Há poucas semanas eu escrevi um artigo nesse espaço que falava que o Ecossistema de Inovação de Porto Alegre havia florescido. No mesmo artigo, eu também colocava a necessidade de construirmos uma tese clara sobre qual ecossistema de inovação estamos criando e qual o seu propósito na perspectiva de futuro da nossa cidade. Questionava como poderíamos, através da inovação e da criatividade, tornar nossa cidade mais inclusiva, mais sustentável e mais diversa.
A resposta veio de fora, na semana passada, com a primeira visita oficial, como consultor do projeto Territórios Inovadores do Pacto alegre, do amigo Santiago Uribe, antropólogo e diretor do Escritório de Resiliência de Medellin. Santiago é formado na prática dentro de contextos de desenvolvimento inclusivo e mediação de conflitos em países tão diversos como El Salvador, África do Sul, EUA e obviamente Colômbia.
Santiago nos disse em dezenas de palestras e reuniões que teve na última semana, literalmente o seguinte: “A real Inovação de Porto Alegre só será possível através da transformação dos seus territórios periféricos”
Bingo!
No POA Inquieta tivemos a felicidade de fazer três missões para estudar a transformação de Medellin. Em todas as Missões (faremos a quarta em outubro próximo), fomos generosamente recebidos pelo Santiago e posso dizer que conhecemos Medellin muito a partir das suas lentes. O primeiro grande aprendizado diz respeito à temporalidade. Entendemos em Medellin que é possível transformar uma cidade em poucas décadas, mas que é impossível fazer isso em poucos anos.
A lógica e o modelo mental de 4 anos da classe política brasileira é antagônica com a visão que não seja de curto prazo. A transformação das grandes cidades sul-americanas e seus problemas estruturantes não é tarefa para o protagonismo dos políticos, é tarefa para a Sociedade (que inclui os políticos), nutrida com muita cultura cidadã, resiliência e visão de longo prazo.
Depois, aprendemos que não existe real inovação numa cidade de desigualdades gigantescas se não criarmos oportunidades para todos. Numa grande cidade, para sua gente acessar às oportunidades é preciso deslocar-se. Sendo assim, o principal desafio é construir um sistema de transporte público inteligente, eficiente, multimodal e que atenda a TODOS territórios com tarifas justas e frequência adequada.
O sistema de mobilidade multimodal, acessando com qualidade a todas “comunas” de Medellin, é a base de todo modelo de desenvolvimento da Cidade. Em termos de grandes projetos penso que esse deveria ser nosso principal desafio para os horizontes de curto, médio e longo prazo em Porto Alegre.
Por fim, apreendemos também que é através do pensamento criativo, da reimaginação do futuro com muita participação e do protagonismo das comunidades que poderemos transformar os territórios periféricos da nossa cidade.
As Comunas de Medellin nos sugerem todos os caminhos e o Projeto Territórios Inovadores do Pacto Alegre parece ser a nossa bala de prata.
*Cesar Paz é empreendedor e articulador do POA Inquieta
Foto da Capa: Escadas rolantes na periferia de Medelín – Divulgação