Seguro morreu de velho é uma antiga frase construída por algum mortal medroso, decerto. Transmitida através das gerações, a frase representa uma suposta aquisição mágica de segurança, em uma negociação imaginária com o acaso.
As seguradoras nos dirão outra coisa, ainda mais em épocas de emergências climáticas. Nos farão focar no prêmio da fatalidade, transformando-a em bem-aventurança. Nessa antecipação, os seguros seriam amortecedores contra os golpes de um futuro incerto e perigoso. Não importa que talvez nem estejamos lá; importa garantir o prêmio.
Desse modo, quase sempre andamos constrangidos pela busca de um equilíbrio possível entre a prevenção e a fruição das coisas. O problema é que alguns de nós retiram do próprio risco o deleite do viver. E é aí que começam as diferentes indagações no campo dos prazeres, mas também da exacerbação dos mesmos em estados psicopatológicos.
O que é lícito aproveitar sem maiores consequências? Há graça em uma vida absolutamente isenta de riscos? Difícil. Da mesma forma, é igualmente complexo quando não se pode tolerar a ausência de alguma sorte de insegurança. Há casos em que tudo isso se dilata de tal modo e que o prazer, agora mórbido, advém justamente da coleção de consequências que, geralmente, são destrutivas.
Nesse intercâmbio entre o proibitivo, o arriscado e o prazeroso, parece haver um lugar sólido para aqueles que sabem lidar com essas fragilidades e algumas variáveis do acaso. É o caso das seguradoras vorazes, mas também das casas de apostas ou dos site das bet (aposta).
Acompanhando, de levinho, a Copa América vejo uma infestação de Bet isso, Bet aquilo etc. Tenho exemplos, se é que fazem falta. Na transmissão argentina a Betano – isso até parece nome de gás – ou em Porto Alegre, também na rua, o anúncio da “mimosa” Betzinha. Enfim, a propaganda aqui é meio inevitável. Em paralelo, outro dia me dei conta de que embora siga conteúdo de política, muitas vezes me aparece uma ou outra notícia de futebol. Não fiz nada com essas paralelas, até que vem o elucidativo texto de Luiz Fernando Moraes fazendo interessantes relações entre os dois fenômenos, além de trazer números inquietantes que merecem ser conferidos na pluma dele.
Vou seguindo aqui a minha vidinha, mas, entre os riscos e as bets, vou me contentando com a lembrança dos versos de Cazuza, de Bete Balanço: O teu futuro é duvidoso, eu vejo grana, eu vejo dor. No paraíso perigoso, que a palma da tua mão mostrou.
Um pouco de alerta e portos verdadeiramente seguros não fazem mal.
Foto de Capa: Freepik
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