Do alto dos meus 16 anos, decidi que queria estudar jornalismo pelo que hoje reconheço ter sido o motivo mais equivocado: eu gostava de ler e escrever. Apenas muitos anos mais tarde descobri que faltava em mim um aspecto fundamental para a profissão: curiosidade pelo que as pessoas não querem contar. O bom repórter, afinal, é o enxerido que não aceita não como resposta, que sabe quais perguntas fazer para arrancar as informações que nem ele sabe que existem e tem convicção de que não existe isso de “ser excessivamente invasivo”. Sim, eu sou curiosa, mas prefiro que outras pessoas façam esse trabalho sujo de ultrapassar os limites com os detentores das histórias. Comigo, se a pessoa não quer falar, tudo bem, vamos para a próxima pergunta (ou história).
Demorei alguns anos para entender que meu gosto maior é pela forma. Ao ponto de acabar achando interessantíssimas histórias banais, apenas porque lindamente contadas. Chego a salivar diante de textos redondos, bem trabalhados, com os termos corretos usados de maneira precisa, navegando entre sutilezas e entrelinhas, de preferência sem sobras. Se dá para contar em 10 palavras, por que usar 10 linhas? Se cabe em dois parágrafos, qual a necessidade de se estender por duas páginas? Porém, um texto bem escrito vazio de ideias é quase nada, assim como conceitos geniais mal elaborados não são muito mais.
Por vício profissional (já que desde 2012 me dedico quase exclusivamente a mexer em textos escritos por outras pessoas, seja para vertê-los para outro idioma, seja para deixá-los mais fluentes, mais claros, com menos erros), brinco que eu não leio mais, eu reviso e edito. Assim, a minha medida do quanto um texto é bom é o quanto eu consigo atravessá-lo sem fazer nenhuma dessas coisas.
Já tendo feito algumas breves oficinas de escrita criativa, entendo que haja uma técnica que pode ser ensinada e aprendida. Ainda assim, acredito que a melhor maneira de aprender a escrever com clareza é ler muito e escrever bastante. Se você acredita que tem uma boa história para contar, conte! Escreva da forma como sair. A lápis, caneta, no computador ou no bloco de notas do celular: escreva. Imagine como contaria a história para um amigo e transforme o discurso em texto. E se ainda assim não gostar do resultado, peça ajuda a alguém que goste de ler e valorize boas histórias. E que vá ser honesto sobre o que leu. Na escrita, o olhar do outro é fundamental para alcançar a excelência.