“A Sler é uma plataforma de textos longos” é a frase que abre a apresentação da Sler. E é ela que me persegue semanalmente quando preciso sentar e elaborar minha coluna para ser publicada às quintas-feiras. Como minha minibiografia não mente ao dizer que escrevo “sobre criação de filhos, etarismo, relações humanas e o que provoque curiosidade”, o prezado leitor pode imaginar que escolher um tema não costuma ser muito simples. O problema, portanto, não costuma ser falta de assunto, mas excesso. Em dias como os que estamos vivendo (e acompanhando o noticiário e as redes sociais como acompanho, por vício profissional), fica cada vez mais difícil escolher um único tema. Hoje, acabei me dando por vencida e decidi, ao invés de selecionar um assunto, expor parte do que me ocorreu abordar apenas na última semana para dar uma ideia da algazarra que andam fazendo minhas sinapses.
- Vendo um tutorial em vídeo para aprender a reconfigurar a minha impressora (2023 e elas ainda [não] funcionam como no século passado), descobri que a HP, em português, agora se autodenomina “êidjpí”.
- Das coisas mais bizarras que já vi: o cantor Ritchie se vê volta e meia impelido a provar para sabichões online que o abajur da sua clássica Menina Veneno é, sim “cor de carne”. Duvida? Então clica aqui.
- Eu acreditarei piamente que Deus existe e é brasileiro no dia em que Eduardo Jorge for presidente do país. Por pelo menos três mandatos seguidos. São muitas as pérolas de bom senso que ele compartilha em sua conta no Twitter, como esta: “O sectarismo ideológico na direita e na esquerda não tem limites, uma espécie de fanatismo religioso que justifica o uso da violência e da morte como método político. É uma corrida cega para um abismo. Ou é tudo ou é nada”.
- Aliás, não é porque a língua é viva que precisemos fazer tanto esforço para matá-la.
- O ideal seria que todos usassem a língua como o Pedro Gonzaga, por exemplo, que faz uma coluna em tópicos, mas não é essa bagunça aqui.
- O Fernando Haddad não tem UM amigo? Não tem ninguém para dar o toque de que o relacionamento dele com o Lula é abusivo? E não é de hoje.
- A morte de Mathew Perry não pegou ninguém de surpresa – especialmente quem leu a autobiografia dele (que adorei) que ostenta no início a frase “era para eu estar morto” – mas fez muita gente sentir como se tivesse perdido um amigo próximo ou um parente distante, mas querido. Muita gente se disse “devastada” com a perda. Eu fiquei bem arrasada.
- Por sinal, vejo que sou definitivamente uma velha tradutora rabugenta porque fico ARRASADA quando leio que alguém ficou DEVASTADO por alguma notícia ruim. Muita gente que usa devastado como sinônimo de arrasado não entende minha crítica, porque não está errado. Só acho feio. Resultado de anos de traduções preguiçosas que, feito água mole, acabaram furando a pedra dura do estilo do nosso português brasileiro tão maltratado.
- Em um único dia, cruzei em diferentes redes sociais com três posts de “privilegiades” reclamando do quanto foi difícil crescer com suas características de privilégio. Na vibe “como sofrem as pessoas lindas demais, ricas demais, homens cis hétero demais”. É *trend* nova, essa de reclamar da própria boa sorte?
- Quanto mais leio sobre os perigos da inteligência artificial, mais fica claro pra mim que a salvação está na boa e velha EDUCAÇÃO. Curiosidade, inconformismo e iconoclastia serão de muita serventia também.
- A fofoca que gerou zunzunzum (por que usar a palavra buzz, quando temos isso em português?) na impresa nacional foi uma das coisas mais chochas dos últimos tempos. Inclusive a acusação de “censura” (aspas propositais) em um podcast (cuja audiência um xuiteiro definiu como “ato ético”, o que me arrancou uma boa gargalhada) acabou ficando constrangedora depois de sabermos do que de fato se tratava. Pelo menos serviu de desculpa pra uma porção de gente que pagava (caro) pra ter uma revista pra exibir na mesa da sala (e provavelmente não ler) cancelar a assinatura. Mais um boicote que não pude fazer.
- No governo de Eduardo Jorge, além de Marina Silva como dona do meio ambiente todo (ao contrário do que ocorre hoje), quero o professor Wilson Gomes como dono da educação. É dele outra conta imperdível no Twitter (não chamarei de X jamais!), com preciosidades assim: “Tão certo como 2 mais 2 são 4 é que você será objeto do ódio da direita e da esquerda toda vez que entram em guerra sobre qualquer tema. Nenhuma posição será suficiente, se não for a adesão mais completa, sem nuances, sem distinções, sem adversativas, sem pensamento”.
- Mudando totalmente de assunto, fiquei chocada esta semana ao passar por uma publicidade de curso para se maquiar “em apenas 13 minutos”. Moça, em 13 minutos eu me maquio para casamento! E pela repercussão do meu post sobre isso no Facebook, não sou exceção.
- Termino a lista de “assuntos aleatórios que poderiam virar uma coluna completa se eu estivesse conseguindo me concentrar” pensando que preciso urgentemente reler o livro Foco, do Daniel Goleman. Problema é, a essa altura do campeonato, achar a tradução, feita quase uma década atrás, uma porcaria.
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