As mexidas no ministério, promovidas pelo presidente Lula, me deixam com essa dúvida: o que é pior? A polarização política, ou a fragmentação partidária. Fiquemos com a mais recente mexida. Saiu Ana Moser. Entrou Fufuca.
Deixemos de lado as questões de gênero e fiquemos com os currículos. Ana Moser, desde sempre, se identifica e executa uma agenda progressista, inclusiva. Fufuca, ao contrário, desde sempre esteve na extremo oposto. Votou pelo impeachment de Dilma e é bolsonarista raiz. Sua ideologia é: vou aonde o vento melhor me levar…
Tudo bem… Lula ganhou a eleição por uma diferença mínima de votos e os partidos que o apoiam perderam feio a disputa pelas cadeiras no Congresso Nacional, o que o obriga a negociar com todos e com qualquer um que tenha conquistado – às vezes de carona – o direito de ocupar espaço numa daquelas conchas do prédio central da Praça dos Três Poderes.
O problema não é a negociação. O problema é o tipo e o preço da negociação. Olha só: são 21 partidos representados na Câmara dos Deputados e 12 no Senado Federal. Haja ideologia, não? Desses partidos, nove ocupam ministérios.
Será possível criar e executar uma agenda de Estado tendo que negociar – num grande varejo político, como se o governo fosse uma feira livre – cada projeto, cada programa – com partidos que, muitas vezes, atuam mais como cooperativas em defesa de interesses regionais, classistas e até pessoais do que como organizações políticas voltadas ao desenvolvimento do país e ao bem estar da população?
Há quem garanta que essas negociações e trocas nada ortodoxas dos ocupantes de cadeiras na Esplanada dos Ministérios é que garantem governabilidade, palavra que pode ser usada em qualquer discurso. Ou não?
Será que vai nascer o dia em que definiremos a governabilidade que queremos? Será a da Ana Moser? Ou a do Fufuca? A governabilidade que queremos no campo é a do petista Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, ou a do ministro da Agricultura, o pessedista Carlos Fávaro? Dá para conciliar o conceito de governabilidade da ministra Luciana Santos, do PCdoB com a do ministro Silvio Costa Filho, do Republicanos?
Há quem diga, também, que a atual gestão lulista é de transição. Estamos saindo de duas disputas onde prevaleceu o voto nem nem para, quem sabe, uma corrida em direção ao Planalto mais civilizada em 2026. Assim, Lula levaria o país alguns degraus acima na escalada para o pódio dos países sérios e desenvolvidos. A saída de Bolsonaro do cenário político favorece essa avaliação. Mas os órfãos dele já buscam agasalho sob outras asas. Estão pegando até algumas beiradinhas no governo Lula, já se vê…
Conforme for chegando o tempo da campanha, o dia da eleição, eles se agrupam outra vez. Afinal, como temos visto, aquele vaticínio de que a direita está sempre unida enquanto a esquerda só se une na cadeia segue valendo.
Até lá, o Brasil vai levando.. Andando…Às vezes de lado, às vezes quase parando, mas, com certeza no rumo certo.
Foto da Capa: Deputado André Fufuca / Lula Marques / Agência Brasil