Em uma série de cinco artigos pretende-se reconstituir passo a passo da primeira viagem que Charles-Edouard Jeanneret (1887-1965), o Le Corbusier, realizou à América do Sul. Neste quarto texto o leitor acompanhará a última etapa percorrida, a visita do arquiteto franco-suíço ao Rio de Janeiro.
De São Paulo, onde permaneceu entre 17 de novembro e 2 de dezembro, Le Corbusier se deslocou para o Rio de Janeiro. Na capital do país, permaneceu entre 2 e 9 de dezembro, quando retornou à Europa.
No Rio de Janeiro, Le Corbusier teve dois compromissos previamente agendados. Duas conferências acertadas pelo mesmo valor das efetuadas na capital paulista, agora sob os auspícios do Instituto Central de Arquitetos (atual Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, fundado em 26 de janeiro de 1921), na época presidido pelo basco radicado no Brasil, Adolfo Morales de los Rios Filho (1887-1973), gestão 1929-1930. A primeira conferência foi realizada no dia 5 de dezembro, uma quinta-feira, sob o tema “Arquitetura e a revolução arquitetural”. A outra, no dia 7 de dezembro, um sábado, intitulada “Urbanismo nasceu da necessidade de resolver os problemas da cidade”. Ambas foram realizadas no mesmo horário, às 17 horas, e no mesmo local, a sede da então Escola Nacional de Belas Artes.
VISITA AO RIO DE JANEIRO
Diz Elizabeth Harris que Le Corbusier quase recusou o convite para visitar o Rio de Janeiro, em deferência ao urbanista francês Alfred Agache que realizava um plano urbano para a cidade. Mas acabou cedendo ao convite cordial dos brasileiros (HARRIS, 1987, p. 26).
Em correspondência de 16 de dezembro de 1927, enviada a Paulo Prado, o arquiteto não demonstra tanta preocupação ética em relação a Agache. Escreveu: “Falando de urbanismo soube outro dia que um de meus colegas conhecido por suas pequenas concepções pitorescas e românticas, estaria encarregado dos projetos de expansão do Rio de Janeiro. Se isto for verdade, já deve estar com um pé sobre Planaltina. Isto seria muito triste” (SANTOS et ali., 1987, p. 43). De Paris, em 22 de abril de 1930, enviou outra correspondência destinada a Oswaldo Costa onde disse: “Quero falar-lhe de um assunto delicado: os grandes trabalhos do Rio de Janeiro. Delicado, porque encontra-se, instalado, no Rio, meu colega Agache. (…) não podemos mais continuar calados por questões da ética entre colegas. Não nos devemos deixar impressionar pelas folhas de papel aquareladas ou desenhadas de arabescos. É necessário pertencer à grande era maquinista que começa; e as cidades da América do Sul são aquelas no mundo de hoje que chegaram à hora de seu destino. Ficarão vocês atolados num estilo 1925, de palhaço? (…) Vai ser como uma triste farra de província. Um ‘crachat’ de cidadezinha provinciana. (…). Em resumo: gostaria de oferecer minhas forças enquanto ainda estão vivas. Eu as ofereço, as dou, não procuro dinheiro. Mas gostaria de fazer uma Grande Obra. Aceite meu presente (SANTOS et alli, op. cit., p. 97-98).
No Rio de Janeiro, Le Corbusier foi recebido pelo prefeito Antônio da Silva Prado Júnior (1880-1955), que administrou aquela que na época era a capital do Brasil (1926-1930). Antônio era irmão de Paulo Prado (1869-1943) e ofereceu ao arquiteto um voo de avião sobre a cidade. Contrariando recomendações, Le Corbusier aproveitou e também visitou favelas, observando a maneira como viviam seus moradores: “Quando escalamos as “favelas” dos negros, morros muito altos e escarpados, onde eles dependuram suas casas (…) que se agarram a esses morros como mariscos nos enrocamentos dos portos (…). (…) o negro tem sua casa quase sempre a pique, sustentada por pilotis na parte da frente, com a porta atrás, do lado do morro; do alto das ‘favelas’ sempre se contempla o mar (…); o olho do homem que avista horizontes vastos é mais altaneiro, tais horizontes conferem dignidade; eis aqui uma reflexão de urbanista (LE CORBUSIER, 2004, p. 228-229). Aliás, o contato com a cidade rejuvenesceu-lhe o espírito e a fascinação pela arquitetura nativa. Segundo André Wogensky, arquiteto-chefe do estúdio de Le Corbusier de 1945 a 1956, as favelas cariocas inspiraram a residência de verão do arquiteto franco-suíço em Roquebrune Cap Martin, conhecida como “Le Cabanon”, concebida em 1951-1952 (HARRIS, op. cit., p. 29).
