Segundo domingo de maio, é dia das mães. A ideia de comemorar esta data surge nos Estados Unidos no início do séc. 20, com Anna Jarvis, para homenagear sua mãe, Ann Jarvis, conhecida por realizar trabalho social com outras mães no período da Guerra Civil Americana. Depois que a data tornou-se feriado nacional, Anna Jarvis passou a lutar contra a exploração comercial do dia das mães, chegando a defender o fim da celebração.
Acordo com a chuva copiosa – lá fora. Penso na minha filha que, no quarto ao lado, dorme bem abrigada, aquecida, descansando para enfrentar um dia de trabalho voluntário no atendimento a profissionais da segurança pública. Meu coração se enche de orgulho ao lembrar minha pequena sendo médica de suas bonecas e, agora, exercendo sua profissão. Fico enternecida.
O pensamento voando entre a chuva e a memória materna, detenho-me em um exercício que me é caro, o de separar palavras, buscando sua raiz. Visualizo a palavra Materna, Ma-Terna.
Volto à chuva lá fora e, esta que sempre me apaziguou, hoje me assusta. Porque neste dia das mães, estamos enfrentando a Guerra de uma Tragédia Anunciada e já contabilizamos 143 mortos, 125 desaparecidos, 806 feridos, cerca de 2 milhões de afetados diretamente, em um Estado destroçado. Meus nobres sentimentos maternos se esboroam, na manhã que me fez Terna, me transformo, me torno Má. De pronto, uma palavra toma conta de mim: Basta! Basta de desmatamento, exploração desenfreada, ganância, ignorância, basta de complacência!
Penso nas idosas suíças que recentemente venceram um processo inédito sobre crise climática, em um tribunal de direitos humanos. Tenho convicção que, com justa propriedade, as forças do universo estão se apresentando, no que lhes é de direito. Nos resta, pois, humildade para nos colocarmos em nosso lugar frente à MÃE NATUREZA e a coragem para lutar contra nossa própria Pre-Potência.
Neste 12 de maio de 2024, homenageando minha mãe Adelia Robinson Neubarth e os 65 anos de fundação de nossa querida cidade natal, Três Coroas, duramente atingida pela catástrofe, invoco uma frase atribuída a Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”.
Bárbara E. Neubarth é psicóloga, Doutora em Educação, Bacharela em Artes Visuais e Especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica. Fundadora e coordenadora da Oficina de Criatividade e Acervo do Hospital Psiquiátrico São Pedro – HPSP, no Rio Grande do Sul (1990-2019). Atualmente é voluntária deste serviço e curadora do Museu Estadual Oficina de Cratividade do HPSP – MEOC. Presidente da ONG Amigos da Memória do Hospital São Pedro – AMeHSP. Participante do Núcleo Transdisciplinar Arte e Loucura NuTAL/UFRGS.
Foto da Capa: Freepik
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