Não tenho dúvidas de que o envolvimento com a arte salva. Participar de eventos culturais que descortinam novos horizontes ao jogar luzes no nosso cotidiano é desafiador e estimulante. Abrem portas. Aguçam os sentidos. Por isso, quero falar um pouco mais de livros e leituras que me emocionam e lembrar que a 70ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre já está iluminando a Praça da Alfândega desde 1º de novembro e fica até o dia 20, das 10h às 20h. Imperdível! Mas o meu foco aqui é o mês de outubro que recém terminou, deixando um rastro literário estimulante no meu caminho.
“A gente faz arte porque viver não é o bastante” – Rodrigo Lombardi, ator.
Outubro começou com o ESQUENTA na Livraria Isasul, dia 5. Emoção e alegria em um evento que festejou livros, escritores, música e encontros em um espaço que preserva e estimula a leitura e a boa conversa. A iniciativa marcou a abertura da Livraria para lançamentos, sessões de autógrafos, bate-papos, entre outras ações ligadas aos livros que apontam para universos inusitados na vida de todos nós. Saí do ESQUENTA com a energia renovada e saudei os parceiros da iniciativa – Isatir Bottin Filho e Simone Bottin Pereira, proprietários da Livraria, o artista visual e escritor Amaro Abreu e o quadrinista e designer Pablito Aguiar, que falaram sobre suas criações em um final de tarde muito agradável. E Luana Alves e Kixi Dalzotto, parceiras na produção e divulgação. Merecemos. Porto Alegre merece.
Que venham outros momentos assim, pensei! E vieram!
“Mas vale muito alertar: não quero ensinar caminhos melhores ou piores. O objetivo é compartilhar minha história e o que aprendi com ela. A lição foi dura e é encorajadora”, diz o jornalista Daniel Scola no livro “Aluno da Tempestade – as lições da maior batalha da minha vida e como elas podem ensinar você” (CITADEL Grupo Editorial, 2024). No dia 10 de outubro, à tardinha, fui buscar o autógrafo deste cara que aprendeu e ensina – Vamos viver a vida! Scola divide os momentos difíceis que passou com o câncer, a jornada de tratamento e os aprendizados, através de um relato simples, despojado e comovente.
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No dia 26 de outubro, no meio da tarde, fui até a Livraria Clareira para o lançamento, com sessão de autógrafos, do novo livro do médico André Islabão, “A arte de espantar dinossauros – Como a Arte Pode Inspirar a Medicina” (Pelotas – Ballejo Cultura & Comunicação, 2025). O evento teve uma conversa do autor com o amigo, também médico e escritor, Fernando Neubarth, que assina a orelha do livro. Mais uma ocasião especial para reencontrar amigos, bater um bom papo e festejar a saudável mistura da medicina sem pressa com a arte, o que só faz bem. E não tenho dúvidas disso! Comecei a ler o livro nesta semana e já me identifiquei muito com o que diz André – “… a pandemia nos fez enxergar com clareza que nossa saúde depende em grande medida da saúde de todo o planeta. Nosso hábito sinistro de destruir a natureza e prejudicar a vida das outras espécies parece ter relação direta com várias epidemias”.
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Antes do livro do André, li “Ainda Estou Aqui” (Rio de Janeiro, Alfaguara, 2015), de Marcelo Rubens Paiva, que conta a tragédia vivida pela sua família, com o desaparecimento do pai Rubens Paiva, em janeiro de 1971, vítima da ditadura militar que sufocou o Brasil, e a busca incessante da mãe Eunice Paiva pela verdade. Um livro contundente que mostra a luta de uma mulher que ficou sozinha com cinco filhos, mas jamais desistiu de buscar a verdade. Marcelo escancara o horror que foi esse período da política brasileira, marcado por injustiças, perseguições, torturas e mortes. O relato é emocionante, revolta, inquieta, faz chorar e, ao mesmo tempo, alivia porque é uma história que precisava ser contada para jamais ser esquecida. O autor dá a dimensão do horror que muitas pessoas sofreram por reagir ao golpe de 1964 que submeteu o país a um regime de censura e morte, comandado pela frieza e pela crueldade de generais do Exército.
E na página 190 me identifiquei ainda mais quando li – “Ouvi a voz: ‘Vai, Marcelo, ser gauche na vida’.” Fomos! E estamos aqui.
É grande a minha expectativa em relação ao filme “Ainda estou aqui” – direção de Walter Salles, cineasta que admiro muito, com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, filha e mãe, que interpretam Eunice jovem e velha, já com Alzheimer, e Selton Melo, no papel de Rubens Paiva. Com possibilidades de ser indicado ao Oscar, o filme já comoveu públicos diversos em festivais de cinema no exterior e entra em circuito no Brasil em novembro.
Acompanhei a história desta família desde muito jovem, ainda ingênua, quando li a primeira reportagem sobre a tragédia em que viviam e fiquei muito chocada. Não tenho dúvidas de que vou me emocionar muito.
“A arte existe para que a realidade não nos destrua” – Friedrich Nietzsche, filósofo alemão.
E volto ao poder da arte, agora através da fala do comediante baiano Evaldo Macarrão, ao comentar no programa “Papo de Segunda” do GNT a discriminação que sofreu e sofre por ser negro: “A arte me tira da dor, me exorciza”.
Foto da Capa: Montagem / Acervo da Autora
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