Repensar o futuro. Sim, eu sei, tem dias que sequer a gente tem consciência do que vai conceber para o almoço, mas vamos lá, te pego pela mão. Juntas. Como você acha que as empresas serão no futuro? Ou melhor, o que você acha que nós, como empreendedores e empresas, podemos mudar ou estruturar hoje, para que o amanhã seja minimamente melhor do que o que nos apresenta. Parafraseando ilustres divindades, como ser um bom ancestral, frase de Grazi Mendes.
Claro que estamos falando de diversidade e de inclusão e, por óbvio, que trago a brasa para o assado do racismo institucional, compreendendo que você tem ciência e consciência da existência deste. Sua empresa não tem e nunca teve gestores pretos, você não possui colegas pretos, você nunca atendeu um cliente preto, você nunca recebeu ordens ou coordenadas para suas atividades de uma pessoa preta. É sobre.
Então, deixa eu te contar sobre uma ferramenta, uma tecnologia, uma inteligência, denominada letramento racial.
Bora para etimologia. Derivada da palavra inglesa “literazy”, origem latina em “littera”, letra, a arte de escrever. O letramento é educar, um processo de aquisição de domínio sobre algo, entender e compreender a linguagem como prática, dentro de um contexto específico.
Trago mulheres comigo e cá lhe apresentou Leda Tfouni, que em seu livro Letramento e Alfabetização, de 2006, sugere que este processo de aprendizagem está costurado com a identificação sobre o social: “O letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social.”
E pasmem, letramento racial, no Brasil, foi conceituado a partir do estudo sobre branquitude. É, meus queridos, foi a partir da compreensão sobre o privilégio, no campo da psicologia social, Lia Vainer Schucman na tese de doutorado – Entre o encardido, o branco e o branquíssimo. Raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana – nos direciona a esse processo de conhecimento: “A ideia de letramento está mais ligada a ideia de conhecimento do saber, da cultura envolvida. Seria, portanto, a competência de utilizar a linguagem adequada para cada situação social necessária” .
Repensar o futuro, pertence ao nosso presente, que deve se concentrar em desconstruir o que o passado mantém, no hoje, em tijolo e concreto sobre as paredes das organizações e empresas.
Letrar não é só ouvir. Existe uma evidente conjugação de verbos, portanto, demonstrar os compromissos, cocriar dentro do seu habitat maneiras de identificação, portanto, vai além de prévio reconhecer-se ou acesso à conteúdo.
Como aprender uma nova língua, letramento racial é conjugar o verbo todo dia e envolve levantar todos os preconceitos inconscientes, estereótipos e microagressões que estão embaixo do tapete de todas as empresas.
Gosto da compreensão sobre ser agente de mudança. Não é para qualquer empresa. É para todas. E sim, eu disse todas, fazendo uso de um pronome indefinido plural.
As empresas têm um papel fundamental na promoção de mudanças positivas na sociedade. Se assim não o fosse, não teria um artigo de lei que trata sobre a função social da empresa. Implementar o letramento racial, não é apenas colocar uma placa no saguão do supermercado, com um número determinado de frases bonitas que falam sobre tratar seres humanos com igualdade. #Ficadica
Chris Baladão, bicho raro, formada e por coração advogada, na época em que o curso levava sociais em seu nome, escritora por necessidade de expor a palavra, bailarina porque o corpo exige, professora porque a experiência da vida precisa ser compartilhada.
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