Quando a taxa de juros em um país sobe, dá-se o nome de “remédio amargo da economia”. O jargão é usado porque essa elevação é necessária, principalmente para conter a inflação e segurar o poder de compra daquela nação.
Aqui no Brasil, isso acontece constantemente e esse remédio ajuda muito nos quesitos monetários. Além de segurar a inflação, tende a deixar o real mais competitivo frente a outras moedas, mostrando uma certa responsabilidade monetária.
Na expressão “remédio amargo”, o remédio significa a cura e amargo porque é ruim, e muito, seja para o brasileiro em geral e, principalmente, para as classes mais baixas, formadas majoritariamente por pretos e pardos. E esse é o foco deste artigo.
A taxa Selic está na casa dos dois dígitos desde março de 2022 por muitos fatores: juros americanos altos, conflitos externos, inflação alta no pós-Covid e muito mais. No entanto, na prática, o crédito ficou mais caro, os juros do cartão de crédito tiveram as taxas aumentadas, assim como nos financiamentos para aquisição de veículos e de imóveis. Isso tudo acontece devido à alta taxa de juros. E quem mais precisa de crédito? Exatamente: a população economicamente menos favorecida. Com isso, o resultado de uma taxa alta por tanto tempo deixa os pobres cada vez mais pobres.
A alta dos juros no Brasil afeta desproporcionalmente a população de baixa renda, aumentando as dificuldades financeiras e a inadimplência, que atualmente ultrapassa 30% entre brasileiros com menor poder aquisitivo. Com taxas de juros elevadas, como a de crédito rotativo, o endividamento cresce rapidamente. Além disso, segundo o Banco Central, o aumento da taxa Selic afeta diretamente o custo de crédito, tornando o acesso a financiamentos e empréstimos ainda mais desafiador para a população vulnerável.
Muitos afroempreendedores dependem de financiamentos para expandir ou sustentar seus negócios. Com a elevação das taxas de juros, o custo de capital aumenta, tornando mais difícil a tomada de empréstimos para os negócios. Isso afeta a sustentabilidade e o crescimento de empreendimentos liderados por pessoas negras, especialmente os de pequeno porte, que compõem a maioria do empreendedorismo afro no Brasil.
A alta taxa de juros impacta diretamente o poder de compra e a construção de patrimônio. Famílias brancas, que historicamente têm maior riqueza acumulada, podem usar esses recursos para proteger ou até aumentar seu patrimônio com investimentos. A população negra, em contraste, com menos acúmulo de riqueza, tem menos oportunidades para se beneficiar de investimentos em renda fixa, por exemplo, que poderiam oferecer uma reserva financeira contra crises.
A alta taxa de juros no Brasil intensifica as desigualdades econômicas, afetando desproporcionalmente a população negra, que enfrenta mais obstáculos para acessar crédito e acumular patrimônio. Esse cenário limita investimentos em educação, negócios e moradia, perpetuando o ciclo de vulnerabilidade e endividamento. Como consequência, o impacto é ainda maior na renda e segurança financeira, restringindo o avanço econômico e o desenvolvimento pleno dessa população.
A educação financeira é uma ferramenta que faz com que as famílias tenham controle orçamentário, e esse reflexo tem impacto diretamente nas decisões monetárias, como aumento e baixa de SELIC, visto que o consumo é parâmetro de inflação. Então, cuide do seu orçamento doméstico. O seu gasto a mais por mês tem reflexo no seu vizinho mais pobre. O mercado é conectado.
Josias Bento é um profissional dedicado e apaixonado pelo universo das finanças. Graduado em Ciências Contábeis e com um MBA em Finanças e Mercado de Capitais pelo IPOG, atua como educador financeiro, ajudando diversas pessoas a entenderem melhor suas finanças pessoais e a investirem de forma mais consciente e estratégica. Casado e pai de um filho, equilibra sua vida profissional com sua vida pessoal, mantendo um compromisso constante com o aprendizado e a disseminação do conhecimento financeiro. Sua missão é transformar a relação das pessoas com o dinheiro, promovendo uma cultura de planejamento e investimentos saudáveis. @bento_josias
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