Os projetos sociais começaram a surgir no Brasil a partir das primeiras décadas do século XX e hoje, no século XXI, configuram-se como uma prática cultural legitimada pela sociedade, pelo Estado e pelo mercado. Nesses projetos sociais de inclusão, o esporte é uma estratégia privilegiada. O combate à exclusão vem sendo uma das principais preocupações de organizações civis e governamentais que, entre as alternativas, têm no esporte uma das mais defendidas.
Durante a década de 80 do século passado, ocorreu um crescente número de projetos de inclusão social (PIS) que tinham como objetivo principal atender crianças e adolescentes apontados como sujeitos vulneráveis à pobreza, violência e exclusão social. O intuito era de educar e ocupar seu tempo ocioso. Até hoje, ações empreendidas por vários setores, como o público, o privado e as organizações não governamentais, além de pessoas famosas, são essenciais para a promoção da inclusão.
Estudos apontam que os PIS também são vistos como uma opção de lazer segura, que propicia atividade física e esportiva, favorecendo a socialização e oportunizando perspectiva de profissionalização. Como consequência direta, um lazer que minimiza a exposição ao contato com a violência local e com as drogas. Desta forma, a prática do esporte, ou de atividades socioeducativas, como meio de socialização positiva ou inclusão social, tem motivado a elevação do número de projetos esportivos destinados aos jovens das classes populares.
Há dados que mostram que, entre as ações de políticas públicas, cerca de 20% atendem crianças e adolescentes com idades entre sete e 14 anos, que têm no esporte um dos conteúdos mais atrativos.
Nesse contexto, surge um projeto em territórios da Zona Norte de Porto Alegre, nos bairros Passo Das Pedras e Vila Ingá. O objetivo do Projeto Golaço da Vida, além da questão de vulnerabilidade social e violência, que são temas que permeiam todo projeto social de inclusão, é atender 60 crianças (meninos e meninas) com 8 a 12 anos, reservando 20% das vagas para neurodivergentes.
Entre os tipos de neurodiversidade mais conhecidos está o TDAH, autismo, síndrome de Tourette e bipolaridade, caracterizados por sintomas como hiperatividade, oscilação de humor, dificuldade de interação social e movimentos involuntários, por exemplo. O Projeto Golaço da Vida pretende incluir e socializar através do esporte, buscando um perfil que poucos projetos sociais que incluem.
As atividades desse projeto começam em março e vão até dezembro, em turno inverso ao escolar, no Campo dos Correios, no Passo das Pedras e no CEVI (Centro Esportivo da Vila Ingá). Junto ao esporte, em escolinhas de futebol equipadas, com profissionais da área da Educação Física e Serviço Social, também são tratadas questões de formação de cidadãos, inclusão e socialização. Com a capacitação no esporte, vem o acompanhamento escolar e pedagógico, com canais nas redes da região para encaminhamentos transversais, a partir da percepção da necessidade. O trabalho conta com o apoio do Sindicato dos Atletas Profissionais de Futebol e prevê visitas e palestras de jogadores e ex-jogadores de futebol.
O Golaço da Vida é um projeto da Associação RS Futebol Clube (Real Sul), que é modelo no recente Projeto “Peneirinha Tinga”, do ex-atleta Paulo Cesar Tinga, e é financiado pelo Pro-Esporte RS, Lei de Incentivo ao Esporte. São trabalhos assim que fazem a diferença em nossa sociedade. Participe, divulgue e entre em contato pelo e-mail Marcelocarvalho06@gmail.com.
Simone Pinheiro é assessora técnica de Associações e Cooperativas de Unidades de Triagem, assistente social, mestre em Ciências Sociais e articuladora do POA Inquieta
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