A sigla FoMo no inglês significa Fear of Missing Out. No português, a tradução é medo de perder ou de ficar de fora, mais um termo para conformar a ansiedade da vida contemporânea. Tudo é muito, é abundante, é imperdível. E se falta critério de hierarquia, sobra angústia. Neste momento em que escrevo o texto para a Sler, há oito trilhas de conteúdo correndo no Cais do Porto em Porto Alegre, no evento chamado South Summit Brazil. Eu escrevi certo: OITO. E para acelerar ainda mais o coraçãozinho ansioso: 600 palestrantes.
Na primeira manhã dos três dias de encontro, uma das palestras é da Maria Luiza Trajano, esta mulher maravilhosa, rica, vencedora, com consciência social, com história de superação. O painel é intitulado “Da necessidade ao impossível”. Foi impossível para mim ouvi-la. Ao mesmo tempo havia a discussão sobre como a inovação pode ampliar o acesso a vacinas – gente, que conteúdo ótimo! Havia o painel sobre ecossistema de inovação com o Jorge Audy, Ricardo Sonderman, Rodrigo Gruner. Para ampliar a ansiedade, ninguém menos que o publicitário Nizan Guanaes, premiadíssimo, disruptivo, criativo e polêmico, falando sobre o que eu preciso ouvir: o poder do desnecessário. Gente, tornar algo desnecessário é entender e valorizar o que se tem como suficiente. Não é poderoso? Que Homem! Mas como puder perder?
A abundância de ofertas não é exclusividade do South Summit Brazil, é assim no SXSW (Austin, EUA), no WebSummit (Lisboa, Portugal) e tantos outros eventos de tecnologia e inovação, A proposta é oferecer uma experiência mais rica e diversificada para os participantes. Cada trilha ou canal de conteúdo concentra um tópico ou área de interesse. As trilhas simultâneas também atendem públicos distintos: há aquelas trilhas mais generalistas para iniciantes e aquelas mais avançadas para inovadores de carreira, investidores e especialistas. Os organizadores confiam nesta estratégia para tornar o evento inclusivo e acessível para um público diversificado.
É tudo muito: o que mais me intriga é como migramos do ócio criativo para a sociedade do cansaço em menos de dez anos? A ideia do sociólogo italiano Domenico De Mais, na virada do século, era as pessoas usarem o tempo livre para estimular a criatividade e a inovação. Para ele, os espaços de oportunidade para se dedicar a atividades criativas e intelectualmente desafiadoras no tempo livre tornavam as pessoas mais produtivas e criativas na rotina de trabalho. Décadas depois, o ócio criativo nos transformou em uma sociedade cansada. A exigência individual por estar sempre em atividade intelectual e cada vez mais conectados nas mídias sociais nos fez escravos da produtividade. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han fez esta leitura uma década atrás quando escreveu que “na sociedade do cansaço, o indivíduo é o próprio opressor”.
Quando a cultura do cansaço encontra o FoMo, o sinal de alerta acende: é tempo de priorizar. Os dias de eventos de inovação e todos os outros também são sobre experiências, vivências, encontros e reencontros. Entre oito, dez ou vinte trilhas, o importante é escolher a sua saúde mental. Como vivemos a abundância informativa, os conteúdos perdidos vão circular depois, você vai ouvir o relato de outro participante e poder contar a sua experiência individual. Ela será só sua. Ninguém seguirá a mesma trilha e esta é a riqueza deste mundo diverso e repleto de oportunidades, pessoas e conteúdo. Entre tantas opções, eu escolho substituir o FoMo por FOME de conhecimento aprofundado, tranquilidade, interações de qualidade e muitas histórias para contar. Se bater o medo de ficar de fora, vou substituir o medo pela coragem de pausar, descansar e viver. Este texto eu escrevo para você refletir sobre a aceleração na sua vida, porém principalmente para mim: South Summit Brazil aqui vou eu!