Fiz essa pergunta a uma pessoa por WhatsApp, depois de uma interação rápida de troca de informações. Enviei e fiquei olhando para a pergunta ali, os dois tracinhos escuros, mostrando que ainda não haviam sido lidos. Que tipo de pergunta é essa que se faça por WhatsApp em uma segunda-feira de manhã? Pensei em apagar porque – já deve ter ficado evidente – eu gosto de conversar e às vezes me incomoda o fato de termos interações tão corriqueiras e superficiais, não só virtual, mas presencialmente também. Decidi não apagar. Azar. A pessoa vai entender que eu quero mais: do tipo, “Tá, mas agora fala sério, vamos conversar de verdade? Está tudo bem contigo?”.
A resposta veio, completa e direta. “Tudo bem”.
E agora? O que faço com esse tudo bem na minha cabeça? TUDO bem? É sério? Não, não me vem com essa, não tem como tudo estar bem. Talvez seja uma resposta apropriada para uma interação dessa natureza numa segunda-feira de manhã. Mas eu quero entender mais esse tudo bem. Será que eu consigo, em meio a atividades e carnavais, saber mais o que é o “tudo” e, principalmente, o que é o “bem”? Além disso, vejam como eu comecei a pergunta: Tirando o cansaço! Como se o cansaço fosse a única fonte do mal. Estar cansado em nossos tempos é quase sinônimo de adequado e integrado. Infelizmente.
Ainda nem passamos pelo Carnaval e já tem indícios da Páscoa no supermercado. O calor está literalmente nos cozinhando. A vida dentro da minha bolha de privilégios para as pessoas que comigo convivem está, de fato, ou ao menos parece, bem. Não tenho nenhuma pessoa das minhas relações mais próximas escancaradamente em algum tipo de privação mais severa, financeira, física ou emocional. Será que não é possível falar que está de fato tudo bem? Por que será que eu não me contento com o tudo bem? Por que será que eu sempre quero ouvir mais? Eu quero gente vibrante, entusiasmada como eu pela vida, música e poesia, mas também quero gente perplexa como eu, inquieta como eu, perturbada pelas desigualdades sociais e raciais como eu. Eu participo de alguns círculos dos quais não me orgulho muito e me cobro o motivo de ainda ser parte. Se sou parte, sou aquelas pessoas também. Hoje é segunda-feira e deveria estar tudo bem, mas não parece. Minha insegurança às vezes se mascara e aparece sorrateira em meus vínculos mais próximos e me faz duvidar de mim mesma. Coisa que eu até acho importante, mas só de vez em quando. Tenho um ano cheio de coisas boas pela frente, coisas que amo, pessoas que amo e admiro. Mas talvez tenha um medo sorrateiro que passa pela fresta da porta. Medo do futuro, medo de não me tornar o que desejo, medo de não desejar o que sou, medo de que o desejo não saiba mais desejar. Desejo é bicho selvagem, escorregadio.
Eu não sei o que eu preferiria que a pessoa tivesse me respondido. Confesso que não me convenci com o tudo bem, mas tudo bem (opa!), não é pergunta que se faça numa segunda-feira de manhã. Tudo é muita coisa, bem é um conceito relativo, e eu estou cansada demais nos últimos dias. Um carnaval por vir pode ser uma saída. Eu pulo no bloco do sossego e de passeios bonitos, não no do samba. Meu enredo me acompanha há anos e meu samba é bem peculiar. Ainda nem é março.
E por aí, fora o cansaço, tá tudo bem?
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Foto da Capa: Gerada por IA