Em relação aos paulistas, os arquitetos cariocas estavam, naquele momento, mais distanciados da vanguarda europeia. Lucio Costa (1902-1998), que viria a se tornar a principal referência da modernidade carioca, na década de 1920, desenhava projetos ecléticos historicistas e neocoloniais. Yves Bruand (1926-2011) destaca, entretanto, que ele divergia de seus colegas, preocupado com soluções funcionais e com os volumes claramente definidos, não com as formas e com os motivos decorativos do passado, um retorno consciente aos valores permanentes por ele descobertos na arquitetura dos séculos XVII e XVIII (BRUAND, 2016, p. 72). Suas preocupações, longe de serem contrárias ao espírito racionalista, aproximavam-no dele. Opunha-se ao caráter absolutista, intransigente e ao aparente desprezo de seus teóricos por tudo o que dizia respeito ao passado (Idem). Aos poucos o arquiteto reconsiderou a questão ao perceber que havia um denominador comum entre as ideias dos mestres europeus e as suas. Afirmou Bruand que “O processo foi desencadeado, por um acontecimento acidental: (…) uma conferência feita por Le Corbusier na Escola Nacional de Belas Artes do Rio em dezembro de 1925”. Se equivocou na data, foi em 1929. Disse Bruand que Lucio Costa, em depoimento dado a ele, assistiu-a por acaso. Estava ele pelos corredores da escola e, “ouvindo que Le Corbusier ali falava, aproximou-se como curioso. Não havendo lugar disponível, assistiu à conferência do lado de fora da sala” (Ibidem). Elizabeth Harris diz que “A boa publicidade em torno das conferências reuniu um pequeno grupo de intelectuais cariocas na Associação dos Arquitetos, entre eles o engenheiro Alberto Monteiro de Carvalho (1887-1969), que, aliás, foi quem convenceu Le Corbusier a voltar ao Rio em 1936”. (HARRIS, op. cit., p. 26). Nesta viagem de 1929, Le Corbusier aparece numa foto com Monteiro de Carvalho, tendo o Pão de Açúcar ao fundo (segundo fotos catalogadas na Fundação Le Corbusier, em Paris, L1.2.9.1 e L1.2.9.6). Isto demonstra que o contato entre eles não se deu apenas no local da conferência. Tudo indica que tiveram oportunidade de conviver naqueles dias de dezembro.
A PROPOSTA URBANÍSTICA PARA O RIO DE JANEIRO
Em 1927, Blaise Cendrars idealizara um esquema arquitetônico para o Rio de Janeiro que inspiraria o plano urbanístico de Le Corbusier. Disse o poeta: “Se não me engano, ele – referindo-se a Luigi Pirandello (1867-1936) – fala da necessidade de criar para o Rio uma arquitetura conforme à linha da paisagem. Seria, pois, o caso de erguer edifícios da altura do Pão de Açúcar ou do Corcovado? Acho que mesmo se construíssemos aqui arranha-céus duas ou três vezes mais altos que os de Nova Iorque não comprometeríamos essa linha. A própria natureza nos dá o exemplo. Além do mais, toda cidade em crise de expansão tem no arranha-céu seu tabu salvador. Por que hesitar? Isso funciona tanto nos Estados Unidos como em outra parte qualquer, sem exceção de Paris” (HARRIS, apud EULALIO, 1987, p. 22).
