Esse artigo, é bom esclarecer, não trata apenas de tecnologia, mas também de como o ser humano deve se tornar beneficiário e não refém das inovações tecnológicas, em especial os 60+.
A Inteligência Artificial é, provavelmente, a inovação tecnológica que tem evoluído numa velocidade bem acima da média. E estamos assistindo apenas a largada da corrida. Tudo começou quando a CPU (Unidade Central de Processamento) – chip responsável pelo processamento de dados de computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos – deu lugar à GPU (Unidade Gráfica de Processamento) – criada originalmente para atender a indústria de games, com capacidade de processamento gráfico simultâneo e bem mais veloz que as CPUs. Resultado: as máquinas mostraram capacidade, até então desconhecida, de processar e combinar uma quantidade enorme de informações, aproximando-se cada vez mais do funcionamento do cérebro humano.
E mais: convertem conteúdos não apenas em forma textual ou numeral, mas também visual.
Três principais tecnologias que dão suporte a IA
- Machine Learning: máquinas aprendem a reproduzir o comportamento humano com elevado grau de precisão;
- Deep Learning: modelos de aprendizagem complexos capazes de reconhecer padrões de imagens, textos, sons e outros dados para produzir insights e previsões precisas. Assemelha-se ao funcionamento das redes neurais do cérebro humano.
- Large Language Models: amplo modelo de linguagem, apoiado nas tecnologias anteriores, que responde a inputs humanos, conhecidos como “prompts”, expressos na forma de perguntas ou enunciados textuais. A IA Generativa, que se popularizou com ChatGPT, utiliza essa tecnologia.
Com ou sem nosso consentimento – ou conhecimento – IA vai avançar. A pandemia mostrou com todas as letras que a era digital chegou para ficar. Em diversas funções, as máquinas – ou softwares – substituíram os humanos e, sinto informar: não tem volta. A Inteligência Artificial, que em 2020 era uma conversa de laboratório, tornou-se uma realidade tão disruptiva, que surpreendeu até mesmo os autores de ficção. É também um caminho sem volta. Precisamos aprender a conviver com ela ou corremos o risco de ampliar a exclusão digital de milhões de brasileiros. Essa é uma missão coletiva, que envolve governos, empresas, academia e sociedade civil.
Vamos aos números. Apesar do percentual ter caído de 40% para 30%, o Brasil ainda tem um número elevado de analfabetos funcionais, que são pessoas que sabem ler e escrever, mas não têm capacidade de compreender um texto ou resolver uma equação matemática. Somado a isso, o país tem 11,5 milhões de analfabetos, segundo o IBGE. Fazendo um recorte na população idosa, estamos falando de um universo de 35 milhões de brasileiros, contingente que cresce a média de 2 por minuto. Ou seja: em alguns anos seremos um país idoso, com mais pessoas acima dos 60 anos do que jovens até 15 anos. O envelhecimento acelerado da população torna esse gap ainda mais complexo. O desafio está posto: como promover a inclusão digital de milhões de brasileiros, ao mesmo tempo em que IA quebra paradigmas e só está acessível a pessoas com alto nível de escolaridade?
É fato que IA Generativa é amigável e assemelha-se à funcionalidade do WhatsApp, como explica o expert em TI, Sérgio Grinberg. Problema é que para obter boas respostas é preciso formular boas perguntas e aí o bicho pega. Assisti recentemente o lançamento da versão do GPT4o, da Open AI. Incrível! A tecnologia responde a perguntas com expressões comuns aos seres humanos, conversa em dezenas de idiomas simultaneamente, resolve equações complexas em segundos, lê e interage com imagens direto da câmera do celular, entre outras interações inimagináveis. E não para por aí. Como IA é “open source” (tecnologia aberta), milhares de desenvolvedores estão trabalhando mundo afora em outras aplicações, agregando mais e mais funcionalidades às máquinas.
Estamos diante de um desafio cabeludo: como promover Inovação com Inclusão? Regular o desenvolvimento de IA é prioridade para todos os governos. Alguns deles largaram na frente como Estados Unidos e Europa. O poder de IA é tão exponencial, que o futurista Yuval Harari ousa afirmar que as bigtechs ameaçam a soberania das nações. No Brasil estamos engatinhando, pois nem o governo, nem os legisladores dominam a pauta, mas é imperativo conhecer os riscos e as vantagens da tecnologia. Na medicina, por exemplo, é inquestionável que IA traz avanços substanciais, assim como na educação e em diversos setores de atividade produtiva. É também verdade que empregos serão extintos para dar lugar a um novo modelo de relação profissional. Uma mutação de amplo impacto está em curso e não podemos perder nenhum lance, sob pena de ficarmos fora do jogo. De toda forma, na corrida da IA, o Brasil está atrás. Precisa recuperar terreno e acelerar, mas sem negligenciar os envolvidos no percurso, em especial os 60+.
Ricardo Mucci, 71 anos, jornalista, mestre em comunicação social, influenciador sênior e expert na temática da longevidade. Lidera projetos de comunicação e inovação focados no público 50+. Integra o Conselho do Idoso de São Paulo.
Foto da Capa: Freepik – AI-Generated
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