Desde o último 7 de outubro, não sei quantas vezes me perguntaram de que lado eu estou na guerra entre Israel e o Hamas, e eu só consigo responder a verdade: do lado do fim da guerra. Em não tendo qualquer poder ou influência sobre nem sequer um ator (ou até mesmo figurante) do conflito e da situação naquela região do mundo, eu me sinto no direito (e também no dever) de desejar o que seria de se esperar num mundo ideal.
Num mundo ideal, a letra de Imagine, de John Lennon, seria uma espécie de carta magna global que deixaria claro que não há um paraíso, que acima de nós há apenas o céu e todos viveriam o momento presente. Isso tudo em um planeta que não fosse dividido em países e, portanto, não houvesse nada pelo que matar ou morrer. Tampouco religiões. Com isso, todos viveriam a vida em paz, sem posses, sem ganância e sem fome, uma verdadeira irmandade.
Nesse mundo ideal:
- ninguém veria sentido em se posicionar de qualquer lado que causasse mortes, sofrimentos e miséria a qualquer pessoa;
- as pessoas se cumprimentariam ao cruzarem umas pelas outras, desejando bom dia, boa tarde, boa noite, reconhecendo a existência do outro e o respeito mútuo;
- os motoristas andariam conforme as regras determinadas pela legislação e não andariam a 40 km/h na pista da esquerda de uma via de alta velocidade, tampouco ficariam dando sinal de luz atrás de um carro andando a 40 km/h em uma via estreita, com trânsito de crianças;
- ninguém mais faria comentários sobre o corpo alheio, nem elogiando magreza, nem questionando gordura, nem sugerindo dietas, exercícios ou fórmulas mágicas para melhorar a forma;
- todos respeitariam as diferenças inerentes a cada cultura e etnia, demonstrando curiosidade sobre a visão do mundo do outro e argumentando de maneira respeitosa sobre o que lhe causasse espécie, na busca não de modificar, mas de compreender melhor a realidade diferente da sua;
- as pessoas teriam o hábito de, depois de algum tempo de debate com argumentações baseadas em ideias e conceitos, em não havendo o convencimento do outro, concordar em discordar sobre o tema em questão, sem prejuízo do relacionamento;
- o consumo seria reduzido ao necessário, mas esse necessário estaria relacionado ao gosto do freguês. As pessoas não acumulariam bens, mas experiências: o consumo de arte, esportes, gastronomia, viagens seria aberto às vontades individuais…
A lista, breve, não dá conta do tanto de maravilhas que é possível imaginar nos nossos melhores sonhos, mas sei que o prezado leitor entendeu a ideia. No mundo ideal, pelo menos, entenderia.
Foto da Capa: Memorial para John Lennon, Central Park, NY