O movimento foi criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos e é celebrado anualmente no mundo todo. O Brasil aderiu à campanha do Outubro Rosa em 2010, com o apoio do INCA, como forma de conscientizar a população feminina sobre a importância do autocuidado.
Vamos fazer uma análise interseccional sobre o Outubro Rosa?
Para pensar as ações preventivas no Outubro Rosa é obrigatório reconhecer a determinação de fatores socioculturais, tais como gênero e etnia, os quais influenciam fortemente as experiências de pacientes, seus familiares e comunidade.
Ao aprofundar as estatísticas da doença no país, desagregando os dados por raça/cor, no ano de 2019 o Instituto Nacional do Câncer (INCA) apresentou evidências de que a taxa de mortalidade por câncer de mama entre as mulheres negras era maior: 10% superior à observada para mulheres não negras. O Instituto classifica uma das causas relacionadas ao aumento das mortes é o diagnóstico tardio da doença.
Estudos subsequentes apontam que dez anos após a doença, apenas 44% das mulheres negras encontravam-se recuperadas, em contraste com 69,5% de mulheres brancas sobreviventes de um câncer. Além disso, as mulheres negras tiveram um pior prognóstico clínico, bem como apresentaram um estadiamento (grau de disseminação do câncer) mais avançado do tumor no momento do diagnóstico.
Você já viu um folder sobre a prevenção do câncer de mama? Qual era a cor da mama na ilustração ou foto?
Estamos falando de acesso às ações preventivas como: ser reconhecida em um folder que aborda questões preventivas. Acesso aos exames preventivos, de diagnóstico e tratamento precoce no SUS. Mulheres negras tendem a fazer menos mamografias de rastreamento, passam em menos consultas de enfermagem, médicas e com especialistas.
Integralidade do Cuidado
Momento de aproveitar a consulta para reforçar a importância da prevenção de outros agravos e doenças, realizando avaliação de risco para doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, estimular hábitos saudáveis e garantir seus direitos reprodutivos.
Para continuarmos falando de inclusão e autocuidado, é importante repensar os conteúdos cissexistas das campanhas preventivas que excluem pessoas travestis, mulheres trans, homens trans, pessoas transmasculinas, pessoas não binárias e intersexo, que geram de desinformação, promovendo barreiras de acesso e violando direitos de acesso ao SUS universal, igualitário e equânime.
Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia, o risco de câncer de mama em mulheres trans, poderá estar ligado aos hormônios de afirmação de gênero para reduzir o sofrimento psicológico e induzir mudanças físicas desejadas.
De acordo com uma pesquisa realizada pela University Medical Center, em Amsterdã, as mulheres trans têm cerca de 47 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que os homens cisgênero (que se identificam com o gênero corresponde ao que lhes foi atribuído no nascimento). Embora isso possa parecer um grande aumento, é importante lembrar que o câncer de mama em homens cis é raro (cerca de 1% do total dos diagnósticos).
A Sociedade Brasileira de Mastologia alerta também que homens trans, que passam pela mastectomia (retirada das mamas), não anulam por completo o risco de câncer de mama, pois há tecido mamário em prolongamentos axilares e pode haver risco de câncer no tecido subcutâneo preservado.
O diagnóstico precoce garante a vida.
*Gisele Cristina Tertuliano é Enfermeira, Cientista Social, Doutora em Saúde Coletiva.