Os fios são objetos excelentes para fazer analogias com o campo simbólico. Falamos de fios em filosofia porque nos fazem ver as coisas por outro prisma e ajudam nossa compreensão. Você vê um tapete ou um tecido de seda e vê os fios se entrelaçando de forma a fazer uma teia bem ajustada. É exatamente assim com o neoliberalismo, seus fios se entrelaçam de uma tal forma que não percebemos de que são feitos. Quando dizemos que o neoliberalismo é feito de fios, falamos de relações. Elas existem independentemente uma da outra, são soltas, mas juntas são praticamente indissociáveis e podem matar.
Chamam-me a atenção as imagens de dois casos em que se podem ver fios na semana passada. Os primeiros, os fios que surpreenderam um adolescente de 16 anos na rua Doutor Timóteo, em Porto Alegre, na última segunda-feira, dia 3. Os segundos fios, os da cabeça que foi jogada contra a lataria do veículo policial da professora e estudante de ciências sociais Bruno Luan Gonçalves Dias, trans que estava num bar na Rua Lima e Silva, imobilizada por um grupo de policiais e barbaramente agredida. Na imagem de seu rosto, vítima de violência, se destacavam os cabelos sobre seu rosto ensanguentado. Tanto os fios de telefonia que atingiram o adolescente como os fios de cabelo de Luan fazem parte do mesmo tecido de violência que acomete a sociedade gaúcha. Ela é a face visível da violência que faz parte da lógica neoliberal, que atinge pessoas e instituições. Ele mostra que a tese de Sayak Valência, em seu Capitalismo Gore, já está entre nós, que precisa do sangue derramado para se manter ativo.
Os fios neoliberais
É que aqui também, como em Tijuana, onde nasceu a autora, já estamos no círculo vicioso da violência, que passa a ser uma estratégia de poder. “A violência é uma forma altamente produtiva de economia. No entanto, sua instrumentalização muda conforme o tempo e o contexto”, diz a autora em entrevista ao Intercept Brasil. A forma simplificada de sua versão é ver os casos como parte de fios que mostram que o neoliberalismo é tecido pela violência que produz sangue. No Jornal do Almoço de quarta-feira (6/3), vemos o esforço do repórter em escolher as palavras da reportagem. Ele diz que “o adolescente atingiu os fios”, como se não houvesse responsáveis, além de falar do jogo do “empurra-empurra das autoridades”. Ao final da reportagem, como se fosse quase um sussurro, ouve-se o repórter mencionar o nome da empresa de telefonia responsável pelo fio; havia, é claro, a informação de que havia sido efeito de uma ação de poda de árvores da companhia elétrica responsável que, “deixara”, “esquecera”. Era como se a empresa podasse a árvore e o fio, simplesmente aparecesse. Essa mágica discursiva tem um objetivo: fazer desaparecer os responsáveis, que são, lembre-se, patrocinadores bem-vindos da mídia local.
Os fios que atingiram o adolescente não surgiram por geração espontânea. Cuidar deles custa dinheiro. Há toneladas de fios expostos e não retirados pelas empresas responsáveis. Por quê? Porque é um custo que elas não querem assumir. Em seu mundo, a telefonia é apenas sinônimo de lucro. Os custos operacionais devem ser repassados, ou, se possível, driblados pelas estratégias do empurra-empurra. É essa estratégia sangrenta do capitalismo. Da maneira como são tecidos os fios da trama neoliberal, tudo fica solto quando se refere a responsabilizar empresas.
