“Gracias a la vida, que me ha dado tanto, me dio dos luceros, que cuando los abro perfecto distingo lo negro del blanco y en el alto cielo, su fondo estrellado y en las multitudes, el hombre que yo amo”.
A tradução é mais ou menos assim:
“Agradeço à vida, que tem me dado tanto. Me deu dois olhos, que, quando os abro, distingo perfeitamente o preto do branco e, no alto céu, seu fundo estrelado e, nas multidões, o homem que eu amo.”
A canção foi escrita pela cantora chilena Violeta Parra, mas foi na voz de Mercedes Sosa que ficou bastante conhecida.
Adoro essa música, e a primeira vez que a ouvi não foi nem na voz de Mercedes, nem de Violeta — foi cantarolada pela minha avó.
Muitos anos depois, num dia qualquer, estava ouvindo a música em casa e meu cérebro acabou fazendo uma leitura nada poética da letra: meus olhos já não tinham essa clareza toda.
Diferentemente da vovó, que, aos oitenta e muitos, conseguia ler até “bula de remédio” (como ela gostava de dizer), eu, ali pelos quarenta e poucos, comecei a deixar de enxergar com nitidez.
Ainda me lembro do oculista dizendo para adiar ao máximo o uso dos óculos, pois a vista iria ficar “preguiçosa”. Não deu outra: foi colocar os óculos e minha visão “deitou na rede” e resolveu tirar um longo cochilo.
Brincadeiras à parte, a verdade é que, para a maioria das pessoas, a partir dos quarenta anos, a visão vai se alterando, e o uso de óculos se torna inevitável.
Estatisticamente, depois dos quarenta e cinco anos, ninguém enxerga bem sem óculos. Não sou eu que digo, são os especialistas, que afirmam que cerca de 80% das pessoas não gostam de usar óculos e preferem sacrificar a nitidez visual a ter que usá-los.
Coisa que a gente sustenta por um tempo, mas chega um momento em que não tem mais jeito. Será que minha avó tinha superpoderes?
Conformada, passei os últimos dez anos colocando meus óculos pela manhã e só retirando antes de dormir. Miopia, astigmatismo e presbiopia: meu pacotinho particular em lentes multifocais caríssimas. Fazer o quê?
E eis que, na semana passada, aproveitei que estou passando uns dias em Brasília e fui fazer uma consulta para avaliar os olhinhos que Deus me deu.
Eu já tinha ouvido falar da cirurgia a laser, mas nunca tinha pensado seriamente no assunto — não sei se por medo, insegurança ou conformismo.
Saí do consultório com a cirurgia marcada para três dias depois. Foi assim, de supetão.
E olha eu aqui, escrevendo sem óculos o texto que você talvez esteja lendo através das suas lentes.
Cada um com suas escolhas, mas posso dizer que, para mim, foi uma boa decisão. Aposentei meus óculos no momento em que saí do hospital.
Um processo simples, indolor e muito rápido: seis segundos de laser no olho direito e quatorze no esquerdo.
Fotossensibilidade no primeiro dia, colírios por dez dias, alguns cuidados específicos durante um mês — e é isso.
Voltei a distinguir as imagens e a ler letras pequenas com facilidade.
Vejo as placas de sinalização ao dirigir e leio as legendas na TV.
Quer saber um detalhe bem bobo? Fui tomar banho e não precisei quase enfiar o frasco no olho pra saber qual era o shampoo e qual era o condicionador.
“Gracias a la vida” — e à tecnologia!
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Foto da Capa: Gerada por IA.