Porto Alegre é a primeira cidade educadora do Brasil, tendo 28 de janeiro de 1998 como a data da solicitação de adesão à Associação Internacional de Cidades Educadoras. Desde então, muitos ânimos têm sido conjugados para que a intencionalidade educativa presente em todos os espaços e pessoas da cidade possa fortalecer o bem comum, a cidadania de todos.
É preciso dizer que Porto Alegre é uma cidade educadora desde muito antes de 1998, desde a sua fundação, para o bem ou para o mal. Toda e qualquer ação educa, assim: a forma como os 60 casais açorianos foram recebidos educa, a forma como a população negra é tratada educa, a demarcação das terras educa, a forma como os bairros se formaram educa, nosso posicionamento perante às reivindicações populares educa, a forma como as diferenças são acolhidas educa, como os representantes do povo se portam educa, como lidamos com o que é público também educa.
Pensando nisso, é preciso também entender que nossa posição em relação à educação formal também educa. Digo isso, porque, nestas últimas semanas, no caminho da compreensão em relação à atuação pública, tenho observado dois fenômenos: a repercussão sobre o resultado do IDEB e a oportunidade da nomeação de minha parceira de ações educativas, Maria Eunice Viana Jotz, como Secretária Adjunta da Educação.
Divulgado o resultado do IDEB, pulularam comentários, matérias, opiniões de toda sorte sobre a educação da capital. Os resultados, me parece, têm alimentado, a exemplo das redes sociais, polêmicas ‘voo de galinha’ sobre algo sério, que é a educação das nossas crianças e adolescentes, a base para a vida adulta, o futuro de Porto Alegre. Pareceu-me que o resultado não deveria ser surpresa para quem vai além do curtir postagens sobre a educação nas redes sociais. Há um trabalho de base profundo a ser feito para que a educação municipal possa recuperar o seu protagonismo.
Passa por refundar alianças, por recuperar fisicamente escolas, passa por pensar um currículo atento às demandas da contemporaneidade, passa por valorizar os professores e sua formação continuada, passa por compreender a escola não como uma extensão da família, mas como estágio em que os projetos de vida de nossas crianças possam ser acolhidos e ganhar asas, asas no que se refere ao desenvolvimento humano e crítico, aos aprendizado dos conhecimentos, da intencionalidade educativa das suas ações frente ao que é privado e público e ao desenvolvimento do capital mais necessário de todos os tempos: o amor curioso do aprender.
Em minha jornada de trabalhador da Porto Alegre Cidade Educadora, cada vez mais entendo que todas as pessoas são necessárias. Nenhum porto-alegrense pode ser deixado para trás, aprender e ensinar faz parte de todas as etapas da vida. Neste caminho, pude encontrar com tantas pessoas especiais, pessoas que ensinam até com o olhar.
Conheci Maria Eunice Viana Jotz no fim de 2022. Seu conhecimento sobre educação pública e privada, seu interesse pelas questões ambientais, sua articulação junto ao Coletivo POA Inquieta, sua capacidade de pensar a gestão cooperativa e participativa das tarefas e responsabilidades e da articulação intersetorial e interdisciplinar, sua posição sempre fundamentada da advogada que é e sua capacidade rir solto facilitam muito tudo o que temos realizado em coletivo, desde a criação do Grupo de Trabalho em Sustentabilidade da Porto Alegre Cidade Educadora, o desenvolvimento de ações educativas, até a promoção de instrumentos legais que pudessem favorecer a intencionalidade educativa da/pela cidade, algo que permeia sua mais nova realização, a dissertação “A Carta de Princípios das Cidades Educadoras como diretriz para estruturação jurídica de cidades inteligentes e sustentáveis.”
Aceitar o convite para ser Secretária Adjunta da Educação de Porto Alegre, no meu entender, foi decisão corajosa. Corajosa sobretudo pelo momento em que estamos: pós-pandemia, pós-enchente, em período eleitoral. E a coragem também ensina. Parece que ouço a voz do meu pai falando sobre “fibra”, sobre quem acorda para fazer e não para reclamar. Os dados do IDEB estão aí, a situação das escolas também, um profundo trabalho de médio e longo prazos para reconstituir a confiança no ensino público municipal, a aliança da intencionalidade educativa de todos em prol da cidade, legado para as próximas gerações, precisa ser feito. E, nesse trabalho, com graça e verdade, nos momentos em que cabe ouvir aquele riso solto, digo: deixa a mulher trabalhar!
Nada será para ontem. Mas e você? É do grupo que educa dizendo ao outro “bom desafio” ou é do time que diz “o que posso fazer para ajudar”?
Independente da resposta, cabe a leitura deste trecho da Carta das Cidades Educadoras: “Na Cidade Educadora, a educação transcende as paredes da escola para impregnar toda a cidade. Uma educação para a cidadania, na qual todas as administrações assumem a sua responsabilidade na educação e na transformação da cidade num espaço de respeito pela vida e pela diversidade (…) O seu objetivo constante será aprender, inovar e partilhar e, portanto, enriquecer e tornar mais segura e digna a vida dos seus habitantes.”
No mais, se você quer uma Porto Alegre mais educadora, mais inteligente e mais inclusiva, além de pensar muito em quem vai votar na eleição deste ano – como votamos, educa! -, procure saber mais sobre o movimento das cidades educadoras, Porto Alegre merece.
Marcos Caetano Corrêa nasceu em Porto Alegre/RS, em 12 de julho de 1982. É Escritor, Servidor público municipal, Coordenador Técnico do Movimento Porto Alegre Cidade Educadora e Mestrando em Design Estratégico (UNISINOS). É filho de Virginia e Armindo, pai da Safira e dindo do Guga, da Sarah e do Ique. Cresceu correndo com os seis irmãos pelas lombas da Vila Vargas, periferia de Porto Alegre. É uma pessoa em busca da própria voz, do seu lugar na luta que cabe a cada um diante da página em branco, da realidade e de si.
Foto da Capa: Wilson Dias / Agência Brasil
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