Fios são uma boa metáfora. Esses fios neoliberais tecem um verdadeiro tapete. E, como eles, possuem uma face visível para cima, onde tudo é maravilhoso, como a da empresa de telefonia que promete “Digitalizar para aproximar”. Não é notável que a empresa de telefonia diga em seu site que “a revolução digital deve fazer parte da sua vida” e os seus cabos que levam milhões de bytes tenham o poder de tirá-la em um instante, como quase aconteceu com o jovem de 16 anos? E que a nova campanha da empresa da companhia elétrica responsável, cujas equipes de trabalho podaram sem o devido cuidado, seja, desde 25 de fevereiro, “Pelo futuro todo o dia”, com a música tema Amanhã, cantada por Simone, também tenha quase tirado a vida de um jovem, isto é, privando-o de… futuro? Essa é a face do tapete feito de fios voltada para baixo e oculta dessas empresas. Diz Ricardo Lemgruber: “Mas a face oculta, voltada para o chão, onde a poeira se acumula, onde os olhos não alcançam e, sobretudo, onde estão os fios, estão com as pontas soltas.” Nesse lado oculto da trama de fios neoliberais, o resultado é exatamente aquele que é arquitetado pelas empresas capitalistas envolvidas. Precisamos ligar as pontas soltas.
Por baixo dos fios
Os fios dos tapetes, como os fios da telefonia, se vistos pelo avesso, revelam ambos a desorganização de sua produção. Mas é exatamente dessa desorganização que tiram seus lucros! A desorganização está na forma como sabemos das notícias. Na matéria de Vitor Rosa, do G1, “o fio solto enrosca” como se fosse um ser com vontade própria. Essa desresponsabilização chega à família das vítimas: “é um ‘acidente’ segundo a mãe”. Pior, talvez seja até responsável pelos ferimentos, já que “O rapaz acabou tendo lesões no pescoço e no dedo, porque ele tentou tirar o fio e acabou se cortando”. Não há responsáveis pelo fio, porque “simplesmente um fio atravessado na rua acabou prendendo embaixo do pescoço dele. E no reflexo, ele tentou tirar com o polegar direito, né, e acabou raspando e cortando o polegar, lanhou todo o pescoço.”- conta Aline Mayumi Miyai, mãe do adolescente. Quem deixou esse fio à deriva?
A história começa a ficar engraçada pela corrida de desresponsabilização. Seguem-se as desculpas. A primeira diz, mesmo com a acusação de que “o fio ficou solto após uma poda de árvores realizada pela empresa de telefonia no fim de semana”, que “a responsabilidade pelos fios é das empresas de telecomunicações”, que sequer se manifestou em dar apoio à vítima, resumindo sua manifestação a um lacônico “A companhia lamenta o ocorrido com o ciclista e informa que atua apenas em emergências, manutenções programadas e situações que possam afetar o fornecimento dos clientes.” Um rapaz quase foi decepado. Isso não é uma emergência?
A grande corrida
Mesmo a Prefeitura afirma que “possui força-tarefa para a limpeza e recolhimento de fios sem uso desde janeiro do ano passado, arrebentados e não identificados, abaixo de aproximadamente três metros de altura”, não diz por que, mesmo com alertas de moradores das proximidades, não retira os fios mais graves. No capitalismo devorador que vivemos, a lei existe para não ser cumprida, se der prejuízo. No despacho de 4 de dezembro, a juíza responsável reforçou a urgência no cumprimento das obrigações acordadas, destacando a importância da participação ativa das empresas até a organização do cronograma. No momento, diz o site de notícias, “a força-tarefa da Prefeitura está dando uma pausa para que sejam realizados ajustes a fim de se adequar às demandas judiciais em curso.” E na pausa, as vítimas são tratadas como fios voltados para baixo do tapete. Exatamente como a violência do carnaval de rua, nosso segundo caso de fios.
Volta à cena da cabeça de Luan e seus fios de cabelo arremessados ao capô do carro. Diz Moisés Mendes: “A extrema direita conseguiu. O Carnaval de rua de Porto Alegre virou caso de polícia. As TVs mostraram milhares de foliões nas ruas de todas as capitais. Mas não em Porto Alegre, onde só os bravos se arriscaram a fazer festa, por medo da repressão e da violência policial, como aconteceu no sábado passado.” A tradição do carnaval da cidade baixa foi barrada pelo prefeito “por não poder oferecer policiamento”. Mas eles estavam lá em peso quando se trata de repressão e violência. Como muitos apontaram, curiosamente, “a Brigada Militar apareceu, com a cavalaria, acionada por queixosos, e passou a exigir o desbloqueio da rua. Um grupo foi reprimido, sob a acusação de ter partido para cima dos brigadianos, e ocorreu então um caso que o advogado Ramiro Goulart, que defende um grupo de agredidos, define como de extrema violência.”
