Uma saudade de chorar convulsivamente, com soluços altos, nariz escorrendo, aquele choro do qual depois se sente até uma certa vergonha e que quase papel nenhum dá conta de secar.
Uma saudade de fevereiros ociosos, de esperar ansiosa pelo início das aulas, da escolha da agenda, do material escolar. Uma saudade difusa que não representa um desejo de voltar no tempo.
Por Deus, não! Tantas angústias também assolam a juventude, tanta incerteza sobre si, os contornos e limites. Tantos talvez afogados em meio a falhas certezas alheias.
Fica essa espera pelo começo do ano “útil”, dos afazeres que vão nos domesticando, mas também batizando. Difícil separar o que nos inaugura do que nos limita. Sou inaugurada em ousadias há pouquíssimo tempo, então ainda sou uma adolescente na maturidade das escolhas não usuais.
Mas o que seria ousar? O que é risco no privilégio de uma vida previsível e abastada? O que é perder tudo para quem tem teto? O que é experimentar o voo para quem só conhece chão?
Eu que não ousei dizer sim, eu que não ousei dizer não, que não ousei dar as costas, mas não ousei permanecer. Eu que não ousei gritar, não ousei também calar, me dando o privilégio da espera e da ponderação.
Eu que não ousei dançar no salão vazio, não ousei sentar em meio ao alarde histérico de festas vãs. Eu que não ousei te beijar impulsivamente quando teu fôlego me convidava para isso, eu que não ousei recusar o beijo vindo de quem eu já sabia ter lábios secos.
Ousei não limpar demais esse texto e nem as lágrimas que não são propriamente aquelas das quais sinto saudades, mas são minhas.
Se ousei não sei. É hora de enxugar o texto e secar as lágrimas.
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