O caminho para a equidade não é fácil e requer um compromisso contínuo. É necessário reconhecer e enfrentar os desafios das lideranças negras, como destacado por Audre Lorde, que afirmou: “…não se pode desmantelar a mestria do opressor usando as ferramentas do mestre”. Isso significa adotar abordagens inovadoras e disruptivas para promover a justiça racial e o empoderamento das comunidades negras.
Ao abordar os desafios de maneira proativa e colaborativa, as organizações podem criar ambientes de trabalho com maior pluralidade, que valorizem e promovam o talento e o potencial de todos os seus colaboradores, independentemente de sua origem étnica.
Utopia minha? Talvez. Mas como disse Angela Davis (filósofa e escritora): “Não acho que tenhamos outra alternativa senão permanecer otimistas. O otimismo é uma necessidade absoluta.”.
O desenvolvimento pessoal e profissional é uma peça-chave nesse processo. Ao explorar temas como autoconhecimento, propósito e planejamento de carreira, as pessoas são capacitadas a assumir posições de liderança autênticas e inspiradoras. Com isso, investir na própria educação e desenvolvimento é fundamental para o crescimento pessoal e para a construção de um mercado de trabalho mais diverso e inclusivo.
Um olhar racializado
Neste sentido, propostas que apresentem um olhar racializado e diverso para o papel de uma liderança negra que ascende para posições de gestão e liderança em suas carreiras se tornam uma oportunidade ímpar de termos líderes que amplificam este processo, seja no mundo corporativo, em organizações da sociedade civil sem fins lucrativos ou em órgãos públicos.
Além disso, competências como inteligência emocional, comunicação e gestão estratégica são essenciais para uma liderança, desenvolvendo habilidades técnicas e comportamentais que promovam ambientes de trabalho mais colaborativos e acolhedores.
Como bem abordado por Bárbara Carine (professora e escritora): “Nós nos tornamos mais gente a cada novo processo de aprendizagem.”.
Para contribuir com esta jornada, a Blaxp, uma startup educacional que trabalha para acelerar a equidade racial no mundo do trabalho, desenvolveu uma formação híbrida (oferecendo aulas presenciais e online) chamada “Liderança para um novo amanhã: Uma formação para novas lideranças negras”.
As aulas presenciais serão realizadas no Instituto Caldeira, em Porto Alegre, com início em 22 de abril de 2024. O curso abordará uma ampla variedade de tópicos, desde conceitos fundamentais de gestão até competências avançadas necessárias para liderar equipes e alcançar objetivos organizacionais.
Atualmente estão sendo ofertadas 15 bolsas de estudos integrais para pessoas negras que buscam ascensão de carreira e almejam atingir posições de gestão e liderança. Para mais informações, basta acessar as redes sociais da Blaxp: Instagram | LinkedIn.
Uma sociedade mais equitativa
Em última análise, a formação de novas lideranças negras é um passo crucial na construção de um mercado de trabalho e uma sociedade mais equitativos e inclusivos. Ao investir na educação e no desenvolvimento pessoal, e ao promover práticas e políticas que valorizem a diversidade e a inclusão, podemos criar um futuro em que todos tenham oportunidades de sucesso, prosperidade e realização.
No contexto atual, principalmente quando falamos de Brasil, a ascensão de lideranças negras e diversas se destaca como uma necessidade urgente para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Afinal, estamos analisando um contexto em que mais da metade da população é negra e a proporcionalidade de ocupação de posições que influenciam em grandes tomadas de decisão ainda são extremamente díspares.
Para isso, é iminente uma busca constante por mudanças estruturais que promovam este processo de inclusão, pertencimento e equidade. Como já expressou Frantz Fanon (psiquiatra, filósofo e escritor): “O que importa não é conhecer o mundo, mas mudá-lo.”.
Neste caminho, destaca-se a formação de novas lideranças negras que tenham as ferramentas e a consciência necessárias para potencializar este movimento de mudança de maneira mais ágil, acelerando uma demanda da sociedade que, convenhamos, já deveria estar bem mais avançada. Uma pesquisa realizada pelo ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), com base em dados do IBGE e do Caged, é a prova disso. Ela identificou que a igualdade racial no mercado de trabalho será atingida somente em 167 anos se nada for feito, mesmo considerando os avanços ocorridos nos últimos anos.
