Afinal, o que é felicidade? Essa pergunta simples foi feita pela minha dupla de bancada no Vida Digital, a Juliana Fürstenau, para a especialista em Felicidade Bruna Severo Romero. Sem hesitar, a nossa convidada reconheceu a dimensão ampla da questão abordada por grandes filósofos da humanidade e trouxe uma perspectiva contemporânea: a felicidade é uma habilidade a ser treinada, ou seja, exige tempo, foco e paciência. Bruna estuda a felicidade como ciência a partir de cinco pilares desenvolvidos pelo professor Tal Ben–Shahar: espiritualidade, corpo físico, intelectualidade, relacionamentos e emoção, da sigla Spire em inglês.
Ouvir a Bruna impacta e emociona pela abordagem densa em linguagem simples e didática. Por certo, a escola de formação da Bruna carrega sabedorias milenares de tantos pensadores dedicados a nos ajudar a compreender os mistérios da vida e saber como lidar com eles. A ideia contida na sigla Spire é sistematizar e, portanto, instrumentalizar um método. A ciência é isso: desenvolver um método capaz de ser reprodutível por todas as pessoas que assim o desejarem. Nem sempre a humanidade pensou a felicidade como método.
A abordagem filosófica é diferente, os pensadores da Antiguidade traziam a subjetividade e as emoções do lugar do pensamento crítico e, por vezes, melancólico. Desde então somos provocados a refletir sobre a felicidade hedônica, ligada ao material e ao prazer imediato como no pensamento de Sócrates e eudaimônica, felicidade associada ao propósito de vida ou à virtude de Aristóteles. A felicidade se conquista com a eudemonia, ou seja, a virtude, um comportamento capaz de afastar a ideia de que felicidade é o prazer imediato. Para alcançar a felicidade é preciso um estilo de vida coerente, ético das “boas virtudes”, um bem supremo. Mas quanto de objetivo existe no conceito de virtude? Já o demasiado humano Nietzche no século XIX nos ensinou que é preciso tornar-se quem se é, antes de ser virtuoso, ou para sê-lo. Por isso, é necessário olhar para dentro. Ir nas profundezas do autoconhecimento e não depositar a esperança em ídolos ou deuses. Citei sinteticamente, me julguem, a complexidade dos filósofos ainda hoje influentes pensadores da existência humana para dizer em caixa alta: VIVA A CIÊNCIA.
A sistematização da felicidade é um presente científico, Bruna e outros estudiosos do tema acessam o conhecimento para se tornarem capazes de eles mesmos serem o meio condutor dos saberes. Como se o conhecimento os imbuísse de uma missão: pesquisar, aprender e ensinar. Nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard, existe uma pesquisa em curso há mais de 80 anos. É um estudo seminal da ciência da felicidade. Um dos maiores achados é sobre relacionamentos. A depressão de Nietzche estava relacionada ao sentimento de solidão. A virtude para Aristóteles era o legado que ele desejava deixar para o filho Nicômaco. O que somos capazes de saber hoje, oito décadas depois, é que os relacionamentos mais longos e mais profundos são fonte de felicidade.
No Vida Digital, falamos sobre o impacto das ferramentas digitais, plataformas e aplicativos nos nossos relacionamentos: pode o digital trazer mais ou menos felicidade? A resposta é o equilíbrio. O ambiente digital pode ser usado para felicidade ou para tristeza ou para gerar todo o tipo de sentimento, assim como as relações em ambientes físicos. A busca do equilíbrio é exercitar a consciência de como o digital pode ser usado mais para a felicidade e menos para acionar gatilhos de emoções não desejadas. Ou melhor, mesmo quando as emoções não desejadas emergirem, o equilíbrio é acessar a reação com consciência e não se deixar levar pela visão do outro.
O fato está posto: vivemos mediados pelo digital. O desafio é aprendermos a lidar com ele da melhor forma possível. É aí que entra a tríade da felicidade consciente, uma criação da Bruna para ser exercitada diariamente: sorrir mais, elogiar mais e agradecer mais. E perceba: o que é elogiado no outro, está em quem elogia. O elogio é um exercício de mão dupla de felicidade. O mesmo acontece para o sorrir e o agradecer, é um círculo virtuoso. Quanto mais agradecimentos e sorrisos dados, mais agradecimentos e sorrisos recebidos.
Por certo, nem todos os dias serão de risos soltos, porque a vida vem em estações do ano, altos e baixos, florescer na primavera e despir-se no outono. Lembrei de uma das minhas personagens favoritas da ficção, a Poliana de Eleanor H. Porter. Ela nos ensina o jogo do contentamento: mesmo nas situações mais desafiadoras há beleza, alegria e esperança. O jogo era um exercício permanente na vida sofrida da personagem, o que a tornava leve e encantadora.
Como enfatiza a nossa especialista em felicidade, não há alegria permanente, mas é possível exercitar a felicidade consciente porque todo palco tem um bastidor. O amanhecer do dia vem da escuridão da noite. Para a primavera florescer, é preciso vencer as longas noites do inverno. A felicidade é um exercício contínuo, quanto mais treino, maior a excelência. Obrigada pela leitura até aqui, vocês leitores são pessoas interessadas e interessantes. Recebam o meu sorriso virtual! :D. Vejam, eu já comecei a adotar a tríade da felicidade da Bruna Severo Romero: gratidão, elogio e sorriso. Sua vez…