A França deu uma receita para impedir o crescimento da extrema direita. Partidos de esquerda, da centro direita e até de direita retiraram mais de 200 candidaturas que disputariam o segundo turno da eleição legislativa, no dia 7 deste mês, para impedir que a extrema direita alcançasse maioria absoluta e assim assumisse o governo. Deu resultado.
Os extremistas de Marine Le Pen, foram vitoriosos no primeiro turno. Agora são a terceira força no parlamento francês. A Nova Frente Popular, de esquerda, elegeu a maior bancada e a direita civilizada de Macron ficou em segundo lugar.
Temos cabeças para organizar um movimento assim no Brasil? Ou, por aqui, a extrema direita vai seguir nadando de braçada nas redes sociais e ganhando voto à custa de muita desinformação? Até quando, a direita vai se exibir como limpinha e competente, mesmo com a divulgação de vídeos como esse dos bolsonaros entregando uma medalha ao correligionário deles, Javier Milei, num encontro em Camboriú?
Quando vi o vídeo mostrando o Bolsonaro e o filhote dele, Eduardo, entregando a comenda que eles – os Bolsonaro – chamam de triplo i (o título vai em minúsculas mesmo que é pra dar a dimensão da baixaria), ao presidente argentino, Javier Milei, confesso que fui checar para ver se não era fake. Não é fake. É só outro tiro do chamado líder da extrema direita nacional no próprio pé.
Minha dúvida era justificável. Afinal, não é todo dia que se vê um ex-presidente entregar a um presidente de República uma medalha na qual o outorgante se autodenomina imorrível, imbrochável e incomível. O vídeo mostra o filhote – deputado federal – sem conseguir traduzir para o espanhol os neologismos chulos criados pelo papai, mostrando com gestos – tão chulos quanto – o que eles significam.
Se você (tem alguém aí?) ainda não viu e tem estômago forte, pode ver neste link
Logo que eu vi, lembrei de vários adjetivos começados com “i” para imprimir numa faixa a ser colocada no peito do capitão Bolsonaro: indecente, insensato, imprudente, irresponsável e por aí vai.
Dias depois de ver o indecoroso vídeo, me deparo com notícias de uma reunião, em agosto de 2020, do então impertinente presidente Bolsonaro com seu chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL/RJ), candidato a candidato a prefeito do Rio.
Na reunião, descoberta em investigações da Polícia Federal, o presidente e o araponga tratavam de buscar formas de blindar o senador Flávio Bolsonaro contra a investigação da prática de rachadinha no tempo em que o 01 era deputado estadual no Rio.
E aí me convenci de que faltam muitos outros “is” na lista dos (de)méritos bolsonaristas. A informação da conversa para livrar Flávio das acusações de ficar com parte do salário de servidores do gabinete dele foi encontrada pela PF numa gravação… no celular do chefe da Abin…
Só alguém muto ingênuo – ou muito insolente, e se reúne com um espião que, por dever de ofício deve ser intrometido e inseguro, sem se certificar de que não está sendo gravado, não?
E chegamos a outro “i”. Bolsonaro, que até a divulgação da conversa dele com Ramagem tinha o seu chefe da Abin como candidato preferencial à Prefeitura do Rio, já chama o antigo subordinado de infiel e, dizem, repensa o apoio eleitoral. Ramagem, de sua parte, deve estar reclamando que o amigo (ex?) é muito intolerante…
Esses fatos protagonizados pelo ex-presidente – tido por muitos, ainda, como um forte cabo eleitoral – mostram que é quase indecoroso o jeito de alguns fazerem política no Brasil atualmente.
E até os próprios aliados do ex-presidente ajudam a confirmar as suspeitas de que ainda tem muita coisa para ser investigada na gestão bolsonarista.
Na semana em que a PF indiciou Bolsonaro e mais 11 no inquérito das joias da Arábia Saudita, teve aliado do capitão dizendo, segundo notícia do Uol, que “preocupa mais a exposição com alguns conteúdos do que o indiciamento em si”. Quer dizer, Ramagem pode não ser o único que gravou conversas comprometedoras com chefe.
O teste da capacidade de Bolsonaro para influenciar eleitores é em outubro, nas eleições municipais. O partido dele, o PL, vai ter mais de R$ 1 bilhão dos fundos eleitoral e partidário e tem a pretensão de eleger mais de mil prefeitos.
Até agora, a direita nada de braçadas nas redes sociais e neutraliza todos os tropeços e tiros nos pés de Bolsonaro. Chegam ao cúmulo de dizer que têm mais medo da divulgação de conversas do líder do que dos indiciamentos dele, que podem levar a prisão. Afinal, mentindo como mentem, pode ficar fácil atribuir a eventual prisão a uma perseguição comunista.
Está na hora de acordar pessoal. A comunicação, e não é de hoje, se faz nas redes sociais. E os de bom senso estão perdendo de goleada.
Foto da Capa: Reprodução do Youtube
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