Mendes afirma que, segundo relatos, Luan “foi contida com violência durante pelo menos 15 minutos. Boa parte já no chão. Só não foi sufocada pela intervenção de outro policial e pela reação de pessoas que estavam próximas”. Luan diz que “me jogaram no chão e eu comecei a ser brutalmente espancada. Tipo tortura. Não teve resistência, não teve discussão, eu só comecei a apanhar”. Diz Mendes que Luan é negra, é trans e pesa menos de 50 quilos e ficou sob violência de quatro policiais. Outra pessoa foi atingida nas pernas por balas de borracha. A imagem viralizou.
Razões da violência
Por que tamanha violência? Minha hipótese é que o desejo do capital em mudar a fisionomia do bairro não atinge apenas instituições, mas também servidores públicos em uma combinação perversa. Novos investimentos estão retornando ao bairro, como Blend Cidade Baixa e o Nova Olaria. O que fez a Nova Olaria? Ressignificou arquitetonicamente o lugar: saíram o cinema e a livraria para dar lugar a novos apartamentos. O bairro, famoso por sua boemia e vida agitada, que atraíram os investimentos, agora não é visto como um bairro bom para vender imóveis de alto padrão. É preciso que se mude o perfil do bairro, o que se faz também com a destruição da cultura local. E para isso, é preciso um pouco de… violência! Some-se a isso o caldo bolsonarista em integrantes da instituição e estão dadas as condições da vitimização de Luan.
Assim, fios e tramas repercutem no cotidiano das instituições. Trata-se de como nos relacionamos em sociedade sob o jugo capitalista. Mas é preciso ir além, é preciso ver a violência de que Luan foi vítima como um fio de origem longínqua. Aqui, a tese é de que ele é também o avesso da amabilidade, ou ainda, paradoxalmente, a recupera, como afirma Byung-Chul Han em Ausência: é a qualidade perdida do cumprimento. Han diz que a palavra do alto alemão antigo para cumprimentar é gruozen, cuja etimologia está longe de ser amigável. “Originalmente, significa, ‘fazer alguém falar’, ‘desafiar’, ‘perturbar’, ‘fazer chorar’”. Gruozen está relacionado ao gótico gretan, que significa “gritar”, “fazer chorar” (Han, p.179). Não é exatamente o que fez a Brigada Militar com Luan? É claro que a maior parte da corporação é formada por servidores públicos sérios e dedicados. Mas por que ainda existem aqueles que desonram a instituição? Poder-se-ia dizer que estes, ao baterem com violência, estavam apenas exercendo o modo como entendem que deve ser o “cumprimento” às populações, se isso não fosse uma atitude cínica ao extremo. Han supõe que há uma proximidade etimológica entre gruozen e groll, que significa rancor, que também é uma onomatopeia, o que pode sugerir que os policiais agrediram com violência Luan pelo rancor de ele ser o que ele é. Transfobia.
O que é interessante em Han é que ele associa o vocábulo a grunnezen, que no alto alemão moderno significa “grunhir”, no sentido exato dado pelo filósofo Grégoire Chamayou em seu livro Teoria do Drone ao falar das táticas do policiamento moderno. Não é exatamente assim que funciona uma das estratégias militares no confronto com a população, a de amedrontar o povo pelo barulho, pelo som que imita um grunhido primordial capaz de assustar grandes grupos? Assim, Han encontra na genealogia da palavra cumprimento uma origem pouco nobre, ligada a ameaça e perigo. “Provavelmente, o som gutural de gruozen é uma reação imediata a essa ameaça primordial que vem do outro, do outro ser humano. Ao emitir o som gutural ameaçador, eu desafio o outro à luta. Eu o gruozo. O efeito perturbador que vem dele só se dissipa quando ele abre mão totalmente de sua oposição, submetendo-se a mim” (Han, p. 180).
