Ainda sob os ecos do Dia Internacional da Mulher, trago verdades. Recentemente foram divulgados dados sobre a igualdade de gênero aqui em Portugal. As informações estão no Boletim Estatístico 2024 da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Gênero e não chegam a ser uma novidade.
No dia a dia, não é difícil perceber que ainda há um grande caminho a ser percorrido, mas quando os números são esfregados na nossa cara, o impacto é ainda maior.
Para começar, no que diz respeito às tarefas da casa, a balança não está equilibrada. São as mulheres que mais cuidam da roupa (77,8%), fazem as refeições (65%) e mantêm a casa limpa (59,3%).
Quando o assunto é o cuidado com os filhos, 64,7% das mães são responsáveis por vestir as crianças, 63,7% ficam em casa quando elas adoecem e 55,6% é que levam as crianças ao médico. Com os deveres escolares também não é diferente. Os pais ajudam menos, apenas 46,5% chamam para si esta responsabilidade.
Na área da educação, há boas e más notícias. A taxa de abandono escolar precoce caiu entre 2018 e 2023, mas pouco a pouco vem aumentando para ambos os gêneros. Em 2023, 10% dos meninos abandonaram os estudos antes do tempo, contra 6,1% das meninas. No ensino obrigatório, o número de matriculados é equilibrado entre meninos e meninas e no ensino superior as mulheres são maioria (54,1%), especialmente nas áreas de Educação (79,3%) e Saúde (79%). Porém, ainda são minoria em Engenharia (32%) e Tecnologias da Informação e Comunicação (19,9%). Por outro lado, nos cursos de graduação, mestrado e doutorado, as mulheres são maioria: 59,4%, 52,8% e 54%, respectivamente.
Apesar de haver um certo equilíbrio entre homens e mulheres no que diz respeito à formação, isto não se reflete necessariamente no mercado de trabalho, onde os homens continuam em vantagem.
Os homens têm uma taxa de empregabilidade superior (60,3% contra 52,7% das mulheres). Na faixa etária de 20 a 64 anos, a meta da União Europeia é de 75%, e Portugal atingiu esse objetivo, mas ainda com desigualdade: 81,1% dos homens estão empregados, contra 75,5% das mulheres.
No mundo empresarial, o desequilíbrio é claro: 69,9% dos empregadores são homens e mais da metade tem apenas o ensino básico. Somente 25% possuem ensino superior. Já as mulheres representam 30,1% dos empregadores, porém 35% delas têm ensino superior. E apenas 36,9% das mulheres ocupam cargos de liderança dentro das corporações.
Falando de remuneração, a diferença salarial continua gritante. Em 2022, os homens recebiam, em média, 1.209,80 euros de salário base, enquanto as mulheres ganhavam 1.049,80 euros – uma diferença de 13,2%. Se considerarmos todos os rendimentos, a desigualdade fica ainda maior: elas ganham, em média, 16% a menos. Para mulheres com ensino superior, essa diferença chega a 642,31 euros por mês, e para cargos de alto escalão, o valor sobe para 754,08 euros.
Na política, o cenário também não melhora muito. A Lei da Paridade, que exige pelo menos 40% de mulheres em cargos políticos, ainda não foi cumprida. Atualmente, só 33% dos deputados na Assembleia da República são mulheres, e entre os 308 municípios, apenas 29 têm uma mulher como presidente da câmara.
E, quando chega a hora de relaxar, a desigualdade persiste. Nem na aposentadoria as mulheres têm trégua. A partir dos 65 anos, o risco de pobreza é maior entre as mulheres (19,3% contra 14,1% dos homens).
São muitos números e bastante frios, mas a realidade é latente. Portugal avança, mas não com a celeridade necessária.
A pergunta que fica é: até quando?
Nós até aceitamos flores, mas queremos respeito e igualdade também.
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