Ultima segunda-feira, 26 de agosto, 5h11min da manhã. Acordamos sobressaltados, com a casa inteira sacudindo e um ruído profundo de tom grave no ar. Demorou alguns segundos para entender, era um terremoto.
Imediatamente peguei o celular e já tinha uma notificação do sistema Android com hora exata, local e magnitude do tremor. O epicentro foi no Oceano Atlântico, perto de Sines, que fica a cerca de 40km de Lisboa. Comunicado em tempo real. Coisas da tecnologia. Foi um sismo de 5,3 na escala Richter, seguido de quatro réplicas. É o tremor de terra de maior magnitude por aqui desde 1969.
Passado o susto, o episódio desta semana entrou para a minha listinha de acontecimentos inusitados já vivenciados.
Coincidentemente, no mês de agosto, mas em 1992, a natureza nos pregou outra peça. Morávamos em Miami quando passou o furacão Andrew, considerado o mais forte e devastador já registrado na Flórida. Há um antes e um depois deste furacão.
Eu estava com cinco meses de gravidez e fomos surpreendidos com o anúncio de que um furacão se aproximava. Diferente do que acontece com os terremotos, o furacão é anunciado com antecedência. Morávamos em uma área considerada de evacuação prioritária. Um trecho estreito de terra entre o mar e o canal. Era previsto que o Andrew “batesse” ali diretamente.
A minha sogra estava com passagem comprada para nos visitar e resolvemos não dizer nada, uma vez que o voo chegaria no dia anterior ao do furacão e teríamos que sair do apartamento na manhã seguinte. Fizemos todos os procedimentos necessários: tiramos todos os quadros das paredes e objetos de decoração e colocamos dentro dos armários, cobrimos as portas da varanda e as janelas com fitas adesivas, estocamos água mineral e comida. Fomos receber nossa visita e só aí me dei conta de que a coisa era realmente séria. Aeroporto lotado de pessoas que estavam deixando a cidade. Uma tensão generalizada.
Eis que se abrem as portas do salão de desembarque e vem Dona Maria Emília com um sorriso enorme no rosto. Logo que nos abraçou, ela disse: “Vocês nem vão acreditar quem está chegando também. O príncipe Andrew! Será que vamos conseguir vê-lo? ”
Sempre que me lembro desta história, fico rindo sozinha. Um momento de descontração em meio ao caos.
Ela não entendia inglês, mas era fã do príncipe. Coitada! Levou um susto ao saber que todos estavam falando de outro Andrew.
Deixamos Miami por uns dias e quando voltamos o cenário era de destruição. Cenas que jamais vou esquecer.
Pouco tempo depois, resolvemos voltar para o Brasil.
Desembarcamos no Rio de Janeiro no final de outubro. Era fim de semana e resolvemos pegar uma prainha. Nada de mais para quem está no Rio, certo? Enrolei uma canga por cima do biquíni, deixando à mostra o enorme barrigão de sete meses. Ipanema, praia cheia, muito calor. Ficamos por cerca de uma hora na areia, mas estava muito quente e decidimos sair. Foi só pisar no calçadão e de repente a confusão começou. Olhei para trás e as pessoas estavam correndo. Olhei para cima e um helicóptero fazia rasantes com policiais armados nas portas. Sim, senhores, estávamos no meio de um dos maiores arrastões do Rio de Janeiro, naquele que ficou conhecido como o “Verão dos Arrastões”.
Conseguimos entrar em um dos restaurantes da orla e eles imediatamente trancaram todas as portas e janelas. Tivemos ali por algumas horas até tudo se acalmar e poder voltar para o hotel. Porém, o trajeto de volta não foi nada calmo. Subimos em um ônibus para percorrer poucos quarteirões e, de repente, ao parar em uma sinaleira, o cobrador grita: “Tranca tudo e pisa forte!”. Os bandidos tentaram entrar no ônibus, pelas portas e janelas. Não sei como o bebê não nasceu ali, tamanho o medo que passei.
O terremoto desta semana aqui em Portugal me fez lembrar destes outros episódios. Sorte a minha ter passado incólume por todos eles. Há quem diga que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Espero que assim seja.
Em 1755, um grande terremoto seguido de um tsunami destruiu Lisboa. Cientistas dizem que eventos assim podem se repetir num período entre 270 e 300 anos.
Melhor não fazer as contas.
Foto da Capa: Furacão Andrew em Miami / Reprodução Redes Sociais
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