A classificação em “gerações” é uma forma de tentar entender o comportamento das pessoas de uma determinada faixa etária e de como elas usam as tecnologias. Segundo a classificação americana, quem nasceu entre 1925 e 1940 são chamados de veteranos ou tradicionais, entre 1945 e 1964 são os Baby Boomers, entre 1965 e 1979 pertence a geração X, entre 1980 e 1994 é da Geração Y, também conhecida como Millennials, e a geração Z são os que nasceram de 1995 a 2010. Agora temos a geração Alpha, que é a dos nascidos de 2010-2025. Além disto tem os tais “grupos de transição das gerações”, como por exemplo: BBX (1958-1964), os XY (1976-1984), os YZ (1995-1999).
Quero analisar especificamente a Geração Z (Gen Z), os que tem entre 13 e 28 anos, pois tenho visto pessoas chamando de geração perdida e outros acreditando que será a salvadora do mundo. Trago opiniões de diversos autores que tentam explicar o comportamento e o que caracteriza esta geração. Dizem que em vez do cordão umbilical, eles nasceram com um cabo HDMI, eles “não entram na internet, estão sempre conectados”. Importante salientar que essa geração nasceu num período de crise econômica e climática e passou a pandemia presa num quarto, perdendo assim a possibilidade de construção da sociabilidade. Viram os seus pais perderem emprego e o futuro nunca lhes pareceu promissor. Se caracterizam pelo uso intensivo de tecnologia, mídias sociais, entretenimento, gostam de moda e defendem causas.
A Gen Z é apaixonada pela justiça racial, direitos LGBTQQICAPF2K+, valoriza inclusão, diversidade, igualdade e defende mudanças. Alguns autores dizem que eles são conscientes dos problemas socioambientais, engajados e querem mudar o mundo, já outros destacam que essa geração apoia causas, mas não se engaja em movimentos estudantis e políticos, e que mudanças climáticas são um problema importante para eles, mas dizem que é para ser resolvido pelos governos e pelas empresas. Eles estariam mais preocupados em salvar-se a si próprio do que salvar o mundo.
Certamente você já ouviu alguém chamar a Gen Z de “Geração Nem-Nem” – nem estudam e nem trabalham. No Rio Grande do Sul, 35% dos jovens com 19 anos não concluíram o ensino médio. Analisando mais a fundo, pode-se dizer que esses são a “Geração Sem-Sem”, sem um ensino que faça sentido para eles e sem oportunidades de emprego. Ainda adolescentes, precisam trabalhar e não estão capacitados para isso.
Sexo saiu de moda – segundo uma pesquisa da Folha de S. Paulo, em 2019, 24% dos jovens entre 18 e 24 anos não tinha relação sexual há mais de um ano. Em países como a Austrália, 40% dos jovens entre 18 e 24 anos nunca tiveram uma relação sexual. Segundo o antropólogo Michel Alcoforado, eles transam menos e gozam mais, pois transar implica num pedágio, então optam por sugadores de clitóris, masturbador masculino e outros brinquedinhos que fizeram disparar o crescimento dos sex shops em todo o mundo.
A Gen Z é muito individualista e se considera “mini CEOS de suas vidas”. Eles priorizam a carreira e os relacionamentos que se encaixem nessas condições e demoram cada vez mais para constituir família e pensar em ter filhos. A profissão mais desejada por eles é ser Youtuber. Admiram pessoas como Greta Thunberg e Malala Yousafzai pelas suas causas e por terem encontrado atalhos para se tornarem celebridades ainda muito jovens. Buscar atalhos para fazer sucesso rapidamente é uma característica dessa geração.
Diferentemente dos Millennials, a Gen Z não dá a mesma importância para o propósito e nem é fã de marcas, compra de marcas como Shein e Shopee porque o produto é barato e por ganhar pontos. As compras se tornam uma espécie de jogo e os aplicativos são um misto de rede social e game. Eles compram produto “dupe”, o tênis Balenciaga da Shopee, a bolsa Kanken, da Shoppe, chamam de “produto genérico”, uma ressignificação que deram ao produto pirata. A compra é uma terapia, uma fuga dos problemas, um mimo que se dão o direito de ter. Especialistas chamam isso de desejo do escape.
Embora eu não goste de falar “no meu tempo” ou de que a minha geração foi melhor do que as outras, sou grato de ter vivido no tempo que vivi. A minha geração, os BBX, bem como os X, foram os primeiros das suas famílias a concluir um curso superior, alguns foram o primeiro médico/engenheiro ou a primeira pessoa a concluir um doutorado da sua cidade. Vivemos num período de ditadura, de muito engajamento político, das músicas de protestos e transgredimos as regras.
Lembro de quando era adolescente ter ido com uns amigos fazer uma serenata para umas meninas, mas os vizinhos não gostaram e chamaram a polícia. Quando o Opala da Brigada chegou, saímos todos correndo e, para minha sorte, o brigadiano que saiu atrás de mim corria menos do que eu. Naquela época era comum os adolescentes, sem habilitação, roubarem o carro dos pais para “dar pau” na madrugada. Quando eu militava no movimento estudantil, muitas vezes saímos a colar cartazes em postes ou a pichar muros e ficávamos com medo de sermos presos. São pequenos exemplos de transgressões, mas que foram importantes para nos sentirmos empoderados e para continuarmos desejando mudanças.
Na geração Z, filha da classe média, já nasce com a pressão de ter uma profissão igual ou melhor que a dos seus pais. Entre eles existem as Gretas e as Malalas, assim como os que só pensam em salvar a si próprios. Talvez todos usem a tecnologia da mesma forma, mas nem todos tem os mesmos ideais, assim como na minha, nem todos eram contra a ditadura. Eu convivo com essa geração, pois é a do meu filho, dos meus sobrinhos e dos meus alunos. Não penso que os Gen Z sejam melhores ou piores que as demais gerações. Eles são diferentes e, apesar das críticas que recebem, vejo neles muita gente solidária. Por isso, eu acredito que essa moçada vai tornar o mundo melhor do que temos hoje.
Referências
– Amor e sexo: o pragmatismo da geração Z – BBC News
– Sexo saiu de moda – Canal Inconsciente Coletivo – Michel Alcoforado
– Geração CTRL Z – Caoscast
– Geração Nem Nem – Cruzando as Conversas