Se você imaginava que os “bancos de igrejas” eram para sentar-se e participar da missa ou de um culto, está desatualizado. Na verdade, não é de agora que as igrejas criaram os seus próprios bancos, tanto para organizar seus empreendimentos quanto para supostamente apoiar seus fiéis. Lá na Segunda Guerra, o Vaticano fundou o “Instituto para as Obras da Religião” — hoje mais conhecido como Banco do Vaticano. Após uma sucessão de escândalos de corrupção, quando Francisco assumiu como Papa, logo abriu uma espécie de “janela ao confessionário”, criou uma comissão de reforma e prometeu fazer do banco um modelo de honestidade e transparência.
Enquanto o Banco do Vaticano concentrava sua atuação nos negócios internos e na vida financeira do clero, a Igreja Universal de Edir Macedo apostou no Digimais, um banco digital que chegou a reunir 100 mil clientes em operações de crédito consignado e financiamento de veículos. O projeto, porém, não decolou como esperado, e em janeiro de 2025, Macedo transferiu a propriedade para o empresário Maurício Quadrado.
Aprendendo com as experiências anteriores, em 2024 a Igreja Lagoinha, do pastor André Valadão, lançou o Clava Forte Bank S/A, com Valadão no cargo de presidente e sua esposa como diretora. O banco se apresenta como “uma instituição para impulsionar os projetos do Reino de Deus” e, segundo o site oficial, é “uma fintech dedicada a oferecer soluções financeiras seguras e inovadoras para instituições cristãs, igrejas e pastores”, visando facilitar o acesso do mercado evangélico ao sistema financeiro. Entre seus produtos estão maquininhas de cartão, programas de cashback e até um marketplace gospel. Imagina comprar uma aliança financiada pelo banco e ganhar 5% de volta!
Além das operações bancárias, a Lagoinha inova ao oferecer áreas VIP em algumas de suas unidades — como a Lagoinha Orlando Church e a filial de Alphaville, em São Paulo — destinadas a celebridades gospel (jogadores de futebol, cantores sertanejos etc.). Lá, quem tem “status” desfruta de estacionamento próprio, entrada exclusiva, “open bar” e um camarote reservado dentro da igreja. O pastor André justifica que, embora todos sejam iguais perante Deus, essas facilidades evitam que os VIPs se sintam desfavorecidos ou se exponham a constrangimentos. Segundo Valadão, “se você puder entrar, escolher seu lugar e participar sem ser fotografado ou importunado, agradeça a Deus”. Argumentos que certamente comovem qualquer trabalhador anônimo, que se sentirá feliz por não ser um “pobre VIP”, rico e famoso.
Todos nós sabemos que o lucro de qualquer banco nasce da diferença entre a remuneração que paga a quem deposita e as tarifas que cobra de quem pede empréstimo. Banco trabalha com o dinheiro dos outros. Outras igrejas estão se preparando para entrar neste mercado. Porque, no final das contas, o céu pode esperar, mas o lucro não.
Referências:
- Metrópoles: Líder da Igreja Lagoinha, André Valadão lança banco para fiéis
- UOL: Dividido por 'castas': por que igrejas como a de Valadão têm área VIP?
- Valor: Maurício Quadrado compra banco Digimais, de Edir Macedo
- Wikipedia: Instituto para as Obras de Religião
Todos os textos de Luis Felipe Nascimento estão AQUI.
Foto da Capa: O líder da Lagoinha, André Valadão / Instagram