Vem aí mais uma comissão parlamentar de inquérito. Desta vez é a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS. Deputados e senadores vão investigar os covardes roubos nas contas de aposentados e pensionistas da previdência social oficial que, dizem, andam pelos R$ 6 bilhões.
Mas quem ganha e quem perde com a investigação do assalto aos aposentados e pensionistas? Em princípio, os ganhadores têm que ser os assaltados. Perdendo mais, por enquanto, está o governo Lula que teve a faca e o queijo ou o limão e o açúcar nas mãos e deixou o queijo mofar e o limão azedar…
Escrevi sobre isso aqui, na semana passada. O governo, por desatenção – para não dizer coisa pior – dos seus comunicadores, deixou escapar a manchete “Lula manda investigar descontos de aposentados e PF prende os primeiros suspeitos” e ficou emparedado por reportagens e comentários dizendo que o escândalo começou no governo passado, mas explodiu no governo Lula.
As notícias sobre o roubo nas aposentadorias e pensões começaram a pipocar no começo do ano passado. Ninguém, nas inúmeras agências de comunicação contratadas no governo federal, responsáveis pelo monitoramento de mídias, planejamento e execução de políticas de relacionamento com a imprensa, gestão e prevenção de crises, viu o potencial de estragos que aquelas matérias produziram na imagem do governo??
Bem, isso é jogo jogado. O estrago está feito e quem deveria estar no ataque, agora joga na defesa.
Agora, os lances que interessam serão dados na CPMI do INSS. E não há palco melhor para performances políticas que o plenário de uma CPMI. Teremos, com certeza, transmissões ao vivo das rádios e TVs Câmara e Senado. E as emissoras comerciais estarão atentas para rebater os sinais das duas, se não na íntegra, sempre que o assunto tenha liga com os interesses editoriais de cada uma.
Cobertura total, portanto. Risco muito pequeno de denúncias de todos os lados e tamanhos, de algum discurso, interrogatório, depoimento, bate-boca, passar sem ser transmitido ao vivo. E ainda com o bônus de um repeteco nos telejornais da noite, nos podcasts, blogs e videocasts… E nas redes sociais, onde quanto maior for a manipulação, maior será a audiência…
Parlamentares governistas e até ministros apoiam a abertura da investigação no Congresso Nacional. Claro… como continuar garantindo que o roubo é coisa do governo passado e impedir a abertura da CPMI do INSS? Não dá, não é? Então, que venha a CPMI, para esquentar ainda mais a campanha eleitoral que já começou.
A expectativa é que a leitura do requerimento de instalação aconteça em sessão do Congresso Nacional no dia 27 deste mês de maio. O prazo de funcionamento das CPIs é de 120 dias. Mas pode ser renovado duas vezes. Digamos que a CPMI do INSS seja instalada no dia 1º de junho. No final de setembro, esgota-se o primeiro prazo. Alguém tem dúvida de que haverá pedido de prorrogação? Some mais 120 dias e chegaremos a dezembro.
Aí, um pedido de nova prorrogação leva a CPMI – descontado o recesso de 23 de dezembro a 1º de fevereiro – ao fim de abril do ano eleitoral de 2026.
Mas bolsonaristas e lulistas chegam vulneráveis à arena. Talvez queiram encerrar as investigações antes da abertura oficial da campanha eleitoral. E quem sabe, os protagonistas dessa polarização que empobrece o debate político há tempo, acabem por colocar fermento a algum movimento em direção à terceira via, que pode empurrar logo a extrema direita para fora do jogo.
O governo, infelizmente (principalmente para Lula), armou uma sinuca contra si. Deixou crescer a percepção de que tem responsabilidade no roubo aos aposentados e pensionistas e agora precisa cumprir a promessa de devolver o dinheiro e escapar da acusação de que devolve o roubo com o dinheiro do povo. Sinuca difícil de sair…
Os bolsonaristas contam com a própria capacidade de manipular informações. A comunicação do governo tem novos e pesados desafios pela frente.
A nós, os chamados cidadãos comuns, cabe acompanhar com atenção e discernimento para, em outubro do ano que vem, votar certo.
Se eu pudesse fazer um pedido a cada um dos que vão integrar a CPMI do INSS, pediria que, antes de sair de casa para o Congresso, dessem uma passadinha em frente a um espelho e pensassem em Pepe Mujica para ver como a sua própria imagem seria refletida.
E deixou aqui, com a pretensão de ser lido por algum político, trecho do discurso do ex-presidente do Uruguai no dia em que recebeu a medalha da Ordem Nacional do Mérito do Equador em 2014.
“A política não deveria ser uma profissão da qual você ganha a vida; deveria ser uma paixão pela qual você vive. Uma paixão criativa, que não garante que erros não serão cometidos. Nossas limitações humanas nos obrigam a cometer erros. Mas devemos abordar a política como um artista faz ao criar uma obra: com a melhor honestidade que consiga e dando tudo de si.”
Todos os textos de Fernando Guedes estão AQUI.
Foto da Capa: Freepik