Eu sou brasileira, mulher, parda, publicitária, solteira, sem filhos, dona da minha vida, uma curiosa intensa e com um valor inegociável: liberdade. Isto já é muito no meu país: o Brasil, a terra prometida da multiculturalidade mundial. Imagina para um homem do Middle East, oriental, nascido em Bangladesh, que possui uma história de conexão com a cultura indiana, mas de religião mulçumana que mora e trabalha na França há 8 anos?
A princípio na minha cabeça livre e cheia de utopias que as diferenças podem ser resolver com a abertura de estereótipos e preconceitos este seria sim um amor viável e cheio de futuro. Pois não me vejo presa a um país ou lugar indefinidamente, pois já me assumi como uma viajante de alma considerando minha casa e lar onde eu estiver me sentindo bem e feliz.
Por isto, apesar dos medos iniciais, dos conselhos amorosos de amigos com pés no chão, que eu me permiti me jogar e me abrir para o amor de novo. Após 5 anos fechada, evitando qualquer tipo de envolvimento afetivo, pois com a minha sensibilidade eu vejo que nunca tive um amor que correspondesse as minhas expectativas românticas e de vida. Eu sempre abri mão de mim para caber no mundo de alguém. E eram mundos tão pequenos e sufocantes que não podiam me conter.
Então, não me sentindo em encontro amoroso com ninguém, procurei me iludir ou achar problemas em mim e para mim, não percebendo a coisa mais importante: amor acontece sem planejamento e sem padrão.
Havia chegado em Paris e naquele domingo do dia 25 de junho escolhi mergulhar na região perto de Notre Dame, flanando, flaneur, termo que os franceses utilizam para descrever a sensação maravilhosa de estar flutuando diante de tantos estímulos estéticos, musicais e artísticos. E andei, andei entrando nos cafés, na frente de Notre Dame, na Crypta antropológica mergulhando na Lutécia, até chegar na Eglise de Saint Séverin, perto de Sorbonne.
Segui na rue de Saint Séverin e parei em um Auberge Medieval com a intenção de almoçar comida típica francesa em um menu completo, beber um rose e carregar minha bateria. Afinal, eu não estava sozinha, eu estava conectada a minha comunidade no projeto que intitulei: Paty in Paris.
Me dirigi ao Maitre e disse: “Bonjour! Pardon… Je suis brésilienne et mon français n’est ce pas bien.” E o Maitre me abriu um sorriso amigável e disse: Eu falo um pouco de português. Pois estudei em Portugal. Sou de Bangladesh e admiro o Brasil.
Continuei flanando e vivendo minha experiência quando ele veio e me pediu: “Você pode me dar seu wahtsapp?” E eu de maneira muito instintiva disse: “Oui”. Escrevi na nota fiscal e sai de lá flanando novamente, sem pensar nas consequências daquele ato e onde aquilo me levaria.
A partir dali todos os dias eu recebia “Bonjour”, Como você está? E conversas sobre ser imigrante na França, perguntas de como era o Brasil, muito elogios que foram se transformando em convites para comer, andar, flanar juntos em Paris. Primeiro senti medo, cheguei a bloqueá-lo e depois eu resolvi que o que vida pede da gente é coragem. E comecei a viver o que eu queria viver naquele momento: um amor em Paris.
No dia do meu aniversário ele foi comigo ver a Torre piscar e se ajoelhou dizendo: “Casa comigo”.
Na hora fiquei angustiada pedindo para que ele se levantasse, que aquilo era uma loucura. E depois comecei a chorar. Chorar por ter vivido isto ao menos uma vez na vida. Por não me sentir invisível ou sexualizada como no Brasil. Por me sentir dentro de uma história romântica como sempre sonhei. Ali também ganhei um anel de aniversário, de um homem desconhecido, ajoelhado na frente da Torre Eiffel, no Trocadero em Paris.
Dali vivi dias lindos, cheio de beijos, sedução, conversas longas, beijos intensos, sexo delicado e ao mesmo tempo indescritível. E eu me apaixonei. Me apaixonei por este amor entre mundos diferentes e como sou pipa que voa foi muito difícil ter que voltar para o Brasil.
Voltei no avião chorando e continuei recebendo mensagens que me fizeram pensar: E por que não ir morar em Paris? Por que não viver mais esta história com o Rana?
Após uma semana de mensagens já aqui no Brasil, Rana me chama e diz: “Falei para a minha família que estou apaixonado por você. Mas eles disseram: “Vocês não podem se casar. Ou ficar juntos. Ela não é mulçumana e nem de nosso país. Então, isto me deixa confuso e triste. Sorry Paty. I Realy Sorry. Forgive me. And better we move on.”
Je suis brésilienne, Rana. Eu sou uma mulher livre, ocidental, cheia de coragem e poderia viver o que fosse até onde isto me alimentasse.
Aqui neste texto exponho a história reduzida. Mas resolvi contá-la por que ela se encerra em si fechando a famosa narrativa clássica da impossibilidade da paixão ser eterna.
Fiquei triste, chorei muito, mas percebi que existe beleza nisto tudo: quantas pessoas podem dizer que viveram uma paixão linda e sensível em Paris? Ultrapassando seus medos. Ido além da perspectiva clássica de ser usada ou sofrer algum abuso?
Ele não pediu nada. Não me ofereceu perigo. Pagou restaurantes, cafés, me levou salmão saindo do restaurante, me orientou na cidade, me explicou sobre as manifestações, me ajudou a pagar o hotel na noite que ficamos. E tentou lidar com a sua cultura, valores e teve que se despedir de mim.
Prefiro pensar e encerrar esta história assim e agradecer: pois ele me fez me sentir uma mulher amada e maravilhosa, de maneira única, como nunca me senti no meu país.