A pesquisa Datafolha sobre o segundo turno da eleição paulistana, publicada no dia 10 deste outubro, traz um dado, pelo menos para mim, um tanto assustador, senão bastante… Trato da eleição em São Paulo pela óbvia importância da cidade: o prefeito que tenta a reeleição lidera a corrida com a preferência de 55% das eleitoras e dos eleitores.
E aí vem o que me espanta: 68% das pessoas que votam em Ricardo Nunes não o escolheram por acharem que ele é um bom prefeito. Vão votar nele porque não tem opção melhor… Chato isso, não?
Some esses 68% aos 37% que não votariam no prefeito de jeito nenhum e aos 33% que vão votar em Guilherme Boulos e verá que a grande maioria dos paulistanos vai deixar na prefeitura um homem que, segundo eles (paulistanos) mesmos, não merece estar lá…
Abro parênteses para não dizer que não falei do Boulos. A situação dele é só um pouquinho diferente, e melhorzinha, do que a do atual prefeito. Dos 33% que voam nele no segundo turno, 56% dizem que o escolheram por ser o melhor candidato. Outros 43% escolheram Boulos por falta de alternativa melhor, o que também é muita gente… Fecho parênteses.
De onde vem essa descrença na política e esse conformismo que leva quase todo mundo a preferir deixar tudo como está a atuar para mudar o status quo?
O que leva uma cidadã, um cidadão, a sair de casa para exercer o direito de voto, único que lhe garante liberdade absoluta, e, em vez de manifestar sua indignação com o que acha errado, prefere, simples e comodamente, deixar tudo como está? E, simplesmente, deixar como está para ver como fica?
Os responsáveis por essa alienação política são os dirigentes dos partidos. Uns, os da direita, se beneficiem desse deixa estar pra ver como é que fica. Esses vão lá onde está o povo mais vulnerável levando o discurso da Teologia da Prosperidade. Com a balela de que quem quer alcança a prosperidade, como dizia o meio coach, meio pastor, Pablo Marçal, prometendo transformar todo o pobre em empreendedores, na vã tentativa de chegar à Prefeitura de São Paulo.
Enquanto isso, a esquerda preferiu o discurso social, identitário, ideológico, que não pode ser criticado, mas que deveria ter ingredientes para, no mínimo, neutralizar o rasteiro, demagógico, mas eficiente para uma população vulnerável e desinformada.
Já tem gente falando em marçalismo, ou os progressistas e a esquerda atentam para isso, ou, já, já, a sonhada terceira via será outra trilha com mão à direita em alta velocidade. Será que vão deixar surgir uma multiplicação de marçais?
Deixo, para finalizar, declarações do sociólogo Jessé Souza em entrevista a O Globo neste domingo, 13 de outubro:
“Passamos por um processo de idiotização das pessoas e de inação dos que deveriam fazer um trabalho de base de qualidade. Quando comecei a entrevistar, para o livro (O pobre de direita – a vingança dos bastardos), há alguns anos, pessoas das periferias de São Paulo, me desesperei. O quadro já era o de ‘tá dominado’ pela Teologia da Prosperidade, neoliberal e reacionária”.
Mais do professor Jessé Souza:
“A esquerda precisa fazer o que fiz ao escrever este livro: ir à periferia e se desesperar. O Bolsa Família foi importantíssimo, mas a esquerda não ofereceu o escape da humilhação que é estar na posição de delinquente no mundo de hoje. O pobre que ganha R$ 4 mil criminaliza o ‘nordestino miserável que mama no Bolsa Família’ e crê de fato que o sustenta. Friso, só há um jeito de se sair da armadilha do pobre de direita e disputar de verdade seu voto: explicar a ele as razões das injustiças sociais e de sua escolha momentânea equivocada por um moralismo repressor”.
Foto da Capa: Montagem com imagens reproduzidas da Band
Todos os textos de Fernando Guedes estão AQUI.