E ainda corroborando sobre como o cenário atual é constituído, a autora Cida Bento (psicóloga e escritora) destacou em sua obra “O Pacto da branquitude” o quanto é primordial multiplicarmos a presença de lideranças negras no mundo do trabalho e na sociedade:
“As organizações constroem narrativas sobre si próprias sem considerar a pluralidade da população com a qual se relacionam, que utiliza seus serviços e que consome seus produtos. Muitas dizem prezar a diversidade e a equidade, inclusive colocando esses objetivos como parte de seus valores, de sua missão e do seu código de conduta. Mas como essa diversidade e essa equidade se aplicam se a maioria de suas lideranças e de seu quadro de funcionários é composta quase exclusivamente de pessoas brancas?”
Sabe-se há muito tempo sobre a importância da educação e da aprendizagem como instrumentos essenciais para o empoderamento de grupos sub-representados e, desta forma, oportunizando a atuação de lideranças negras em ambientes públicos e privados, enfrentando reflexos de uma série de desafios estruturais e sistêmicos que precisam ser superados. Alguns dos principais fatores que contribuem para essa falta de representação incluem:
- Obstáculos estruturais: As barreiras estruturais, como o racismo institucionalizado e os vieses inconscientes, continuam a limitar as oportunidades de progresso para pessoas negras em ambientes corporativos. Essas barreiras podem se manifestar em práticas de recrutamento e promoção tendenciosas, falta de programas de desenvolvimento de lideranças voltados para grupos sub-representados, além da falta de reconhecimento e valorização do trabalho e das contribuições de profissionais negros.
- Falta de acesso a oportunidades: Muitas vezes, pessoas negras enfrentam desafios adicionais no acesso a oportunidades educacionais e profissionais que são fundamentais para o avanço na carreira. A falta de acesso a educação de qualidade, cursos de idiomas, redes de contatos influentes e mentorias específicas pode criar uma desvantagem significativa no mercado de trabalho.
- Cultura organizacional excludente: Em muitas empresas, a cultura organizacional pode ser exclusiva e pouco receptiva a pessoas de diferentes origens e recortes de diversidade. Isso pode criar um ambiente de trabalho onde profissionais negros se sintam isolados, subestimados ou incapazes de avançar em suas carreiras.
- Falta de modelos de referência: A ausência de lideranças negras em cargos de destaque pode criar uma lacuna de modelos de referência para profissionais negros aspirantes. A falta de representação visível pode minar a confiança e a aspiração desses profissionais em alcançar posições de liderança.
Para superar esses desafios e promover uma maior diversidade e inclusão nas lideranças corporativas, é necessário um compromisso coletivo e abrangente, o qual inclui, entre outras várias possíveis ações:
- Implementar políticas de recrutamento e promoção humanizadas, afirmativas e intencionais.
- Desenvolver programas de desenvolvimento de liderança específicos para profissionais negros e diversos, incluindo estratégias de mentoria e saúde mental.
- Promover uma cultura organizacional inclusiva e equitativa, que valorize a diversidade e celebre as diferentes perspectivas e experiências.
- Investir em programas de conscientização e treinamento para combater o racismo, os preconceitos e vieses inconscientes, construindo ambientes que sejam realmente inclusivos.
- Criar oportunidades de networking e mentoria para profissionais negros, facilitando o acesso a redes de contatos influentes e oportunidades de crescimento profissional.
Para finalizar, cito Carolina Maria de Jesus (escritora e compositora), como uma forma de provocação e convite à reflexão para lideranças e potenciais lideranças negras:
“Ah, comigo o mundo vai modificar-se. Não gosto do mundo como ele é.”
*Ezequiel Alves é graduado em Comunicação Social, com MBA em Gestão de projetos, designer de aprendizagem e associado da Odabá – Associação de Afroempreendedorismo.
Leia mais textos de membros da Odabá aqui