Anitta subiu ao palco do WMA 22 e tocou aquele funk “Movimento Sanfoninha”, mostrando ao mundo a potência rítmica das favelas cariocas. No discurso, ela frisa isto: “Sou nascida e criada no Gueto. E essa noite eu performei um gênero que por muitos anos foi considerado crime no Brasil…” Anitta desconcerta, Anitta é julgada pela elite Brasileira, Anitta dividi opiniões e Anitta entrega a famosa frase de Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra…” Anitta não é unânime e quebra todos os paradigmas atingindo resultados que nenhum outro brasileiro ou brasileira atingiu no showbusiness internacional.
Mas o gênero que Anitta abraça e está levando como disrupção é o que me interessa analisar: o funk. “Quem faz careta para o funk hoje é neto de quem discriminou o samba ontem e bisneto de quem condenou a capoeira anteontem. “Já dizia Mr. Catra, se o funk é hoje um dos mais populares e fortes estilos musicais do país, isso se deve também a Mr. Catra” – que, assim como ele próprio fez em sua trajetória pessoal, ajudou a tanto solidificar o estilo dentro dos bailes e das favelas, como levá-lo para fora de tais limites, na direção das classes mais altas, e lembrar nem somente de violência e pobreza as favelas são feitas – são também, e muito, feitas de arte. Sem jamais abandonar o estilo, Catra fez uma carreira de sucesso que hoje o coloca como uma figura fundadora dentro do gênero: seja qual for o futuro do funk, ele passará direta ou indiretamente pela voz rouca, grave e inconfundível de Mr. Catra.
Com certeza, o funk é um dos pilares da cultura brasileira, portanto, ele tem sua importância. O gênero se conecta muito com a juventude, uma vez que ela se sente representada pelas letras. Além disso, é de sensibilidade da população entender que o movimento funk é o maior movimento político e cultural que conversa com essa parte da população, mas é “esquecida” pelo Estado.
Esses jovens encontraram no funk uma oportunidade de ascensão social, saindo da vida simples e conquistando seu dinheiro, tudo em nome de ajudar seus amigos e família. Foi assim também que surgiu a vertente do “funk ostentação”, com músicas que falavam sobre o sucesso financeiro no cenário musical e a conquista de poder aquisitivo por pessoas que vieram da periferia.
Atualmente, o funk movimenta milhões na indústria da música e um dos maiores exemplos é o Canal Kondzilla, da Kondzilla Filmes. Não sendo coincidência, o clipe brasileiro mais acessado da plataforma também é do mesmo canal. Prestes a atingir um bilhão de visualizações, “Bum bum tam tam”, de MC Fioti, mistura a música erudita de Partita de la menor, de Johann Sebastian Bach, com a batida do funk. Quem imaginou que o funk usaria elementos da música clássica para montar um som?
A rejeição ao Funk é fundamentada na frase de Mr. Catra… é a rejeição da elite brasileira em ver o Brasil como é: negro, periférico, mas potente, hackeador do sistema e inovador a partir das suas precariedades.
“Antes de cantar, eu nunca tinha ido à zona sul do Rio de Janeiro. Então é muito difícil você cantar o ‘barquinho vai, à tardinha cai’ (fazendo referência à Bossa Nova) se você nunca viu essas coisas. O funkeiro canta a realidade dele. Se ele acorda, abre a janela e vê gente armada e se drogando, gente se prostituindo, essa é a realidade dele. Para mudar as letras do funk, você tem que mudar antes a realidade de quem está naquela área,” declarou Anitta em Harvard, em 2018.
Vai com tudo Anitta e ensina, através de suas conquistas, que existe uma geração ancestral do Funk por trás de ti.