Recentemente foi lançado o livro Falas Racistas, de Cristina Ribeiro (Editora Plenavoz, Alvorada, 2024), relato que nos dá a dimensão do quanto o preconceito se revela em comentários que “podem parecer inofensivos ou sutis, mas não são, pois ferem o íntimo de quem escuta, traumatizam e causam dor”. Fui convidada no início deste ano para escrever o prefácio, o que fiz com uma emoção muito grande porque esta luta também é minha. Emoção que redobrou quando recebi o livro. Kris, como eu chamo, lançou seu primeiro livro, Pela Liberdade de nos Construirmos Negras, em 2023 (Pubblicato Editora), um relato forte sobre sua vida e o racismo cotidiano, com depoimentos de outras mulheres, que nós – Kixi Dalzotto, eu e o editor Vítor Mesquita – apoiamos desde que ela nos falou.
Escritora e poeta, Kris hoje é uma incentivadora da literatura. Criou o projeto Vozes Alvoradenses, antologia somente com poetas da cidade de Alvorada e o projeto Coração de Mãe, antologia para homenagear as mães. Quero dividir com os leitores o prefácio que escrevi e recomendar a leitura de mais uma publicação que traz para o centro da cena o racismo absurdo que ainda permeia nossas vidas.
Prefácio de Falas Racistas
Vamos ouvir essas vozes que representam milhares de outras vozes e fazê-las repercutir
Escrever e falar sobre racismo, preconceito e direitos humanos é uma forma de resistência. Sensibilizar a sociedade para a discriminação que nos ronda é compromisso. Reivindicar políticas públicas que priorizem o respeito pelo outro sem julgamentos, independente da origem, da cor da pele, da opção sexual e da condição física, intelectual e social, é fundamental. Mas para que isso aconteça efetivamente é preciso desacomodar conceitos e comportamentos seculares, que criaram a casa grande para o conforto do colonizador/opressor e a senzala, onde eram jogados os negros capturados na África para servir aos brancos invasores no Brasil.
Assim se definiu que algumas raças são inferiores e devem submeter-se às raças consideradas superiores, que se impõem pela força, pela exploração, pelo poder econômico. Assim os índios foram expulsos das terras que habitavam para dar lugar aos colonizadores. Assim os negros foram trazidos em navios para serem escravizados, sem direito a voz e respeito. A história era contada a partir do ponto de vista do colonizador, o branco europeu que detinha o poder sobre as terras. Assim, os olhares foram sendo doutrinados e contaminados e o racismo se instituiu barbaramente, atravessando séculos.
Falas Racistas, de Cristina Ribeiro, lançado pela Editora Plenavoz, cumpre um papel significativo neste momento em que o protagonismo negro se impõe no país. A autora dá voz aos discriminados pela cor da pele, aponta os tipos de racismo e ainda traz poesia. Vamos ouvir essas vozes, que representam milhares de outras vozes, e fazê-las repercutir. Tudo ainda será precário se a discriminação persistir porque carrega um não avassalador e dói.
É fundamental desacomodar posturas preconceituosas sacralizadas que não respeitam as diferenças. Precisamos educar para a diversidade que nos constitui em casa, na escola e nos ambientes públicos, mostrar que a grande riqueza humana está no encontro das múltiplas possibilidades e capacidades de cada um, na cooperação e na troca.
Mais textos de Lei Teixeira: Leia Aqui