Na estada no Rio de Janeiro, Le Corbusier apresentou uma proposta urbanística na qual “rompeu com o academicismo de seus antigos planos – que incluíam hierarquização de zonas, eixo central e um volume tradicional de escala – para criar um edifício de apartamentos com seis quilômetros de comprimento por cem metros de altura, acompanhando a curvatura do terreno montanhoso do Rio. Essa ideia foi sugerida a Le Corbusier por Cendrars, mas aquele deu-lhe proporções tão fantásticas que Cendrars se divertiu à Larga” (HARRIS, op. cit., p. 22)
Dois croquis, publicados no livro Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo, mostram as intenções do arquiteto. No primeiro (catalogado na Fundação Le Corbusier com a referência FLC – 32.091) se observa o grande edifício longilíneo, se desenvolvendo ao longo da baía, a meia altura, que ligaria “os dedos dos promontórios abertos sobre o mar” (LE CORBUSIER, op. cit., p. 235). Na edição brasileira do mesmo livro este edifício longilíneo é traduzido por autoestrada, sem precisar a especificidade da qual trata. Gilberto Flores Cabral usa as expressões “viaduto-cidade” ((l’imomeuble-autorrute) e “viaduto coleante”, para expressar a megaestrutura que Le Corbusier imaginou para implantar na exuberante paisagem natural do Rio de Janeiro, e para indicar a presença de habitações, também se vale do termo “viaduto habitável” (CABRAL, 2006, p. 55). Para ser mais preciso, o termo mais adequado à situação seria edifício-viaduto, sobre o qual se desenvolveria uma autoestrada. O segundo esboço mostra, através de vista panorâmica, o enorme edifício serpenteando grande parte da região adjacente à orla carioca. A ideia desprezava a escala urbana tradicional da cidade, imprimindo uma escala monumental concorrente à natureza local, que certamente o impactou. Isto levou Manfredo Tafuri a afirmar que foi “a hipótese teórica mais elevada da urbanística moderna, ainda insuperada tanto em nível ideológico como formal” (TAFURI, 1985, p. 87).
A forma orgânica da edificação nasceu da “Lei do Meandro” que Le Corbusier formulou ao observar o comportamento dos rios no trajeto entre Buenos Aires e Assunção, dias antes de chegar ao Rio. O arquiteto percebeu que nem sempre a linha reta é a mais adequada. Em determinadas situações, como no caso do Rio de Janeiro, a adoção do percurso sinuoso serve como metáfora para configurar a forma livre ao intervir na relação entre arquitetura e paisagem.
Ricardo Daza vê como referenciais para o gesto de estender o edifício viaduto entre os morros cariocas, dois locais que o arquiteto conheceu na sua viagem ao oriente, em 1911. Primeiramente uma cidadezinha que conheceu quando subia os Balcãs búlgaros, junto ao rio Yantra, um dos afluentes do Danúbio, chamada Tirnovo (Veliko Tarnovo), “(…) extraordinária, perdida longe das grandes linhas de comunicação, (…) literalmente agarrada à ladeira da montanha e se estende sinuosamente por toda a cadeia montanhosa. Esta cidade estava dividida em uma zona cristã sobre a colina e uma muçulmana encravada no vale, partição que salienta ainda mais o seu dramatismo” (DAZA, 2018, p. 97).
O mesmo autor defende que se a comparação com Tirnovo não parece crível, mais evidente, pela comparação que fizera em São Paulo, ao citar os aquedutos de Segóvia e a Pont du Gard, seriam referenciais os aquedutos que Le Corbusier observou em Istambul e Roma. Por exemplo o de Valens (Bozdogn Kemesi), o qual desenhou e denominou como um espectro bizantino, moderno como um barco e com aberturas como olhos de boi. Se trata de um aqueduto romano de 20 metros de altura que discorria pelo território ao longo de um trajeto de um quilômetro, desde o mar de Mármara, atravessando o bosque de Belgrad, para abastecer com água a Constantinopla. Também podemos observar a similitude que existe entre uma das vistas panorâmicas que Le Corbusier fez para o Rio, com um desenho que publicou em La Ville Radieuse, e daqueles aquedutos que surcam e irrigam a campina romana de um fluxo estendido e contínuo (Idem).
Outras edificações do passado poderiam ser evocadas. Siegfried Giedion associa o pioneirismo da presença da forma sinuosa e contextualizada com a topografia em edifícios habitáveis a projetos como o Landsdown Crescent (1794) em Bath, de John Palmer, com suas três curvas sinuosas (…) a fim de capturar o máximo de luz e sol. Aliás, como precedentes este autor cita exatamente um projeto de Le Corbusier, posterior a este do Rio de Janeiro que aqui está sendo tratado (GIEDION, 2004, p. 179-183).
