No dia 5 de junho celebra-se o Dia Mundial do Meio Ambiente e nesta semana ocorrem muitas atividades relacionadas ao tema. Este ano o Rio Grande do Sul está passando por mais um evento extremo, um dos gemidos da natureza. Cada vez fica mais claro para mais gente quais são as causas destes eventos, mas ainda persistem muitas dúvidas e questionamentos sobre diversos aspectos da relação do homem com a natureza. Com toda esta tragédia acontecendo no RS, é de se perguntar por que alguns odeiam os que defendem a proteção ambiental? Resolvi então formular e responder tais questões.
O que está acontecendo no RS é um processo natural ou devido à ação do homem?
Circulou na internet uma foto do Mercado Público de Porto Alegre inundado em 1941 e em 2024 e dizendo que isto é a prova que não existe aquecimento global, pois na primeira enchente não existia aquecimento global. A resposta é muito simples. Eventos extremos ocorrem naturalmente, mas uma vez a cada século ou intervalos longos. Mas agora é diferente, das quatro maiores cheias do Guaíba, três ocorreram nos últimos nove meses (1° lugar: abril/maio 2024, 2° lugar: 1941, 3° lugar: setembro 2023 e 4° lugar: novembro 2023). Não é coincidência que os eventos extremos se intensificaram à medida que aumentou a concentração de CO2 na atmosfera. Do total, 42% das emissões dos gases de efeito estufa ocorreram depois de 1990.
A Sustentabilidade atrapalha o progresso econômico?
Há cerca de 20-30 anos o setor industrial via as medidas de controle da poluição como custos adicionais e perda de competitividade. Mas, semelhante ao que ocorreu com o movimento da qualidade total, logo perceberam que “ser mais sustentável” significa ser mais eficiente nos seus processos. Ou seja, as empresas que geravam menos resíduos eram as que aproveitavam melhor a matéria-prima. As que separavam os resíduos adequadamente, conseguiam reaproveitá-los ou até comercializá-los. Com medidas educativas conseguiram reduzir o consumo de água e energia nos processos fabris. Hoje, a sustentabilidade é de interesse da grande maioria das indústrias e do setor de serviços. Outros setores ainda estão divididos entre os que avançaram e os que insistem em manter os métodos tradicionais, como é o caso dos agronegócios, mineração e setor imobiliário. O meio ambiente “atrapalha” a ganância, pois geralmente a crítica é porque não é permitido construir prédios em áreas de preservação ambiental ou de interesse público. No campo, existe uma resistência para mudar para uma agropecuária regenerativa, que preserve o solo, que integre culturas e que tem se mostrado mais lucrativa a médio e longo prazo. Portanto, a resposta é “não”! Não atrapalha o progresso econômico. Ao contrário, a sustentabilidade é uma boa oportunidade de gerar novos negócios e aumentar os lucros.
Ambientalóides, Ecochatos, Esquerdopatas… porque eles são odiados?
Pesquisei sobre a origem do ódio às pessoas que defendem as causas ambientais. A explicação mais razoável que encontrei foi da pesquisadora de Harvard Naomi Oreskes, que diz que alguns cientistas americanos renomados se tornaram negacionistas e inimigos do movimento ambientalista porque temiam que as regulações ambientais pudessem desembocar no socialismo. O medo de que leis ambientais atrapalhassem os negócios das grandes corporações levou à criação de institutos e fundações que financiam iniciativas produtoras de fake news e ações enganosas pelo mundo todo até os dias de hoje. Na sua origem, o movimento ambientalista era rejeitado pela esquerda, e ainda é por parte dela, por ser considerado uma causa “pequeno burguesa”. Foi a direita americana que passou a chamá-lo de comunista, assim como todos que se opunham aos seus interesses, e que usou a figura da melancia para dizer que os ambientalistas são “verdes por fora e vermelhos por dentro”.
Licenciamento ambiental e a flexibilização da legislação ambiental
Por desconhecimento, algumas pessoas faziam a poda das árvores na época errada, pescavam na época errada, caçavam animais em extinção etc. O ideal seria que tivesse sido feita uma campanha educativa e que todos obedecessem, mas o caminho seguido foi a criação de leis e a punição dos infratores. Feita a lei, é necessário ter órgão de fiscalização e controle. Em alguns casos estes órgãos são rápidos e eficientes e em outros, não. Existe o tal “criar dificuldades para vender facilidades”. Então, um cidadão que deseja podar a árvore no pátio da sua casa pode ficar muito irritado com a burocracia e com a demora para poder fazer isto e, como consequência, se torna favorável a “flexibilização” das leis ambientais. Ele não sabe que a proposta de flexibilização da legislação ambiental que está no Congresso e nas Assembleias vai muito além da poda das árvores, vai permitir privatizar partes do litoral brasileiro e quer aproveitar este descontentamento popular para “passar a boiada”.
Existem muitas outras questões a serem comentadas, mas o importante é esclarecermos as pessoas cada vez que surgirem dúvidas. E quanto ao “aniversário do Meio Ambiente”, a minha sugestão é que cada um de nós assine a petição nociva ao meio ambiente, solicitando ao Senador Rodrigo Pacheco que não coloque em votação a PEC 03/22 que privatiza as praias brasileiras (emenda à Constituição que permite privatizar áreas de praia que hoje pertencem à União). Clique Aqui.
“Quando a última árvore for cortada,
quando o último rio for poluído,
quando o último peixe for pescado,
aí sim eles verão que dinheiro não se come…”
(Tatanka yatanka – Touro Sentado – Chefe Sioux)
Foto da Capa: Reprodução redes sociais.
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