Esta não é também a exata descrição da cena de violência contra Luan? Ele foi visto como uma ameaça e foi vítima de violência. O problema é que, nesse estado que assume a prerrogativa neoliberal, a submissão da vítima não é mais o limite. Ele se declarou rendido, se entregou, mas ainda assim, a violência não cessou. Não havia nenhuma possibilidade de reação, ao contrário da citação que Han faz de Hegel, que diz que “eles devem ferir um ao outro”. Nessa cena primitiva do senhor e do escravo presente na Fenomenologia do Espírito de Hegel, diz Han que não há, ao contrário, qualquer reação, não há o momento em que “cada um anuncia seu direito ao todo” (p. 181). Isso já se perdeu. O capital, exige que todos se submetam a ele. ”O senhor não cumprimenta seu escravo amigavelmente. Ao contrário, ele deve expô-lo a uma ameaça latente e permanente para que ele permaneça seu escravo. Quem obtém o poder, a dominação, perpetua a si mesmo no outro. Para ele, o outro não existe”, diz Han (idem).
Capitalismo gruozen
Han lembra assim que o cumprimento tem uma genealogia particular porque ele foi precedido de uma luta. Minha tese é que vivemos tempos de capitalismo gruozen, não Gore, como propõe Valência, pois a produção de ferimentos e as lutas remetem a cenas primordiais de submissão e dominação. O capitalismo gruozen funciona pelo medo, pelo terror e pela defesa. Fim da dialética do senhor e do escravo substituída pela dialética do medo de que fala Virilio em Ville Panique (Cidade Pânico). Fim da luta interpessoal que levava, com a submissão, ao relaxamento e reconhecimento mútuo, fonte do cumprimento amigável. Agora, como diz Chamayou, voltamos à fase da caça na violência de que Luan foi vítima. Ali, o único reconhecimento que lhe foi oferecido foi o de ser vítima submissa. “Somente um reconhecimento mútuo transforma o gutural gruozen em um cumprimento, que ainda não é um som harmonioso, mas que, pelo menos, permite que o outro saiba que ele não me perturba, que eu reconheço sua alteridade e o aceitarei em sua alteridade” (p.183). Não, o capital não é assim, muito menos os governos que os representam. No campo simbólico onde se desenvolve também a violência contra Luan, não há dissolução alguma entre opressores e a vítima, talvez apenas no policial que também, atônito com a cena, tentou frear os colegas que insistiam com sua violência.
Na relação senhor e escravo, ainda há diálogo, há pessoas envolvidas. Na relação entre Luan e seus opressores, não. A tensão se faz em torno da relação sujeito – objeto, exatamente a que funda o capital que o governo representa. O capital funciona como produção em massa e para a massa, e, portanto, tudo o que é diferente lhe é estranho. Ele não reconhece o outro em sua diferença, como os brigadianos não reconheciam Luan e, portanto, eram incapazes de relaxar da violência, mesmo quando a vítima se rendia.
Sabemos que há bons servidores públicos brigadianos quando eles se dirigem aos cidadãos sempre com um cumprimento genuíno, um “bom dia”, seja para pedir documentos ou intercalar uma pergunta. Nesse instante, há dialogicidade e, nos termos de Heidegger, reconhecimento, que segundo ele, também é um “apelo que confere ao cumprimentado sua própria essência, e desse modo, reconhece o cumprimentado em sua essência, deixando-o ser o que é através desse reconhecimento. Sua amabilidade reside nesse deixar ser, nessa serenidade em relação ao outro” (Han, p. 184). O grau de violência a que foi submetido Luan só pode significar que, no momento do encontro, não houve amabilidade alguma. Só posso imaginar que as coisas aconteceram exatamente como descritas, sem cumprimento algum, e os policiais chegaram batendo. “O cumprimento é um acontecimento de reconhecimento” (idem).