No primeiro croqui (catalogado como FLC – 32.091) o grande edifício-viaduto longilíneo, com sua linha horizontal contínua, bifurca-se na direção da a região central da cidade, prosseguindo para a região do cais do porto, chegando ao nível do topo dos três arranha-céus do chamado centro de negócios. Avança por cima daquela vasta extensão da cidade e penetra no estuário das terras sendo que poderia prosseguir até muito longe, em direção à estrada que sobe para São Paulo. Se acaso isso fosse julgado útil, nada impediria que, do centro de negócios, a estrada continuasse acima da baía, numa passarela larga, mas leve, e chegasse aos morros de Niterói, em frente ao Rio. Para tanto seria necessário ligar as duas cidades, o que só viria a ser viabilizada com a construção da Ponte Rio-Niterói (1968-1974). Saindo do centro, o edifício-viaduto tomaria a direção da zona sul da cidade. Passaria pela região do bairro de Santa Tereza, pela Praia da Glória, pela enseada de Botafogo, se direcionando à Praia Vermelha, bifurcando na altura do morro do Pão de Açúcar. A linha contínua vinda da região central, seguiria deste ponto para Copacabana.
Le Corbusier explicou como seria a operação: “O majestoso edifício-viaduto pode estar a 100 metros acima do solo da cidade, ou ainda mais, e assim passará muito perto dos promontórios. Ele é sustentado bem lá no alto não por arcos, mas pelos cubos das construções feitas para os homens, para multidões de homens. Caso se deseje, este edifício-viaduto, com seus imensos cubos de construções, poderá não incomodar ninguém na cidade” (LE CORBUSIER, op. cit., p. 235-236).
Vale salientar que quando Le Corbusier veio pela primeira vez à América Latina estava envolvido com os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM). Para vir, abriu mão de sua presença no segundo congresso (CIAM II), que ocorreu em outubro de 1929, em Frankfurt, e cuja temática era a unidade mínima de habitação (Existenzminimum). Tinha muito presente em sua mente a preocupação com o tema da habitação nas cidades.
Prosseguiu o arquiteto franco-suíço: “Não existe nada mais fácil do que construir, sem muitos inconvenientes pilastras de concreto armado que se elevam bem acima dos tetos dos bairros existentes, só que, quando escapar desses tetos, as pilastras começarão a ser ligadas por edificações em forma de imensos arcos planos. Assim, por exemplo, a partir de 30 metros, começam os cubos das moradias, de 30 a 100 metros, isto é, dez andares duplos de “edifícios-vilas” (Idem, p. 236).
Explica como serão os “edifícios-vilas”: “São apartamentos com serviços coletivos, jardins suspensos e panos de vidro. Tudo isto está no ar, bem lá no alto. É quase o ninho de um pássaro planador. Em cada andar uma rua aérea; elevadores; subimos; estamos na garagem, sob o edifício-viaduto; pela rampa de saída, lateral, o automóvel sobe até a beira da autoestrada. Nela, a 100 quilômetros por hora, dirigimo-nos para os escritórios, à cidade, para o interior dos campos, às florestas e aos planaltos. Os senhores bem podem imaginar como são úteis as operações dos monta-cargas e dos elevadores, semelhantes àqueles das grandes garagens, que levam os automóveis “à cidade”, embaixo, até o solo habitual e a rua ou que, de lá, sobem até a autoestrada”. (Ibidem).
Mariana F. Moreira afirma que “os apartamentos residenciais contidos em trechos do edifício-viaduto abrigariam aqueles que moravam nas favelas e que então desocupariam os morros. Deviria receber um total de 90 mil pessoas, sendo distribuídos 20m² para cada um. Adensado, porém vertical para deixar espaços livres” (MOREIRA, 2018, p. 4019-4020).
REPERCUSSÕES DA PROPOSTA URBANA PARA O RIO DE JANEIRO
Le Corbusier retornou à Paris no dia 9 de dezembro, no navio Lutetia, onde reencontrou Josephine Baker, que, segundo consta, embarcara no porto de Santos. No dia seguinte, o arquiteto deu início ao conteúdo que gerou o livro Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo, que foi publicado em 1930, e que teve sua edição brasileira publicada em 2004, pela editora Cosac & Naify. No livro apresenta imagens desenhadas ao longo do seu primeiro contato com a América do Sul. Cabe, para finalizar, levantar uma questão: houve alguma repercussão na sua produção ou que tenha influenciado outros arquitetos as reflexões realizadas ao longo da viagem?
