Ser mulher negra é reafirmar a sua trajetória e o seu (re)existir no mundo através da sua identidade sobre o olhar sobre o corpo em seu biotipo, tonalidade da pele, curvatura dos cabelos. É um constante encontro e reencontro com a sua estética
A beleza preta está em constante desafio, pois a discriminação é perpetuada pelas características físicas que a compõe. É um exercício estético em ato político em um mundo uniformizado pelo olhar ocidental. Os padrões foram criados para rotular os indivíduos e invisibilizar as trajetórias individuais e autênticas dos indivíduos. Nossa ancestralidade, saberes e cultura são um exercício estético.
Qual o seu padrão de beleza?
A influência da mídia na construção de estereótipos e padrões estéticos distorcem a autopercepção, a autoestima de mulheres negras desde a infância, através de um imaginário fantasioso de corpos, que valoriza um tipo único de estética: branca e europeia, para legitimar a supremacia branca em normatizar os padrões de belo e do não-belo.
A interseccionalidade está relacionada a um sistema de opressões que discrimina indivíduos por suas diferenças a partir de categorias sociais em relação ao gênero, raça, classe, etnia, deficiência, sexualidade. São categorias que se entrecruzam e potencializam os processos discriminatórios e estão diretamente relacionados à estética.
Para contextualizar: uma mulher negra e lésbica não sofrerá apenas por ser negra, mas o racismo que a agride virá com uma carga de machismo e lesbofobia.
Esse ato discriminatório é também um ato de resistir e manifestar o autoamor entre nós, individual e coletivamente, envolve respeitarmos e entendermos a riqueza da nossa diversidade.
Vamos aprimorar o nosso olhar sobre o outro. Todos e Todas. Evoluímos como seres humanos quando ampliamos o nosso olhar e as nossas atitudes sobre um mundo que está em processo de mudanças positivas. Ainda bem!
Amamos nosso cabelo e as suas diversas manifestações estéticas. Eles falam da história, da genética, pois são uma forma de expressão na vida. Nossa pele tem tonalidades que contam nossas origens, nossas formas corporais foram esculpidas pelos nossos ancestrais e esse corpo em movimento precisa ser cuidado por políticas públicas antirracistas.
Desejo que cada uma de nós, encontre a sua essência e a sua própria beleza. É um ato libertador. Não tenha pressa. Estamos impregnadas de dogmas, normas e estereótipos de um modelo que não fala sobre nós. Encontre o seu estilo, alie a sua personalidade ao seu ideal de beleza. Cuide da saúde física e mental. Exercite o amor-próprio para poder discernir as diversas manifestações de afeto e sentimentos nas relações.
Isso de fato te tornará bela, única e fortalecida para enfrentar o racismo.
Gisele Tertuliano é Enfermeira, Cientista Social, Doutora em Saúde Coletiva