São dias de relâmpagos e trovões. Minha menina, assustada, pergunta por que tantos trovões? Por que tanto barulho? Eu não sei responder. A maternidade é um compilado de perguntas impossíveis, outro de respostas coringas que não respondem nada e um terceiro de perguntas que provavelmente nunca chegarão a ser feitas.
Eu não sei dizer de onde vem os trovões, filha. São precipitados de nuvens que colidem e fazem esse barulho, invento. Quando eu era pequena, diziam que Deus estaria arrastando os móveis da casa, o que justificaria o barulho. Hoje eu não acredito mais nele. Eu não gosto de trovões, mãe. Mesmo já ouvindo diversas vezes em seus 8 anos de vida ela ainda grita de medo a cada um que rompe o silêncio da casa. Decido então ensiná-la a prever trovões. Não sei de onde vem, mas posso tentar te ensinar a antecipar a chegada e assim o medo não fica tão grande. Explico sobre o relâmpago que antecede o trovão e assim, sempre que ver um raio, saberá que em seguida o barulho virá. Ela parece feliz com a possibilidade de antecipação. Mas então começa a perguntar porque a luz vem antes. Explico novamente – mães acreditam mesmo que suas explicações acomodam tudo? – que isso acontece porque a luz chega antes do som, a velocidade da onda luminosa é mais rápida do que a onda sonora. Ela parou de perguntar. Não sei se por entendimento ou desistência. Talvez entender seja uma forma de desistência e por isso crianças sempre querem entender mais, enquanto adultos já pensam entender tudo. Desistem tão rápido de tudo que desejam entender…
O inconsciente é um lugar difícil de conceber. Onde pulsam nossos desejos e temores mais profundos, onde as marcas psíquicas mais primitivas moram e fazem vizinhança barulhenta com a previsível e rasa consciência. Freud já dizia isso desde os idos de 1900, mas parece que voltamos a uma era onde a mente humana se equivale à consciência e à percepção. Somos feitos muito mais do que não sabemos nem percebemos. Certamente um relâmpago e um trovão tem explicações científicas comprovadas, mas uma criança acolhe as explicações em outras camadas junto da parte racional. Mães não fazem ciência, fazem marcas.
O cérebro mente. A mente não. E a vida é tão cheia de fenômenos inexplicáveis. O déjà-vu, que tem mil teorias, mas ninguém realmente consegue explicar o fascínio dessa sensação de que uma situação e suas cenas já foram vividas antes exatamente do mesmo jeito.
A vida é cíclica, as coisas se repetem e parece impossível entender tudo. Somos feitos de 5 sentidos e sentimos tão pouco. Queremos captar o mundo por uma via lógica, mas a vida mesmo passa por outras regências. Nem a morte, a única grande certeza, consegue ser apreendida pela mente humana. Mas isso é assunto para alguma outra semana. Não para de chover, tem goteiras e outras dúvidas surgindo por aqui. Até semana que vem.