A resposta é sim. A maior repercussão ocorreu de imediato, em 1930, quando o arquiteto franco suíço, com Pierre Jeanneret, elabora para o governo francês, o Plano Obus A (1930-1933), para Argel, capital da Argélia, criando um edifício-viaduto, que conteria habitações para as classes trabalhadoras e com um complexo residencial para as classes média e alta, megaestrutura sinuosa que se assemelhava a pensada para o Rio de Janeiro, ligado por uma rodovia com o centro administrativo, denominado de centro de negócios, à beira-mar. No Plano Obus B (1933), a ideia do edifício-viaduto foi eliminada e o centro administrativo é concentrado em um único arranha-céu. Adiante, nas variantes do Plano Obus C (1934), D (1938) e E (1939), o complexo residencial foi transformado em um edifício único.
A intenção de realizar edifícios-viadutos parou em Le Corbusier, mas a exploração da forma livre e contínua como mediadora entre forma construída e lugar, possibilitando uma nova compreensão do espaço como totalidade contínua, em locais de topografias como as do Rio de Janeiro e Argel, para implantar conjuntos residenciais, prosperou.
No Brasil, as ideias corbuserianas desencadearam o uso da forma livre e contínua para relacionar a concepção arquitetônica com o lugar. Em duas oportunidades, se deu a materialização de unidades habitacionais explorando as formas sinuosas para se adaptar à topografia carioca. Ambas concebidas por Affonso Eduardo Reidy (1909-1964). A primeira e mais famosa, é o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho (1947). A segunda é o Conjunto Residencial Marquês de São Vicente (1952), na Gávea, zona sul da cidade, nas cercanias do campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mais tarde, a sinuosidade das edificações, relacionada ao contexto, reapareceu no Secretarias do Centro Administrativo da Bahia (1973), projetado por João da Gama Filgueiras Lima (1932-2014), o “Lelé”, em Salvador, na Bahia.
Pelo exposto é possível perceber que gestos aparentemente simplistas como à primeira vista possam ser entendidos este expressado por Le Corbusier, no Rio de Janeiro, não foram infrutíferos. Se não na área do urbanismo, foram levados a cabo, no campo da arquitetura, e inspirando edificações, notadamente na arquitetura moderna brasileira, em especial a de chamada “Escola Carioca”.
Notas:
CABRAL, Gilberto Flores, O utopista e a autopista: os viadutos sinuosos habitáveis de Le Corbusier e suas origens brasileiras (1929-1936). In: Arqtexto. Nº9, Porto Alegre: UFRGS, 2006, pp. 54-75.
DAZA, Ricardo. Destellos intuitivos de visión inesperada: correspondencias entre el viaje de oriente y los viajes a sudamérica. In: ATRIA, Maximiliano (editor). Le Corbusier y el sur de América. Santiago do Chile: Editorial Universitaria, 1ª ed., 2018, p. 96-115.
EULALIO, Alexandre A. A aventura brasileira de Blaise Cendrars. São Paulo: Edições Quíron Ltda., 1978, p. 175.
GIEDION, Siegfried. Espaço, tempo e arquitetura. O desenvolvimento de uma nova tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
HARRIS, Elizabeth Davis. Le Corbusier: Riscos brasileiros. Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa e Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Ed. Nobel, 1987.
LE CORBUSIER. Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
MOREIRA, Mariana F. O projeto de Le Corbusier de 1929 e o desenvolvimento da cidade do Rio de Janeiro. Porto Alegre: Anais XVII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído – ENTAC, 2018, p. 4019-4020.
PIANCA, Guilherme Moreno. 1929, Le Corbusier e São Paulo: paisagem física e política (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo; Orientadora: Mônica Junqueira de Camargo). São Paulo: FAU-USP, Março de 2017.
SANTOS, Cecília Rodrigues dos; PEREIRA, Margareth Campos da Silva; PEREIRA, Romão Veriano da Silva & SILVA, Vasco Caldeira da. Le Corbusier e o Brasil. São Paulo Tessela: Editora Projeto, 1987.
TAFURI, Manfredo. Projecto e utopia. Arquitectura e desenvolvimento do capitalismo. Lisboa: Editorial Presença, 1985.