Um dia as escolas militares ensinarão seus alunos a cumprimentarem adequadamente. Com isso, com essa atitude internalizada, eles reconhecerão a presença dos cidadãos, terão produzido um acontecimento de distinção. Quer dizer, aprenderão a conversar primeiro para usarem da prerrogativa da violência – se absolutamente necessário – depois. “O diálogo não busca uma fusão. Ele ocorre sempre em um entre que distingue e media. O cumprimento genuíno sempre mantém uma distância que está escrita nesse entre”. Há uma diferença aqui, diz Heidegger: “a amabilidade dialógica baseia-se precisamente nessa renúncia: cumprimentar é alcançar o cumprimentado, tocar em… sem realmente tocar, pegar sem nunca precisar de uma captura. Amabilidade é serenidade” (p. 186).
Os brigadianos que excederam em suas funções e praticaram o ato de violência contra Luan são parte desse caldo de cultura neoliberal. Ele também é baseado em fios que atravessam servidores públicos, essa subjetividade autoritária que diz: goze! Esta violência é atualização do gruozen de que fala Han, pois o militar que a prática “reivindica tudo para si. E o outro tem que ser nada” (idem). Vemos no episódio diversos fios: camadas militares envoltas em cultura de hostilidade arcaica cultivada no caldo bolsonarista no contexto do Estado neoliberal contra os mais pobres, contra os corpos cujas sexualidades são dissidentes, que não pensam nem dialeticamente, nem genealogicamente. Só agem no modo grouzen originário de Han.
Uma sociedade mais empática
Não há como dialogar com o capital. Em um caso ou outro, os fios terminam em poças de sangue. Os responsáveis pelos fios das ruas compartilham com representantes do poder militar a impossibilidade de diálogo com o outro. Numa palavra, não tem empatia. A desresponsabilização coletiva – de empresas, de poderes públicos – segue a mesma lógica de redução dos custos que a ordem capitalista impõe como regra das políticas neoliberais. Se de um lado, menos capital importa, que se danem a retirada dos fios das ruas; se de outro, menos estado importa, que se danem a demora na solução do problema, que se danem os direitos humanos, especialmente o direito à vida. Não há empatia, pois, nenhum dos envolvidos se coloca diante do lugar do outro, não considera o outro como pessoa: as empresas consideram como consumidor, o Estado, como contribuinte. Não olham nos olhos do outro, condição para a empatia.
Curiosamente, esta é exatamente o contrário da atitude do Extremo Oriente. Em Ausência, Han descreve esta cultura como sem olhar. Daí o cumprimento exagerado, de vergar-se, que fazem os orientais, tirando o olhar um do outro. No Japão, é considerado rude olhar diretamente nos olhos do outro. “É por conta da ausência de olhar que a aglomeração de pessoas, característica das grandes cidades do extremo oriente, não é sufocante” (p. 188). Isso não funcionaria no Brasil, pois aqui o olhar significa exatamente o contrário. Mas tem razão, Han, numa coisa: ”somente o olhar mútuo abre o espaço dialógico” (p. 189). Os brigadianos que bateram em Luan, ao contrário dos japoneses, não olham por respeito, mas para evitar um diálogo. Quando os japoneses se curvam um para o outro, isso “nivela a oposição das pessoas” (p. 189), o contrário de policiais que produzem uma violência exacerbada e sem motivo. No cumprimento japonês, nivelar é se transformar em ninguém, o vazio ou ausência, tema do livro de Han: “a reverência japonesa, a submissão mútua supera precisamente a relação de submissão” (p. 190). Na agressão, há uma presença: a daquele que violenta. Ele não é capaz, como o japonês, de negar-se a si mesmo, ao contrário, precisa do massacre do outro para existir.
A gramática do capital que se apresenta nos fios abandonados, a gramática neoliberal que se apresenta na violência das corporações, nega exatamente aquilo que funda o estado de bem-estar social, a necessidade de estar presente para o Outro.
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Foto da Capa: Reprodução de Câmera de Segurança