o mercado de trabalho brasileiro como uma pirâmide invertida, onde a parte maior é composta por profissionais 60+ e conforme ela vai afunilando – ou seja, a base da pirâmide é menor que o topo -, a idade vai diminuindo. Ou seja, a tendência é que a população com mais idade aumente gradativamente a cada ano, alcançando um patamar em que será impossível para os jovens conseguirem contribuir sozinhos para a aposentadoria desta parcela.
Porém, essa mudança impacta em mais segmentos do que imaginamos. Um deles, por exemplo, é o absenteísmo. O termo que se refere aos atos de faltar, atrasar ou deixar antecipadamente o posto de trabalho com frequência excessiva, pode ter várias causas, desde questões familiares e de saúde até mesmo motivos psicológicos e emocionais.
Independente do motivo, os impactos nas empresas são inúmeros, sendo os mais frequentes: acúmulo de tarefas, desconforto e sobrecarga de trabalho para os demais colaboradores, demora na execução dos processos, impacto na cultura e valores, queda na produção e até comprometimento das finanças da empresa.
A diminuição da jornada de trabalho, a ampliação do diálogo e da comunicação interna e a preocupação em proporcionar um bom ambiente são algumas das estratégias que estão sendo adotadas para tentar diminuir o absenteísmo. Mas algumas empresas descobriram uma maneira mais eficaz e inclusiva de reduzir esse índice: contratando profissionais com mais idade.
Podemos destacar como um case desse cenário a empresa CTC, que para reverter a alta do absenteísmo, que chegou a 23% durante a pandemia, criou um projeto-piloto para contratar profissionais de 45 a 71 anos. E o resultado foi: a rotatividade caiu de 37%, em maio de 2020, para 6% e o absenteísmo foi de 23% para 4%. Além dela, a PepsiCo, nos últimos seis anos, contratou 400 colaboradores com mais de 50 anos e conseguiu um absenteísmo 27% inferior.
E a contratação de colaboradores mais experientes não reduz somente o absenteísmo, mas também proporciona a empresa profissionais com mais inteligência emocional, experiência e que influenciam positivamente o comprometimento da equipe. Além disso, promover essa inclusão ajuda a melhorar outro grande gargalo do mercado atual: a falta de oportunidade para pessoas com mais idade. Atualmente o Brasil é o quinto país com a maior população sênior do mundo, com aproximadamente 28 milhões de pessoas acima dos 60 anos e grande parte delas não consegue uma recolocação na sua área.
Por isso, é essencial que as empresas estejam abertas para contratar pessoas com mais experiência e compreendam o quanto essa atitude pode agregar ao desenvolvimento e resultado da equipe. Mas para que a aceitação e inclusão se torne mais ágil e efetiva, é necessário o amplo diálogo e o apoio do governo, por meio de políticas de incentivo. Contudo, pergunto: o que esperar para os próximos 4 anos destes candidatos que nem em época de eleição, não trazem o assunto em pauta?