O que levou você a ler este texto? O fato de ter recebido o link? O tema ser do seu interesse? Por já ter lido outros textos meus? Ou será que você já estava pré-determinado a ler este texto mesmo antes de eu escrevê-lo? Essa decisão foi fruto do seu livre-arbítrio ou não? O livre-arbítrio é um tema muito debatido pelos cientistas e recentemente surgiram novas teorias. Eu resolvi trazer para você as principais correntes com seus argumentos para que possas ver com qual mais te identificas.
- Num extremo temos o “determinismo”, que acredita que tudo já está pré-determinado, que viemos aqui para cumprir um papel, sem ou com pouquíssima autonomia. Nesta corrente encontram-se alguns religiosos que acreditam que tudo que fazemos é por vontade de Deus, bem como alguns cientistas que acreditam que desde o Big Bang já estava tudo definido o que e como irá acontecer.
- No outro extremo estão os que acreditam que o livre-arbítrio é uma ilusão. Aqui destacam-se os estudos de Benjamin Libet, que já na década de 1980 realizou experimentos onde as pessoas apertavam um botão e somente meio segundo depois decidiam que iriam fazer aquilo. Ou seja, elas achavam que tinham decidido algo que já estavam fazendo sem saber. Libet concluiu que as ações podem começar no subconsciente e o que imaginamos ser nossa decisão é apenas um registro do que já foi decidido.
Recentemente o neurologista Robert Sapolsky, professor da Universidade de Stanford, declarou que “somos a soma do que não podemos controlar”. Ele não considera a possibilidade de escolha da pessoa sobre onde irá comer ou o que irá comprar como livre-arbítrio. Ele questiona o que fez esta pessoa optar por este tipo de restaurante ou o desejo de comprar este tipo de produto? É aqui que ele diz que o livre-arbítrio não existe, pois tudo o que a pessoa faz é uma consequência do que aconteceu antes. Em outras palavras, somos a soma da genética e do meio ambiente. Situações de estresse alteram o comportamento dos neurônios. Um tumor no cérebro pode mudar a conduta ética de uma pessoa. A variação hormonal pode tornar a pessoa mais irritada ou disposta a correr mais riscos. Hormônios regulam os genes, que por sua vez, se relacionam com a tomada de decisões. Segundo Sapolsky, são muitas variações que independem da vontade da pessoa e que interferem nas suas decisões. Nestas situações, onde está o livre-arbítrio? - A terceira corrente é a predominante, a que acredita na existência do livre-arbítrio. O nosso sistema de leis e moral diz que as pessoas são responsáveis por tudo o que fazem. Mas quem não tem o livre-arbítrio está isento. Por exemplo, se um doente mental cometer um crime não poderá ser condenado por não ter livre-arbítrio. Veja que a “liberdade da escolha” se torna uma penalidade.
Entre os que defendem a existência do livre-arbítrio, há os que relativizam admitindo a influência da genética e dos fatores externos, mesmo assim ainda restaria uma percentagem da responsabilidade da decisão que caberia a pessoa.
Num segundo nível de discussão estaria o que influenciou esta percentagem que tomou a decisão? Pensadores como Spinoza, dizem que as nossas condutas são influenciadas pelos afetos que ocorrem no nosso corpo e cérebro. Ou seja, as escolhas dependem dos afetos internos e externos, das memórias, das referências etc. Nos aproximamos aqui das interferências destacadas por Sapolsky.
Por fim, depois de pesquisar sobre este tema, acredito que somos menos livres do que eu imaginava. Admitindo que temos livre-arbítrio, mas que nossas decisões são influenciadas pela genética, pelo meio ambiente e uma “percentagem” é realmente de nosso livre-arbítrio. Seria justo tirarmos vantagem ou sermos punidos pela herança genética? Da mesma forma, as condições do meio ambiente que tanto pesam, não deveriam ser consideradas? Teoricamente, nós seríamos responsáveis apenas pela “tal percentagem” das decisões sob as quais temos livre-arbítrio, e isto parece ser uma pequena parte das decisões das nossas vidas.
Referências:
- O livro dos milagres: o que de fato sabemos sobre os fenômenos espantosos da religião (Carlos Orsi)
- O caldeirão azul: O universo, o homem e seu espírito (Marcelo Gleiser)
- O mito da liberdade (Skinner)
- Como a mente funciona (Steven Pinker)
- Cérebro e crença (Michael Shermer)
Foto da Capa: Gerada por IA
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