Durante os últimos anos, foram crescendo as ações e manifestações dos clubes de futebol com relação ao autismo. Os dias de Conscientização do Autismo e do Orgulho Autista são lembrados pelos clubes nas redes sociais e dentro de campo, o que é importante, sem sombra de dúvida.
Contudo, o que venho falar aqui é da necessidade de pensarmos em novos passos, para fazer dos estádios de futebol um espaço mais acolhedor para autistas e mais inclusivo para todos os torcedores e todas as torcedoras. Aqui em casa, levo meus filhos ao Beira Rio desde pequenos. Porém, nos últimos anos, Amir, meu filho mais velho, tem ido cada vez menos assistir os jogos do Inter. Embora goste demais de ir com os dois, entendo sua falta de vontade de ir ao estádio.
Para um autista, como ele, ir a um jogo de futebol pode ser uma grande fonte de ansiedade e desconforto. O trânsito pesado na ida e na volta do estádio, as dificuldades na hora de sentar-se nos locais em que não há lugares marcados (e mesmo onde há), somam-se ao evento com muito barulho e multidões. Muitos autistas possuem uma sensibilidade sensorial diferente das pessoas neurotípicas, sendo mais sensível a ruídos, luzes e toques, que podem causar sofrimento e tornar a experiência de ver um jogo ao vivo bastante penosa.
O futebol faz parte da vida brasileira e autistas e suas famílias não são exceção, estando presentes nas arquibancadas incentivando suas equipes. Nos últimos tempos, tivemos o surgimento de várias torcidas formada por autistas e famílias que se fazem notar por faixas que vão se tornando comuns como a dos autistas alvinegros, grupo de corintianos que contam com o apoio do goleiro Cássio, ídolo da equipe e ele também pai de uma criança autista.
O Corinthians, clube que tem sido bastante ativo em questões sociais, saltou na frente, com salas com isolamento acústico em seu estádio, além de ingressos grátis para autistas e até 3 ingressos com desconto de 50% para acompanhantes.
As salas adaptadas costumam ter, também, maior conforto térmico e uma iluminação menos agressiva. É comum que os clubes ofereceram atividades para esses apoiadores, assim como TV e videogames.
Outros clubes também tomaram ações de inclusão. O Coritiba também tem a sua sala adaptada em sua casa. Já o Cuiabá tem levado oito crianças autistas por jogo — junto de seus acompanhantes — para um camarote na Arena Pantanal nas partidas do Brasileirão. O Goiás também tem um camarote específico em seu estádio, aberto também para pessoas com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), enquanto o Fortaleza disponibiliza abafadores de som para seus torcedores autistas.
Projetos de lei nesse sentido tramitam em diversos estados, Distrito Federal e municípios determinando que estádios de futebol e outras instalações esportivas sejam dotadas com salas com isolamento acústico para atender aos torcedores autistas. Uma lei nesse sentido já foi aprovada no município do Rio de Janeiro.
No Beira Rio, estádio que frequentamos, os autistas são recebidos por monitores que atendem a todas pessoas com deficiência. Sempre nos sentimos acolhidos e bem recebidos. Não há um local específico, como em outros estádios e a proximidade desses locais com os instrumentos das torcidas organizadas faz com que, muitas vezes, nossa opção seja por outros lugares não tão barulhentos na “cancha”.
É evidente que um jogo de futebol não deixará de ser barulhento e cheio de gente. Porém, um maior cuidado com esses torcedores poderá garantir uma melhor experiência para autistas e suas famílias e, quem sabe, nós voltaremos a irmos juntos ao estádio mais frequentemente.
Se a rivalidade entre Inter e Grêmio faz com que um sempre busque superar o outro, quem sabe não é hora de começarmos um Gre-Nal pela inclusão. Neste jogo, todos poderão ser vencedores.
Foto da Capa: Torcida do Atlético Mineiro / Divulgação