Participo de muitas discussões sobre a importância de se investir em inovação para garantir o sucesso nos negócios. Parece quase receita de bolo: junte duas xícaras de práticas de inovação, agite bem, leve ao forno por uns meses e o bolo cresce sem segredos.
Mas, por mais que isso também seja verdadeiro, é apenas parte da realidade. Quando o tema é colocado dessa forma, reforça o discurso de inovação como uma disciplina apartada da rotina da empresa. E é imprescindível que ela perpasse todas as áreas, processos e atividades.
Ou melhor, as práticas de inovação são importantes para transformar a cultura, estimulando descobertas e soluções além dos caminhos tradicionais. Na Brivia, por exemplo, organizamos estas necessidades por sua urgência, colocando todos na mesma página sobre o que se espera em cada momento.
As demandas são classificadas em HOJE (melhorias evolutivas, que atendem demandas atuais), AMANHÃ (implementações que transformam a realidade a partir da alteração de demandas) e DEPOIS DE AMANHÃ (que criam um novo cenário, alterando a realidade e gerando novas demandas). Essa divisão nos permite construir o presente sem deixar de olhar para o futuro.
Vendo essa realidade ser construída na minha própria organização, percebo como várias companhias jogam dinheiro pela janela ao investir em laboratórios de inovação desligados do dia a dia dos negócios. Normalmente, essas unidades trabalham mirando em soluções totalmente disruptivas ou só com metas de curto prazo, sufocadas pela pressão por resultados.
No primeiro caso, o risco é perseguir o fim do arco-íris. Por mais que o laboratório trabalhe, jamais vai entregar um “unicórnio” pronto e acabado. Todo projeto sempre precisará passar por testes, validações e, principalmente, contribuições de toda organização.
Já quanto à segunda premissa, a ameaça está em observar apenas a maximização de performance do negócio hoje. Esse olhar em túnel tira do cenário visível as nuances de comportamento e tecnologia, abrindo caminho para uma concorrência desconhecida.
Minha crença é que um Lab efetivo olha, em um primeiro momento, para o Amanhã. Ou seja, tem como meta gerar um novo olhar sobre os problemas e as dores da organização. Só depois disso consolidado é que a operação evolui para algo mais especulativo, mais disruptivo, já contando com o apoio (e não mais com a desconfiança) institucional.
Esse trabalho faseado, além de gerar valor tangível, permite envolver todas as áreas em um processo de mudança de mentalidade. Isso porque a inovação hoje é compulsória e multidimensional.
Não há mais espaço para nerds saindo de uma sala com um produto que vai mudar os rumos da empresa enquanto o financeiro ainda imprime todos os boletos em três vias. Para ser sustentável um negócio precisa se transformar a todo momento, em todas as esferas.