Certamente você já viu muitas listas de coisas para fazer antes de morrer, lugares para conhecer, lista de coisas que devemos desapegar, dicas de como viver melhor e outras tantas do gênero. O filme francês “A Última Lição” mostra uma idosa com 92 anos que carregava consigo um caderninho com a lista das coisas que não mais faria: subir escadas, dirigir etc. Depois de assistir o filme eu tentei elaborar a minha lista de coisas que algum dia desejei fazer e que não mais farei, seja por falta de condições ou por decisão própria. Por alguns anos participei de equipes de corridas de rua, imaginava que um dia chegaria a correr uma maratona. Quando as dores na coluna apertaram, o médico recomendou parar com as corridas para poder continuar caminhando sem dor. Hoje caminho sem dor e me sinto bem, as vezes até fico tentado a voltar correr, mas depois retomo ao bom senso e coloco estas corridas na lista das que não vou mais fazer.
Inicialmente achei que este tipo de coisas acontecia apenas com os 60+, mas comentando com amigos bem mais jovens, descobri que tem muita gente dos 30+ que já colocou uma série de atividades na sua lista do “não mais fazer”. Uma amiga com trinta e poucos anos, que adorava andar de roller, me contou que já abandonou este esporte. Mas não são só atividades físicas, com o passar dos anos vamos abrindo mão de certos planos. Há quem desista de ter filhos, de criar o seu próprio negócio, de ficar rico, de conhecer 100 países, de fazer uma viagem para um local exótico ou coisas parecidas.
Desistir de um plano causa frustração? Pode ser que sim ou não. Em primeiro lugar é preciso ter consciência de que o nosso corpo atinge o ápice de desempenho físico antes dos 30 anos e que depois vai declinando. A descida pode ser mais ou menos rápida, dependendo da manutenção que fizermos. Depende da quantidade de ultraprocessados que comermos. Ops! Isto foi o tema de outra crônica. Em segundo lugar, podemos renunciar a um plano e substituí-lo por outro. Todos nós temos sonhos e desejos que não conseguimos realizá-los numa fase da vida, mas que podem ser implementados quando estivermos mais velhos. Uma pessoa me disse que não poderá mais praticar seu esporte preferido, mas quando se aposentar pretende se dedicar à fotografia, que é o hobby que ela adora.
Há cerca de 6 anos eu coloquei na cabeça que iria comemorar os meus 60 anos subindo o Kilimanjaro (5.895 m), a montanha mais alta da África, mas depois fui convencido pela minha pneumologista que correria risco de sofrer um edema pulmonar e ficar com sequelas. Optei por poupar os meus pulmões para outras aventuras mais brandas que eu ainda quero fazer. Acredito que podemos negociar conosco mesmo, ao cortar uma atividade, podemos compensar acrescentando outra na lista das que ainda desejamos fazer. E assim, não nos sentiremos frustrados, nem com a sensação de que estamos próximos da finitude. Trata-se de entender o momento da vida e as condições em que nos encontramos. Tem muitas coisas lindas possíveis de fazer que irão recompensar nosso cérebro. A vida pode ser emocionante subindo o Kilimanjaro, viajando de carro pela costa brasileira ou mesmo fazendo pequenos atos de solidariedade.
“A Última Lição” me mostrou que a primeira lição a fazer é identificar o que se tornou importante nesta fase da vida. Assim como é importante saber descartar coisas que não precisamos mais, precisamos aprender a descartar sonhos e desejos que faziam muito sentido no passado e não mais no presente. Um café com os amigos, um bom papo, conquistar a confiança de alguém tem um valor muito maior hoje do que nas conversas de bar que tínhamos quando jovens. Quando a vida nos tira alguma coisa ela nos dá outra em troca. Não se assuste com o que não fará, crie a lista do que ainda desejas fazer.